Capitolo ventinove

632 41 0
                                    

Tentei ao máximo não demonstrar preocupação no ferimento que ele tinha nos punhos. Contudo, tentei não demonstrar afeto. Mas estava difícil, está uma coisa horrenda, e no momento tenho vontade de usar todos os métodos de cuidado, limpar e enfaixar para só depois discutir com ele!
"Firme, Aurora!"
Respirei fundo, reprovando meu instinto bonzinho. "Você deve deixar ele sofrer", repeti para mim mesma umas três vezes antes de abrir a boca para argumentar contra.

- Paulo, por favor, vamos cuidar dessa mão?
Ele levantou a parte de seu corpo, a observou e como se não fosse algo tão importante retrucou.

- Está tudo bem! - fez uma careta.

Mas o que me intriga é por que ele socou o espelho. Por que ele não assume que tem sentimentos por mim que vão além do prazer da carne? Que tudo que fez até agora foi por ciúmes e mais ciúmes, e essa possessão ridícula e oportuna é apenas para me ter por perto.
Será que sou uma tola por estar imaginando que ele, Paulo Dybala, poderia ter sentimentos por mim? Ou isso é simplesmente o que eu gostaria que fosse por sentir coisas parecidas, talvez até mais intensas.

- Vamos! - por fim eu disse algo. - Não é mais uma criançinha e bem sabe disso! - engrossei o tom.

- Disse para você ir para casa!
O fuzilei com os olhos.

- E eu acho que você ouviu muito bem quando eu disse que não sairia daqui enquanto não me dissesse o que está acontecendo com o Chris!
Ele suspirou de raiva.

- Escuta - inclinou a cabeça para cima. - Não quero você aqui! - voltou a me olhar.

- Me dê a mão! - ignorei a besteira que ele acabou de dizer e peguei sua mão com cuidado.

- Não, Aurora...- ele tentou puxar a mão, mas a segurei com mais firmeza, tentando não apertar. - Para com isso... Aurora!
Ignorei sua birra.
- AURORA! - agarrou meu pulso e automaticamente senti meus dedos endurecerem. - NÃO PRECISO QUE ME AJUDE!

- Paulo, você está muito alterado! - tentei conter a dor no semblante.

- NÃO PRECISO DE VOCÊ PARA ABSOLUTAMENTE NADA ALÉM DE PRAZER! - ele cuspia as palavras. - ENCONTREI EM VOCÊ A SATISFAÇÃO COMO HOMEM, ENTÃO, POR FAVOR, - apertou um pouco mais meu pulso.
Está doendo agora.
- SÓ VOLTE QUANDO EU PRECISAR!
Minha respiração acelerou. Minha mão estava ficando branca e sem circulação. Sem contar que já estava sem movimento algum.

- Dybala, está me machucando. - disse com a voz que me restou.
Ele olhou para sua mão que ainda espremia meu pulso com força, respirou fundo e a soltou rapidamente, como se tivesse feito algo fora do seu controle. E acho que fez!

Fiquei parada. Olhei para minha mão, abrindo e fechando a mesma, praticando os movimentos, fazendo com que os mesmos voltassem. Engoli seco ao ver mais uma marca roxa nascer em minha pele.
Olhei para frente, Paulo estava sentado no sofá com os cotovelos apoiados nos joelhos e com as mãos à cabeça.
Se acalmava aos poucos.
Já o vi nervoso, mas nunca transtornado de tal forma que se torna agressivo, mais do que o de costume.
Não sei o que aconteceu aqui. Mas sei o que eu ouvi. E ainda ouço, pois tudo estava passando pela minha cabeça e minha consciência dizia "Idiota, você é apenas um objeto sexual!"
Essas palavras chegaram até o meu emocional. Meus olhos ardem e doem por eu conter as lágrimas com um certo ódio. Nunca chorei por homem algum, não vai ser por um vagabundo que vou chorar agora!

Paulo Dybala's POV

Eu reprovava de todas as formas o meu ato. Respirava fundo e intensamente. Buscava tranquidade e acima de tudo eu me buscava!
Buscava a razão que, agora, não tenho. Tudo em mim se tornou uma bagunça. Tudo desorganizado e eu tento arrumar ficando sentado com as mãos na cabeça.
É como se eu tivesse deixado um lado negro de dentro de mim se manisfestar! Como se eu quisesse recuperar ele, porque estava perdendo!
Eu respirava fundo e soltava o ar pela boca, aos poucos a raiva ia passando e se transformando em arrependimento por algo que sinto que não veio de mim.
Levantei a cabeça devagar ao sentir dedos gelados tocarem minha mão e puxar suavemente. Quando tocou-me com a outra mão, quente, entendi o porquê de uma estar fria. Meu ato resultou em uma má circulação de sangue.
Seu semblante era de tristeza, mas sem perder a postura.
Aurora se endireitou no chão. Com a mão machucada, tirou uma mexa de cabelo do rosto e a colocou atrás da orelha. Se levantou após fazer uma checagem em minha mão e se deslocou até meu quarto. Segundos depois ela volta com a caixinha de emergências. Volta a se sentar no chão, pega minha mão e começa a tirar os cacos que havia.
Nenhuma palavra foi dita. Nem mesmo ela me olhou nos olhos, diferente de mim, que à encarava. E só me atormenta ao ver que depois das coisas que eu disse (as quais só tenho consciência agora), das coisas que eu fiz, ela ainda estava aqui, no mesmo ambiente que eu .Respirando o mesmo ar e cuidando de mim.
Minha mão está sendo enfaixada. Sigo com os olhos o movimento do pequeno rolo de ataduras. Aurora deu a volta final e cortou. Procurou o rolo de esparadrapos e olhou para mim ao perceber que eu estendia o dedo com um pedaço colado na ponta, cruzando nossos olhares. Exitou um pouco em pegar, mas continuou me olhando.

- Você precisava! - pegou o esparadrapo e colou sobre a atadura.
Abri e fechei a boca várias vezes, em busca de alguma palavra, mas acho que já tinha falado demais

Deixei ela se levantar e ir embora. Não consegui manifestar nenhum movimento, nem som.

𝙻𝙰 𝙹𝙾𝚈𝙰 💎 𝙿𝙰𝚄𝙻𝙾 𝙳𝚈𝙱𝙰𝙻𝙰 Onde histórias criam vida. Descubra agora