Mercúrio

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Nicholas não soltou a mão do esposo por uma hora inteira, balançando a perna em que Melissa estava sentada. Claire inclinava-se sobre o prato do latino, mordiscando os doces que alcançava. Podia soar ridículo, mas ele esperava não serem irmãs em dez anos.

Matt encarou o filho com um sorriso de canto.

— Elas gostam de você. — Ele parecia constrangido perto de Juliet e Elliott, que riam com Mika sobre alguma coisa. — Não gostam muito de pessoas.

— Elas amam você, pai. Olha isso. — O ruivo apontou para Nicole e o modo como ela mexia nos fios castanhos do pai. Matt segurou-a no colo. — Criou duas coisas lindas.

— A mãe dele fez todo o trabalho. — Lia conversava com Nitta do outro lado. Talvez ela fosse tão maravilhosa quanto Juliet falara, afinal.

— Não seja modesto. Você sabe que está fazendo um bom trabalho.

— Ni, como eu faço uma criança parar de chorar? — Daniel cutucou-o, esticando uma Claire pedinte. Ele não é bom com crianças além dos irmãos, então acho que encontrei meu papel.

— Dê ela aqui. — Lia pegou a filha com uma expressão cansada. — É fome. Eu já volto.

— Onde pensa que vai? — Juliet virou a cabeça subitamente e a mesa inteira calou a boca. A garota corou um pouco.

— Vou amamenta-la.

— Lá fora? Na neve? — A mãe de Nicholas riu e esticou a mão para ela. — É uma mesa de jantar. Deixe-a nos acompanhar.

Lia encarou a mão estranhamente antes de pegá-la e sentar-se, expondo seu seio para que a filha o tomasse. Matt olhou para o primogênito com uma sobrancelha erguida. Ele vai amá-la pela eternidade, merda.

— Supere isso, pai — sussurrou.

— Acho que superei hoje — suspirou e tirou Nicole de seus ombros. — Enfim.

Nicholas sorriu, voltando para o marido. Dani fechou os braços ao redor de seu pescoço, beijando-o na têmpora. Mel estava no colo do irmão.

— Eu tenho orgulho de você — murmurou. Nick apertou a mão naquela maldita coxa grossa. — Tyler me disse que temos um apartamento. É sério isso?

— Você não soa feliz.

— Eu não estou, de verdade. É que meu suposto marido comprou uma casa sem nem comentar sobre e eu me sinto excluído. — Dani afastou-se para arrumar a irmã nas pernas. — É meio ridículo, mas encaixa naquele discurso de "precisamos construir um lar juntos".

— Mas nós vamos. Isso não muda essa parte da história, só que...

— Aquele apartamento é do Nicholas desde que ele nasceu — interrompeu-os Matt calmamente. Juliet prestou atenção ao nome do filho. — Um presente da minha mãe para o primeiro neto. Ele só precisava completar dezoito anos para tê-lo. Não é como se soubesse antes.

Daniel empalideceu subitamente.

— Algumas coisas são assim. — O pai do ruivo deu de ombros. — Não está de favor, garoto. Depois desse contrato, será seu também.

Nosso.

— Talvez você não seja tão ruim assim, Matthew. — Juliet olhou para ele. Nicholas podia ver a fumaça negra entre os dois.

— Fui ruim para você por quinze anos, mas não posso ser para o nosso filho.

Ele nunca me chamou de "nosso" para ela.

— Ao menos isso.

— É. — Matt relaxou contra a cadeira. — Ao menos isso.

Valentine beijou o canto da boca do baixinho. Ele tremulou.

— Devíamos sair daqui. Eu quero aproveitar você.

— Me leve para longe, então.

Eles demoraram um pouco para se despedir dos amigos de muito tempo e pegaram a mochila que o ruivo havia separado pela manhã. Melissa sorriu ao acenar, mas Claire se recusou a soltar o cabelo do irmão.

— Me dê ela — ofereceu-se Juliet, tomando a menina. — Você gosta de cores?

— Abra isso amanhã. — Matt entregou um envelope para o filho. — Sabe o que é.

É. Eu sei.

A neve havia parado do lado de fora, e os piscas-piscas ainda estavam acesos na escuridão. Daniel parou debaixo da árvore, com as mãos para trás.

— Ainda não me contou por que me deu um casamento surpresa. — Ele mordeu a boca, que tornou-se deliciosamente rosada. — O objetivo era me fazer chorar até soluçar?

— Prometi no nosso primeiro mês de namoro que casaríamos assim que completasse dezoito. Você que não levou a sério. — Nicholas segurou uma perna do marido, esfregando-a na lateral de seu corpo. A parte interna da coxa estava fervendo. — É seu aniversário, está nevando, a floresta é linda... Sabia que você ia gostar.

— Mesmo que eu prefira aquela praia? — Dani passou a mão em seu peito carinhosamente. — Aquela praia cheia de memórias? — sussurrava. O ruivo apertou as partes em sua posse com força.

— Nós podemos passar nosso primeiro aniversário lá... porque, agora, nós vamos para casa.

O trem tinha uma linha na entrada de Arien, com cabines pequenas e quentes. Os garotos ficaram abraçados a viagem inteira, encarando as luzes de natal da cidade, como uma pintura de um sonho acordado. Nick sempre gostara de passar o natal com a mãe, fosse pela neve, fosse pelos desenhos que ela fazia com sua ajuda na parede do antigo apartamento.

O prédio no bairro leste possuía poucos andares, e o jardim estava afogado em branco e cheiro de incenso. Daniel parou no hall de entrada, subitamente trêmulo.

— Dani?

— Estamos fazendo isso mesmo, não é? Tipo... montando um lar?

Nicholas ofereceu a mão para o esposo, que pegou de imediato.

— Estamos.

Saturno e o Astronauta Azul [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora