Depois da escola, Daniel beijou a melhor amiga no rosto e levou a bicicleta até o outro lado da cidade, onde a igreja barroca ficava. O único dia que ele não ia até lá era o domingo, quando o padre guiava três missas, uma em cada turno. Eles sempre almoçavam o que a mãe de Owen mandava, encarando o jardim.
Era um treinamento, embora o garoto não soubesse exatamente para que. Apenas seguia.
O homem santo estava sentado na mesa do jardim, com o vento batendo em seus cabelos acastanhados. Ele era a personificação da pureza que abandonara a humanidade muito tempo atrás.
— Você está calmo hoje. — Owen abriu os olhos e as mãos para a comida. Era vegetariano, e o garoto se tornara um pescetariano graças à convivência com ele e a família de Tyler, e assim estava bom. Não sentia falta de muita coisa. — Isso é bom. Como foi o festival?
— Eu encontrei meus irmãos e mandei a esposa do pastor cuidar da própria vida. Foi legal.
— Isso me parece grosseiro.
— Não fui grosso, juro, só a mandei parar de se meter. — Ele corou ao sentar-se. — Mantive o tom, como você ensinou.
— Essa parte é boa, mas você poderia ter agido de outra forma, Daniel.
— Que outra forma? Ela tratou a Mel como um cachorro!
— Sinto muito por isso. Sei que é cruel, em especial porque a menina é pequena — suspirou o padre, inclinando-se para a frente. — Mas você precisa ser proativo, Daniel, não reativo. Tente ignorá-la da próxima vez. As pessoas tendem a parar de agir da forma que as coloca de lado.
— Tendem?
— Absolutamente. Se você gosta de contar piadas sobre loiras, mas ninguém ri delas e vira a cara, você tende a parar. Ignorar gente idiota é o melhor caminho para a sanidade.
— Eu quero a sanidade, apesar de não achar que vou consegui-la tão facilmente.
— Não existe um caminho fácil, existe um caminho melhor. Toda evolução é difícil.
— Percebi isso esses dias. — Ele mordeu a língua. — Padre, você acha que... se eu encontrar o Nicholas de novo... as coisas vão ficar bem?
— Tem se tornado bem direto, Daniel. — Owen sorriu de canto. — As coisas nunca serão como antes, mas não terão mudado também.
— Isso me parece um paradoxo.
— Parecer não significa ser. — Suas expressões eram magníficas. Era como se sempre soubesse o que estava falando e fazendo. — Faz oito meses desde a última vez que o viu, mas o conhece desde muito pequeno. Seu namorado não vai mudar da água para o vinho e se tornar alguém completamente diferente, mas não espere encontra-lo da mesma forma.
— E como acha que vou encontra-lo?
— Se ele for muito bom, vivendo como um ser humano normal que chora durante a noite. Se ele não for bom, destruído. Depende.
Daniel pensou e pensou. Nicholas era o cara mais controlado que conhecia, colérico e havia aguentado Matt a vida inteira, então era óbvio que estava bem.
— Acho que ele está melhor que eu.
— Não compare a si, meu filho. São pessoas diferentes que reagem de maneiras diferentes perante o mesmo problema.
O garoto levantou a cabeça de seu prato. Mil anjos cantando.
— E você está muito bem, Daniel. Nunca pensei que lidar com um evangélico seria tão fácil.
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Saturno e o Astronauta Azul [COMPLETO]
Teen FictionNicholas é um garoto prodígio. Mais alto, mais bonito e mais inteligente que os outros de sua idade, pivô do time de basquete da escola e orgulho do pai exigente. Ele segue para ter o ensino médio perfeito, sem pedras no caminho. A não ser uma: Dani...