Carruagem

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Daniel apertou a blusa do namorado enquanto desciam a colina para o lago. Embora fosse outono, Arien não estava congelando como normalmente, de acordo com Jacob.

— O que faremos, Ni?

— Ficar um pouco sozinhos. — O ruivo virou-se, com o braço ao redor de sua barriga. — Não sei o que falar para você, Dani.

— Não precisa. — O garoto piscou.

Daniel soltou o namorado e saltitou até o lago, molhando as botas. O vento ali tinha cheiro de terra molhada e a sensação era de estar afundando num mundo de fantasia. Parecia uma nova casa que ele estava excitado para conhecer.

— Quer entrar? A água está quente hoje.

— Na verdade, eu quero sim.

Nicholas tirou o manto negro dos ombros e passou a blusa pela cabeça. O latino corou violentamente ao tirar o moletom e a própria blusa, encabulado em mostrar-se nu para alguém em tanto tempo. Mesmo que esse alguém fosse o homem mais incrível do mundo.

— É a primeira vez que você cora o dia todo.

— Aprendi a controlar isso, acho. — Mas fica difícil quando você tira a calça na minha frente. — Foi bom para mim.

— Eu gosto quando você cora.

— Ainda é a única pessoa que me faz ficar assim.

Dani tirou o resto das roupas e entrou no lago quente esfregando os braços. Embora Nick estivesse ali e a saudade ainda massacrasse seu peito, o quadro na parede do quarto ainda batia em sua cabeça.

— Amor, você viu, não foi?

— Um garoto extremamente parecido comigo encostado no seu peito com um sorriso de "olha só, estamos juntos"? — disparou, a voz oscilando. Fazia meses que não falava tão fino assim. — É. Eu vi. Obrigado por manter aquela coisa na frente da sua cama.

— Ele é meu armador e minha dupla! Não estamos juntos, mas não vou sair empurrando o garoto.

O menino respirou fundo.

— Você nunca teve ciúmes de nada. É mesmo por causa da foto?

— Eu passei dois anos achando que você estava com alguém e isso só reforça minha teoria. Que eles conseguiram te fazer pegar alguém do seu nível e me colocar de lado. — Cruzou os braços. — É difícil estar com você, sabia? Porque ninguém quer isso. Meus pais não, seu pai não, a escola não, o mundo não. E é um inferno pensar nisso.

— Dani, pensei que quem devia querer nós dois juntos fosse nós dois, e não uma massa de gente que não interessa.

Daniel suspirou para o lago em suas coxas. Nick parou ao seu lado, tocando seus dedos.

— Ainda é a mesma criatura assustada que eu conheci, não é?

— Talvez um pouco. Talvez isso seja culpa sua. — Empurrou as lágrimas das bochechas. Estava chorando mais do que deveria. — Eu... A vovó morreu, Nicholas. Meu pai me expulsou do enterro e minha mãe disse que não ia me aceitar como seu filho de novo. Você tem ideia do que é imaginar ficar sem você também? Imaginar que essa merda aqui pode acabar porque o mundo vai sempre ser contra a gente?

O ruivo engoliu visivelmente.

— Eu não sabia que mama tinha... morrido. E sinto muito. — Ele segurou-o no rosto, virando seu corpo totalmente. Encará-lo ainda era... difícil. — Quantas vezes eu disse que isso não vai acabar?

Saturno e o Astronauta Azul [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora