Capítulo 15

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 Acordei com um barulho. Era a tia Suzi. Ela saía do quarto, mas ao me ver de olhos abertos resolveu voltar.

- Está tudo bem? 

 Sorri com a pergunta.

- O que você acha? - a encarei.

- Conheço esse olhar e esse tom de voz, não seja irônica comigo, não hoje. - ela falou séria, de um jeito que eu jamais tinha visto.

- Por que você não me contou? - sentei na cama

- Ele não deixou, Eny. - vi seus ombros caírem.

 Revirei os olhos.

- Ele não precisava saber que eu estava sabendo.

Ela me encarou e respirou fundo.

- Não seja hipócrita, Eny. Você está me tratando mal por uma decisão que não foi minha, como fingiria não saber que seu melhor amigo iria morrer?

- Eu o amava, Suzi e nada nunca doeu tanto como o perder do nada, se eu soubesse... - mordi o lábio para segurar as lágrimas.

- Você iria antecipar sua dor - ela me interrompeu - o amor nos enfraquece Eny, você iria ficar pior do que agora, sentindo tudo por antecedência.

- Se o amor nos enfraquece talvez o mundo devesse ser fraco, não acha? O problema é que todos gostam de parecer fortes e escondem o que seria sua maior fraqueza, mas também sua maior virtude.

- Você pode está certa, mas isso não muda a dor, não a faz sumir, não a faz melhorar. - ela falou com tanta convicção que quase pude ouvir seu coração se partir.

- Porque essa função não é do amor e sim do tempo. O tempo faz melhorar, faz nos conformar. Se eu soubesse antes estaria conformada - a olhei nos olhos - assim como você.

Ela arrumou sua postura e respondeu.

- É diferente.

- Não é nada diferente. Você é a mãe dele, que o amou - dei uma pequena pausa, essa frase deveria estar no presente. - que o ama - corrigi. - mas você esta conformada ou está apenas se fazendo de forte, como todos, tentando esconder o amor e a dor em meio ao silêncio.

 Ela me encarou, com lágrimas nos olhos, prestes a transbordar. Tudo que ela estava segurando á horas veio abaixo. As lágrimas, a dor, o amor, a saudade e finalmente o choque de realidade.

 Ele não voltaria.

 A abracei forte, mesmo ela se negando a receber o abraço. Ainda naquele momento ela queria parecer forte. Mas nem sempre somos, nem sempre aguentamos tudo, nem sempre ignoramos a dor, nem sempre conseguimos nos ver sangrar. E ela cedeu, pediu desculpas e disse que sentia muito.

 Eu também sentia.

 Quando finalmente seu choro cedeu, sentamos na cama dele. O vento que soprou pela janela mais cedo soprou mais uma vez, fez seu cheiro reaparecer e dessa vez eu sorri. A tia Suzi olhou para trás, ela estava o procurando. Segurei sua mão e ela voltou a me olhar.

- É só o vento - ela falou.

 Sorri.

 Não era pra mim que ela estava falando, ela estava tentando convencer a si mesma.

- Eu sei - sorri fraco.

- Vai ser difícil agora, não sei mais o que fazer.

- Nem eu - suspirei.

 O silêncio nos envolveu e de repente, ela levantou com um pulo da cama.

- Mas eu sei o que você vai fazer.

 Correu até a porta e antes que saísse perguntei:

- Onde você vai?

 Ela parou na porta e sorrio fraco.

- Buscar algo que pode te ajudar.

- Me ajudar como? - franzi a testa.

- Só espera um pouco.

 Então ela saiu e eu fiquei sozinha mais uma vez, envolvida pelo cheiro dele e acorrentada aos meus próprios fantasmas.

"Eu estou bem."Onde histórias criam vida. Descubra agora