Seu fantasma

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Daniel abandonara o blazer da escola na cama e se cobrira com o moletom surrado do My Chemical Romance que o namorado deixara, o cheiro forte de perfume masculino ainda nele. Era a única maneira de ter Nicholas por perto sem se sentir apavorado.

Lola recebeu-o com um abraço apertado na sala e ficou de joelhos na cadeira. Ela sempre parecia feliz e positiva, mesmo que estivesse num de seus piores dias. Como aquele, em que a dor em seu corpo era clara.

— Sabe qual é o lado bom? — O garoto deitou-a em seu ombro. — Você não está grávida do Tyler.

— Eu assumiria o meu filho, se quiser saber — resmungou o brasileiro.

— Não faria mais que a obrigação — reclamou Lola, de olhos fechados. — Isso é uma boa notícia. Odiaria parir aos dezessete.

— Parece doloroso.

— Se não fosse não teriam inventado a cesárea, mas aí lembro que ela é bem pior. — Suspirou. — Não estou grávida do Tyler e, se estivesse, quem ia criar o filho ia ser ele.

— Obrigado por isso, Lola. Vou pôr quinze camisinhas


da próxima vez.

Nicholas diria que isso é estupidez, porque elas vão rasgar, mas Nick não estava ali para corrigir as pessoas e reclamar do amigo brasileiro.

— Enquanto vocês decidem o nome de um feto que não vai nascer, eu vou fazer algo que vale a pena.

Nós já conversamos sobre ter filhos uma vez, mas fora constrangedor demais para acontecer de novo. Ainda eram jovens e, na maioria das vezes, Daniel se achava incapaz de cuidar de uma criança.

O banheiro era sempre vazio antes da aula — ninguém matava ali. O garoto enfiou o rosto embaixo da torneira. Entre o primeiro e o segundo horário, ele e o namorado sempre davam um jeito de entrar, Nicholas limpava o rosto e o abraçava pelos ombros de frente para o espelho. Era deprimente pensar nisso agora.

Daniel encarou a própria destruição. Em algum momento, havia sido um garoto sanguíneo e corado. Agora era apenas apático mesmo.

— Onde foi parar o seu segurança?

Não é só com Aurora que as coisas brotam do nada, afinal.

— Vai encher a porra do saco essa hora da manhã? — O garoto virou para encontrar Paul e sua nova trupe logo atrás, o coração batendo rápido. Não importava quantas vezes falasse como Nicholas, nunca seria assustador como ele.

— Eu não falaria assim se fosse você. — Um passo para frente. — Pode se machucar.

Saturno e o Astronauta Azul [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora