Cidade da morte

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Dezesseis anos e uma listinha de desgraças não-naturais. É. Daniel achava que já podia morrer em paz.


Os pais de Tyler eram pessoas excepcionalmente legais. Eles o haviam presenteado com um colar em formato de figa e outro com uma lua minguante. O garoto só conseguira agradecer timidamente.


— Eu não sei se você acredita de verdade nisso, mas nós sim. — Ella passara a mão em seu rosto. Era uma mulher baixinha de cabelos escuros e sorriso fácil. — Leve-os sempre junto a você. É uma proteção mágica.


Daniel aquiescera e amarrara as joias ao redor do pescoço. Elas ainda brilhavam sob o colar que o namorado o dera no baile da escola.


— São incríveis. — Foi seu único comentário.


Na manhã seguinte, o casal se foi para um passeio romântico na praia vazia. Tyler estava de cabeça para baixo no sofá quando encontrou-o.


— Você se importa se eu sair um pouco? — Daniel coçou a nuca. — Quero ir à igreja.


— É claro que não, cara. — Sorriu. — Quer um táxi? Eu te levaria se meu pai não preferisse morrer ao me ver pegar no carro.


— Você é menor de idade! — reclamou. — Mas não, não precisa. Tenho de andar um pouco.


Tyler entregou-o um pequeno molho de chaves e bagunçou seus cabelos, sumindo pelas escadas. O garoto vestiu o antigo moletom do namorado e abandonou a casa e o condomínio. A roupa de Nicholas ficava grande em seu corpo, as mangas largas e soltas de seus pulsos, caindo até metade das coxas.


Não havia um pé de pessoa na rua. Demorou quase meia hora para chegar até o jardim da igreja que frequentava com os pais desde que se entendia por gente. No dia de natal, Gregor preferia ir durante o culto da noite, apenas para que os filhos pudessem se divertir com os presentes. Não encontraria os pais lá, então estava tudo bem.


Daniel sabia que eles não contariam para os outros o que havia acontecido — seria uma grande humilhação para Gregor, como muitos outros homens falavam de seus próprios filhos. Acabaria apenas ouvindo que não devia ir sozinho, sem a família.


Acho que eu devia entender que agora não existe mais essa coisa de família. Na verdade, estava questionando a definição da palavra.


A porta lateral estava fechada, então ele deu a volta. A porta principal da construção era branca e existia um tapete vermelho até o altar. Lá dentro, na última fileira, Jessie esticou a própria túnica para ele. Daniel não sabia quando ela tinha voltado, mas, aparentemente, não fora aceita de volta no coral.


A menina ajudou-o a abotoar antes que o pastor Jerome visse.


— É sua agora — ela sussurrou.


— O que fizeram com você?

Saturno e o Astronauta Azul [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora