Prólogo

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"Garotos só viram homens quando fodem alguém. Com força," Matt avisava-o desde que se lembrava, erguendo o dedo em riste e gargalhando histericamente depois. Nicholas balançava a cabeça como seus pés balançavam longe do chão, e nunca contestava o pai. "Lembre-se: o papai está sempre certo", sua madrasta Lia cantarolava.

Ele se perguntava o que ela queria dizer com papai. Às vezes, quando acordava no meio da noite, ouvia-a gritando aquilo repetidamente do quarto dos dois e precisava tampar as orelhas para voltar a dormir. Na manhã seguinte, Lia repetia a frase docemente.

"E se eu não quiser foder alguém, pai?", ele tivera a ousadia em algum momento dos seus dez anos. Matthew não ficara feliz e mandara-o calar a boca; depois, presenteara-o com uma coleção de filmes pornográficos que nunca teve a coragem de assistir. As capas eram cobertas de mulheres nuas em posições extravagantes e fantasias sensuais, mas ele nunca se sentira excitado ao vê-las. Eram parecidas demais com as namoradas do pai para sentir algo.

— Por que você não faz com a Greer? — Matt perguntou-o no jantar do domingo, sorrindo para a noiva. Nicholas abaixou os olhos. — Ela é boa e gosta de você.

— O senhor olhou para a bunda da minha namorada, pai? — ele resmungou, tendo a decência de corar.

— Homens olham bundas, Nicholas — justificou-se. — É assim que nós somos.

Eu nunca olhei uma bunda assim, ele quis gritar.

— Faça com ela. Na sua idade, eu já era conhecido nos bordéis da minha cidade.

Nicholas coçou os olhos e assentiu para o pai, calando-se. Se insistisse naquele assunto, era capaz de ser arrastado para um centro de prostituição e trancado num quarto a noite toda com cinco mulheres vinte anos mais velhas totalmente desconhecidas.

Greer Santiago era uma menina baixa de olhos circulares e pele blue, como uma maravilhosa e sensual Barbie negra. Nicholas era três anos mais novo que ela e estudava com sua irmã caçula desde que chegara à cidade.

Ela estava sentada no jardim da escola quando chegou no dia seguinte, atirando uma bola roxa de uma mão para outra distraidamente. Ele beijou-a de surpresa.

— Hey, Nick — Greer sorriu seu sorriso de dentes pequenos. Era uma das poucas que o chamavam pelo apelido. — Você me parece estranho hoje. Não arrumou o cabelo.

— Você percebe meu humor por causa do meu cabelo? — ela mordeu a boca e assentiu. — Meu pai me deu um pacote de camisinhas com sabor ontem.

— Isso é um convite? — sua Barbie negra ergueu uma sobrancelha.

— Vai parecer grosseiro se eu disser que sim?

— Você paga a pílula? — Nicholas arfou, revirando os olhos, mas balançou a cabeça. — Não vai, não. — ela ficou de pé, tocando seu queixo. — Espere-me na padaria depois da aula. Acho que convenço a Santana a mentir para os meus pais.

— Eu não sabia que era simples assim, Ge — coçou o rosto, corando. Nos filmes, era sempre um longo processo de conquista.

— Você é meu namorado, Nick. Namorados transam.

Santana realmente foi convencida (depois de duas coxinhas e uma barra de chocolate como pagamento) e, no início da tarde, Greer estava segurando sua mão enquanto desciam a rua para longe da cidade. Matthew optara por uma casa a quase um quilômetro da linha de trem, num bairro que ainda era metade vazio.

Nicholas descobriu que ela não era virgem e que aquilo era melhor que qualquer camisinha cara e brilhante. Ele apenas se deixou enterrar entre as pernas dela e fechar os olhos, tentando lembrar-se de tudo que seu pai falara ao longo de doze anos. Para frente e para trás, para frente e para trás.

Greer enroscou-se em seu corpo sob o lençol quando terminaram, desembaraçando os nós de seus cabelos com os dedos delicados. Ela beijou-o na testa, sussurrou que foi bom e fechou os olhos. Nick observou seu rosto plácido por um momento antes de sair de cima dela.

Ele sentou-se na bancada da cozinha com uma xícara fumegante de chá nas mãos, batendo os dedos no mármore. Através da janela, uma brisa fresca afastava as gotículas de suor de sua testa.

— Eu espero que a garota nua na minha sala signifique que você virou homem, garoto — Matthew apareceu na porta, fumando um cigarro. Ele sempre voltava para casa mais cedo na segunda-feira.

Nicholas moveu as sobrancelhas rapidamente.

— Acho que estou orgulhoso de você, meu filho — ele apertou seu ombro com força, sorridente. — Um verdadeiro Rice.

Meu sobrenome é Valentine, ele quis retrucar. Sempre preferiria levar o sobrenome da mãe ao do pai.

— É. Talvez eu seja — Matt riu.

— Ela é boa? — Nick pensou por um momento se deveria ou não falar algo.

— Ela é macia.

Seu pai gargalhou alto e bateu-o no braço.

— Se precisar de lubrificante para o próximo nível, é só pedir.

Eu não vou para o próximo nível, se sexo quer dizer só isso, ele quis responder, mas apenas tomou o chá enquanto o pai tagarelava.


Saturno e o Astronauta Azul [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora