Capítulo 39

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  "Olá capitã, aqui estou eu novamente.

Primeiro: feliz aniversário e todas aquelas coisas que desejam nesse dia. Como você sabe não sou bom com palavras, então apenas finja que escrevi várias coisas bonitas e legais aqui.

  Tenho um presente pra você,  na verdade são três. Uma delas sua mãe irá te entregar, acho que você lembra da nossa promessa para a formatura, me desculpe por não ter cumprido, mas espero que goste do vestido porque eu sempre odiei. 

A segunda coisa é a verdade e espero que me perdoe depois que eu contar toda ela, de verdade, me perdoe. Sei que já me desculpei milhares de vezes por não ter te contado, por ter mentido e tudo mais, mas sempre é bom reforçar. Aqui do céu eu vejo que não me perdoou sinceramente e depois de ler isso... Bom, vamos continuar. 

  Quero falar sobre alguém chamado Guilherme, que eu espero sinceramente que tenha conhecido. 

Guilherme é filho do meu médico e teve momentos difíceis na vida, assim como nós todos tivemos. Seu pai era frio e depois da morte da esposa ficou ainda pior, mas tentava fazer alguma coisa para o agradar o que era quase nada. Vi nos olhos do Guilherme o quanto não parecia vivo, o quanto sua vida parecia vazia, sua mãe havia partido e seu pai estava cada vez mais distante. Quando ouvi seu pai falar que após concluir meu caso se mudaria, tentei mostrar para ele a tristeza nos olhos de seu filho. Sendo um pouco egoísta indiquei nossa cidade a ele e até uma casa. Então me aproximei do Guilherme, ele me contou um pouco de sua vida e lamentou o término repentino da minha.

Conversamos bastante e eu tive uma ideia maluca que resolvi compartilhar com os olhos assustados do Guilherme. Ele disse não, logo de cara, mas eu não desisti, claro que não desisti, você me conhece. Enchi tanto o saco dele que ele decidiu me ajudar, falou que seria bom ter algo a fazer já que mais nada fazia sentido. Em seus olhos eu vi esperança, Eny, como se o que tivesse pedido para ele fazer fosse capaz de curar um câncer, não foi bem isso, mas foi quase. Sei que até meu último suspiro serei grato a ele por ter topado, serei grato por não ter te deixado sozinha. Espero que ele esteja sendo legal com você como foi comigo, espero que não o afaste quando descobrir tudo. Ele não tem culpa Eny, nunca teve.

  Ah e quase esqueci a terceira coisa. Na casa do Guilherme,  mais precisamente em seu quintal, talvez você encontre algo,  talvez também precise de uma pá.

 Eu te amo pra sempre. 

 - Do seu fantasma Nien."


Estava no quarto de visitas na cama do Nien, que por algum motivo era a única coisa que ainda restava dele, seu cheiro não estava mais lá e não sei exatamente se fiquei triste ou feliz com isso. Li a carta mais duas ou três vezes e não parava de me perguntar como que ele conseguia ter tanta certeza que eu me afastaria do Gui quando descobrisse tudo. Será que eu era assim tão óbvia? Mas então lembrei como ele conhecia a mim melhor do que eu mesma.

  Uma tempestade se fazia lá fora, corri até a tia, pedi, chorei, esperneei e nada a fez me levar para casa. Voltei para o quarto e bati a porta com força. Sorte que o tio ainda não estava em casa.

  Eu precisava encontrar o Guilherme e próxima pista. Precisava pedir desculpas por ser tão cabeça dura e o dizer  que deixaria que me ajudasse.

  Senti uma palpitação, levei a mão até o coração e respirei fundo. Odiava aquela sensação.

  Peguei meu celular - que já estava descarregado - e procurei o carregador dentro da minha bolsa. Ótimo, havia deixado em casa e esteva brigada com a Suzi, não a pediria emprestado nunca.

"Eu estou bem."Onde histórias criam vida. Descubra agora