Mistério do amor

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Estava atrasado meia hora. E, ainda assim, não sentia vontade de levantar. Nicholas encarava os portões da escola com o queixo apoiado nos joelhos, em silêncio. Nem mesmo Lola conseguira tirá-lo de lá.

Era sexto dia seguido que Daniel não aparecia na escola, e o loiro não tinha coragem alguma de aparecer na casa dos Rodriguez-Dewes para conversar com ele, resolver tudo. Ao chegar à manhã, sentia-se arrependido de ter feito o que pedira, então tocava os próprios lábios e esquecia a falta por tempo suficiente.

Eu fiz o que queria e, diferente daquela vez que transei, quero fazer de novo. E de novo até não poder mais.

— Nick, você vai ser suspenso — Lola surgiu atrás dele, ajoelhando-se. — Ele não vem hoje.

— Como você sabe?

— É meio claro, afinal. Faz mais sentido você trazê-lo. — A menina acompanhou o olhar dele. — Não me disse o que aconteceu.

— Nós nos beijamos. Então ele fugiu.

E no fundo, juro que a culpa é minha.

— As pessoas ficam apavoradas quando dão o primeiro beijo, sabia? Eu chorei no meu.

— O meu foi... Tranquilo. — Ele encolheu os ombros.

— Mas é porque o seu faz quase cinco anos, Nick, e foi porque Lia pediu. Primeiro beijo com a madrasta não vale.

Nicholas corou violentamente.

— O que você quer que eu faça, então?

— Nah, converse com ele... Depois da aula, por favor. Não quero ficar lá sozinha.

Ele sentou-se no lugar de Daniel, e a sensação foi fodidamente estranha. Por tantos anos, o baixinho sentava-se ali, ao lado de todas as janelas, e Nicholas ficava atrás, sempre atrás. Em todo esse tempo, o loiro nunca tinha reclamado, porque era algo quase certo sobre os dois. Dani ficava na frente e ele às suas costas.

O dia arrastou-se como uma lesma, e nem mesmo as piadas de Tyler no intervalo foram o suficiente para tirá-lo do seu pequeno fosso.

— Você está um porre, Nick. — O garoto cruzou os braços. Conheciam-se há pouco mais de sete anos, tinham quase a mesma altura e conversavam diariamente desde então. Ele era legal, uma das melhores almas naquela escola, embora o loiro não conseguisse prestar atenção em suas palavras agora. — Devo me preocupar?

— Você deve me dar uma garrafa inteira de cachaça podre.

— Trago amanhã. — Gargalhou. — Posso te ajudar a sair daqui, se quiser.

— Me atirando através do muro?

Saturno e o Astronauta Azul [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora