V: É o sinal dos tempos

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— Eu me sinto nos anos sessenta! Olha isso! — Sally escorregou pelo chão assim que entraram na lanchonete vintage, apoiando-se num banco. — Acho que nasci na década errada. No milênio errado.

— Você não sobreviveria um dia sem aquele VHS, Sah. — Jacob revirou os olhos e caiu sentado ao lado da janela. Só um casal estava no lugar. — Espero que o proprietário saiba que vamos dar prejuízo.

— Se não for para acabar com o estoque de comida, eu nem venho. — Sally esticou as pernas no banco, deitada entre as coxas do namorado, e sorriu para a garçonete rosada. — Pode trazer quatro do seu maior combo?

— Bebida?

— Troque por milk-shakes de morango. — Jonna piscou. — Por favor.

— Eu nunca tive tanta fome na minha vida — reclamou Nicholas assim que a moça saiu. — Nem mesmo depois do nacional foi assim.

— Queria ser como vocês, mas eu engordo só de olhar para a placa do Mcdonalds, mas vida que segue. Vocês ganharam?

— Nop. Perdemos para um time de Sydney. — Deu de ombros. — Pelo menos ganhamos um jantar caro.

E o Daniel pôde participar como meu acompanhante.

— Não existe nada melhor que coisa cara paga por alguém que não é você mesmo. — Jake bateu no braço do irmão mais novo. — Eu contei para vocês que minha mãe está trabalhando num novo anticoncepcional?

— Mais um?

— Bem, é, mas ela disse estar tentando diminuir as chances de trombose. Minha tia quase morreu por isso no ano passado.

— Ainda bem que eu sou lésbica. — Jonna cutucou o jukebox. — Lamento por vocês que se relacionam com homens.

— Eu me relaciono com um homem e não vou engravidar. — O ruivo empurrou a garota pálida. Ela socou o botão.

— Meus ovários são comicamente deficientes, mas nós ainda usamos camisinha. Minha mãe não pode saber, então sem anticoncepcional para mim. — Sally abraçou as mãos do namorado. — Espero que ela consiga. Nós precisamos disso.

— E talvez algum dia ela crie um masculino também. Conheço um bando de macho chato que precisa morrer de trombose no coração.

Nicholas não lembrava a última vez que comera tanto, nem a última que rira até doer sem o namorado ao lado. Inger estava realmente ajudando, embora ele passasse a maioria de seus dias entediado e trancado no quarto e desenhando sua antiga vida pelos cantos, e aquela era uma noite boa. Só não sabia se pensaria na mesma forma na manhã seguinte.

Apoiou o braço na janela e encarou a neve no chão. Esperava que nevasse assim no Halloween.

— Nick, o céu.

Ele levantou o olhar para a escuridão um instante antes de tudo virar uma aquarela de diferentes tons de verde e vermelho. Em Cahi, tinha um nascer do sol. Ali, tinha a aurora boreal. E, nos dois, ele tinha uma constelação por trás, aparente ou não.

O flash da câmera ecoou sob a música no jukebox. Nicholas piscou.

— Isso não me faz parar de odiar física — disse Sally.

Saturno e o Astronauta Azul [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora