Nicholas acordou com o sol batendo em seu rosto, num terrivelmente quente dia de verão. Daniel espreguiçava-se na ponta da cama, os arranhões da noite anterior brilhando em suas costas, os cabelos emaranhados do travesseiro.
— Duas semanas e você tem dezesseis — resmungou, com a voz grossa rouca. — Parece animador.
— Não vamos passar o natal juntos dessa vez. — O menino virou-se e beijou-o no rosto, levantando-se em seguida. — Podemos pular para a parte da vida em que nos reunimos num apartamento escandinavo e comemoramos a data com os nossos amigos?
— Queria pular para essa parte também. — Ele sorriu, pegando as calças que lhe foram jogadas e vestindo-se. Daniel cobriu o corpo completamente. — Sabe outra coisa? Gosto quando fazemos assim.
— Reversar? É uma sensação maravilhosa. — Corou.
Eu nunca poderia expressar quanto.
— Vai para casa agora?
— Nós vamos para minha casa agora, porque me recuso a passar o dia sozinho. Vá se vestir, branquelo.
— E se eu me recusar?
Nicholas esticou-se sobre o colchão para puxá-lo para seu colo, sob uma gargalhada tremida do namorado. Daniel abraçou-o pelo pescoço.
— Eu sou apaixonado por você, sabia?
— Isso significa que vamos casar num domingo, na praia, andar de branco no altar? — O menino riu.
— É uma boa ideia.
Nick tomou a boca dele na sua, e mesmo de manhã tinha gosto de pasta de menta. Dani inclinou-se sobre ele, entregue e tremendo, como sempre fazia. Eram a fraqueza e a força um do outro.
— Nicholas.
Diz que você tem a capa de invisibilidade do Harry Potter, por favor, ele pediu para si mesmo quando aquela voz grossa balançou em seus ouvidos, espalhando adagas envenenadas por todo seu corpo.
Daniel afastou a cabeça, gelado, e escapou de seu colo para o outro lado do quarto, perto da janela e muito longe da porta escancarada. Nós não trancamos.
Ele saltou da cama para perto da escrivaninha.
— Se ele não for uma garota fantasiada de menino...
— Pai...
— Não! — Matthew ergueu uma gigantesca mão calosa. Atrás dele, Lia tinha grandes olhos assustados. — Eu criei você para ser um homem.
— Eu ainda sou. — Ele pôde sentir a voz oscilar, como um adolescente qualquer. Às vezes eu me esqueço disso.
— Não ouse — Matt trovejou. O garoto podia sentir o namorado perdido atrás de si, prestes a chorar. — Eu deveria ter desconfiado com aquele discurso ridículo sobre estar apaixonado. Era por ele?
— Aquele discurso não tem nada a ver. — Um passo para trás. Lia havia sumido. — Nada. Nada.
— Não tem nada a ver você ser a porra de um veadinho? — Nicholas não conseguiu responder ao grito, apenas fechou os olhos. — A culpa é sua. — Ele virou-se para o menino baixinho.
Daniel soltou um ruído sufocado.
— Você e essa sua feminilidade escondida... Por que eu deixei meu filho com gente feito você?
— Pai, chega — o garoto pediu, os olhos quentes de lágrimas. — Deixe-o em paz.
— Deixá-lo em paz? — Matt riu. — Ele te transformou numa coisa nojenta que gosta de pau. Por que eu deixaria isso em paz?
— Ele não me transformou em nada!
— Então foi você quem contagiou essa menininha disfarçada?
E eu não sou uma menininha!, Daniel gritara uma vez, em lágrimas. Só que agora só restavam as lágrimas mesmo.
— Eu devia matar os dois. — Matthew respirou fundo, fechando as mãos em punhos. Mais de dois metros de músculos e ódio sobre os dois garotos. — Isso só me prova a puta que você é.
Nicholas não percebeu que o namorado havia se escondido em suas costas.
— Chega, Matthew!
Matt apenas riu.
Nicholas esticou-se sobre a escrivaninha e enfiou a carteira na mão do menino, parando o pai com um braço. Todos os seus ossos acenderam pela dor do impacto.
— Eu disse chega.
— Eu decido quando chega — o home trovejou, empurrando-o para o lado para avançar contra o menino.
— Vai, Dani.
Daniel era pequeno e magro, e não foi difícil saltar pela cama e correr porta afora em desespero, escapando das mãos pesadas de Matthew. O problema foi que Nicholas encontrou-se sozinho no quarto com o rosto vermelho do pai.
Ele não lembrava a última vez que pedira por um protetor, mas agora pedia.
Matt virou-se pela pegá-lo pelo pescoço e erguê-lo para longe do chão, vinte centímetros acima. O garoto podia sentir as lágrimas escorrerem.
— Eu vou matar você.
— Tá esperando o que, então?
Ele só lembrou-se de sentir o impacto do soco e do chão. E então mais nada.
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Saturno e o Astronauta Azul [COMPLETO]
Fiksi RemajaNicholas é um garoto prodígio. Mais alto, mais bonito e mais inteligente que os outros de sua idade, pivô do time de basquete da escola e orgulho do pai exigente. Ele segue para ter o ensino médio perfeito, sem pedras no caminho. A não ser uma: Dani...