Redenção

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Nicholas sentou-se no sofá da sala com o envelope em mãos, ainda lacrado. Havia recebido o resultado das mãos do diretor, o homem encarara-o friamente e depois saíra, e agora ali estava, de frente para os pais e o irmão com o nervosismo comendo suas entranhas.

Fizera a prova para a universidade três semanas antes, depois de ser convocado por causa das boas notas e o campeonato de basquete do ano anterior. Não que ele estivesse muito animado para assinar o nome num curso superior, mas era uma chance que não sabia se teria depois. Não podia atrasar a faculdade.

Juliet sentou-se na mesinha de centro e segurou-o pelo pulso.

— Está tudo bem. Se não tiver passado, pode tentar de novo.

Nicholas respirou fundo e abriu o lacre. O papel fez um barulho doloroso. Jacob mordeu a boca ao lado dele.

— Resultado?

— Acho que vou ser o primeiro professor de História dessa família.

Ele não se lembrava de ver a mãe tão aliviada com uma nota.

— Eu preparo o jantar! — avisou Elliott, arrastando o filho para longe da sala para deixar os dois sozinhos. O ruivo encarou a folha.

— Vai se dar bem lá. Você sempre foi estudioso.

— Eu não estou pensando sobre os estudos. Essa parte é fácil. — Ele apoiou o queixo no punho. — É que... o Daniel. Você acha que ele pode passar também? Numa língua diferente, país diferente e... tudo diferente?

— Acho que ele pode fazer qualquer coisa se você estiver com ele.

Nicholas beijou a cabeça da mãe e deixou o envelope com ela, subindo as escadas. Queria sentir-se animado, mas não conseguia. Talvez fosse o estresse e a ansiedade.

Precisava ligar para o namorado, mas o recesso de inverno ainda não havia começado. Poderia esperar até a noite.

Ou talvez o telefone tocando fosse ele.

— Dani?

— Sua voz está muito grossa, afinal. — Não era Daniel do outro lado. Certamente.

Ah, vai se foder.

— Pai?

— É. Eu devo ser essa coisa também. — Matt suspirou. Tinha a voz oscilante.

— Você está bêbado de novo? — O garoto sentou-se no tapete e encostou as costas na cama.

— É claro que não. Você sabe que não bebo em dia útil.

— Então por que está falando como se estivesse bêbado?

— Algumas vezes acontece. — Ele fungou, sob um barulho de risada. Parecia um bebê. — Seu namorado esteve aqui há algumas semanas.

— O que merda ele estava fazendo aí? O que você fez com ele?

— Eu não fiz nada. Nós conversamos e depois ofereci um café. Nunca parei para pensar como era um bom garoto.

— E por que está me dizendo isso agora? Lia te largou e você está sozinho?

— Numa casa com três mulheres, a última coisa que eu posso ficar é sozinho. É torturante.

— Três mulheres? — O garoto pensou um pouco, coçando a nuca. — Ah, são gêmeas. Sinto muito.

Nicholas suspirou ao mesmo tempo que o pai do outro lado da linha.

— O que você quer?

— Eu não sei. Só passei o último ano percebendo o quão vazia e escura essa merda de casa fica sem o meu filho, mesmo com as meninas. Você é meu primogênito, afinal.

— Não foi isso que você disse quando me chutou.

— Eu não disse muita coisa muitas vezes, mas aqui estamos nós. Nunca soube o que estava fazendo mesmo.

— Acho que isso é coisa de família. Eu também não sei o que estou fazendo.

Matt ficou quieto um instante.

— O que a gente fez, pai?

— Exatamente o que não deveria ser feito. — O garoto aquiesceu como se pudesse vê-lo. Lembrava as poucas vezes que haviam sentado à mesa do jardim para conversar.

— Sinto muito por ter escondido tudo aquilo de você.

— Sinto muito por ter sido um pai de merda.

— Está tudo bem. — Ele suspirou. — É. Está tudo bem.

Saturno e o Astronauta Azul [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora