Terra

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O que você fez com os meus olhos?

Nick e os pais haviam saído no início do dia, e o garoto passara a manhã de natal ouvindo Jacob e Sally xingando filmes de fim de ano, tentando miseravelmente ligar para o namorado. Fazia apenas trinta minutos que a menina o obrigara a ser maquiado e vestido como um digno senhor de inverno, com um manto branco e luvas douradas. Agora entendia as horas só.

Ele encontrou Matt e Lia na última fileira, com suas pequenas filhas batendo as mãozinhas para o antigo amigo. Do outro lado, a avó baixinha e as tias Mikaela e Karin sorriam em seus vestidos escuros de inverno. E havia Nitta e sua namorada, e Jonna e Greta, e Tyler e Lola, e Jake e Sally, e Juliet e Elliott e Henry e Greer pareciam um casal daquele ângulo. Estavam todos dispostos em cadeiras de madeira escura, com um sulco entre elas para que o garoto passasse através da neve caindo.

É, cara. Você vai casar.

Daniel sentiu as árvores brancas girando enquanto dizia a si mesmo para dar um passo de cada vez, o manto grande demais arrastando no gelo. Juliet fez uma reverência quando parou ao lado dela. Vestia um longo e cheio vestido pérola como se fosse ela a noiva, como... como uma rainha de inverno. E Elliott sorria para ela, do jeito que sempre sorria.

O sol morria atrás das colinas e as tochas iluminavam a floresta, os cachorros estavam em fileiras perto das almofadas no chão, quietos. Na grande árvore principal do lugar, piscas-piscas azuis a transformavam em algo quase natalino, a não ser... a não ser pelo fato que embaixo de suas folhas havia um grande criatura pálida e... padre Owen.

Nicholas esticou a mão quando chegou perto, e se não a tivesse segurado, cairia miseravelmente e bateria o rosto em algum lugar. Daniel não lembrava a última vez que estivera tão nervoso, a ponto de não sentir as pernas.

Ele ajoelhou-se na almofada vazia, de frente para o namorado. Seus dedos estavam gelados dentro da luva. Apesar de tudo, Nicholas sempre o deixaria nervoso.

Sabe, faz muito tempo que não penso nas músicas da Whitney Houston.

— Podemos começar? — cantou padre Owen, e os dois homens na primeira fileira se entreolharam e concordaram.

— Feliz aniversário — sibilou Nick. O menino riu e balançou a cabeça, apertando a mão dele. — Oi, baixinho.

— Oi, Ni.

Daniel conseguia ouvir uma música fina ao fundo, um violino junto a um piano suave num som ali perto. O vento de inverno balançava os cabelos do ruivo de um lado para o outro, as luzes azuis piscavam nas folhas mortas, o sol sumia. De repente, toda iluminação que tinham eram as tochas.

Padre Owen fazia um breve ritual com palavras sobre amor que lia num pergaminho em seu colo, a música ainda rodava, os garotos mantinham seus dedos entrelaçados o processo inteiro, mesmo que... às vezes não escutassem. Dani só conseguia prestar atenção no namorado. E em como a neve caía lentamente sobre ele, acumulando em seus cabelos pintados de ruivo, na barba rente ao rosto, no manto negro em seus ombros. E em como ele era a coisa mais incrível que existia.

Casamos quando completar dezoito e está tudo resolvido.

O menino levantou o rosto para que os flocos tocassem sua pele. Passara tantos anos se imaginando e vivendo numa praia num dos países mais quentes do mundo que aquele gelo parecia quase um sonho ridículo de quem via filmes de natal repletos de neve e roupas pesadas. E agora estava ali.

— Eu gostaria de chamar minha pequena amiga — disse o padre, levantando uma mão.

Ah, porra.

Saturno e o Astronauta Azul [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora