Um pequeno calundu ecoava pelo silêncio que antes pairava em casa. Um choro disfarçado que precisava ser colocado para fora. Sinônimo de sobrecarga.
Doía profundamente no pai de Aurora a cada vez que ele olhava para um papel em suas mãos. Não qualquer papel, mas uma foto. Que lhe traz lembranças boas e talvez péssimas, e lhe fazem chorar com desdém.
Aproveitou que a filha não estava em casa e mexeu em alguns objetos que foram de sua mãe. E terminou por encontrar esta foto.
A cada minuto colocava a mão dentro da caixa média de papelão e tirava de lá um objeto diferente e voltava a chorar com mais força. As vezes lamentava baixinho para si.- Vocês são exatamente idênticas! - disse e sorriu pelo nariz. - E é isso que mais me dói! - fungou e enxugou algumas das lágrimas. - Será que sou tão merecedor de tanta desgraça?! - respirou fundo. - Que um dia você possa responder à todas essas dúvidas cruéis causadas por você ter me deixado!
Aurora ainda estava parada em frente ao espelho que se colocou desde que saiu do box, após tomar um banho da cabeça aos pés. Observava seu semblante com dificuldade pelo fato do espelho estar embaçado graças à água quente do chuveiro.
Diferente de seu pai, ela continha o choro, mesmo doendo tanto.
Orgulhosa demais para chorar por coisas assim, que envolvem homens e relações amorosas. Para ela já estava claro que não passou de sexo, como Paulo deixou claro minutos atrás.
Passou a mão no espelho tirando toda água gasosa que impedia a visão clara de seu rosto. Voltando a ter total visão das marcas agora roxas espalhadas por todo seu pescoço e seios. Pegou uma nécessaire preta em baixo da pia. Precisava esconder antes que seu pai chegasse e visse toda essa sujeira.
Imediatamente abriu a espécie de bolsa, pegou o que precisava e começou a inserir sobre as manchas.
Parou com as mãos no ar, próximo ao seu rosto, prestes a cobrir as marcações com base e corretivo quando algo lhe impediu. Uma marcação maior, não de tamanho e sim de significado. Os dedos de Paulo perfeitamente desenhados em seu pulso dolorido.- Merda! - disse jogando brutalmente o utensílio de maquiagem de volta à nécessaire.
Apoiou na pia, fechou os olhos e respirou fundo. Balançou a cabeça tentando se livrar dos pensamentos perturbadores e da voz de Paulo que grita novamente em sua mente.
- Preciso esconder isso também! - voltou ao quarto. Abriu as gavetas do criado à procura de faixas. - Achei! - colocou a mesma em cima da cama e foi em busca do que vestir.
Will ainda se mantinha sentado no chão do quarto, jogado.
- Por que isso, Elizabeth? - levantou as pernas e apoiou os cotovelos nos joelhos, passando as mãos nos cabelos e os puxando. - Tento te esquecer, mas tudo nessa maldita casa tem um toque seu! Esse quarto... - olhou ao redor. - Os quadros na parede, cada canto da casa e cada decoração que você escolheu. - olhou para a foto mais uma vez. - Até a nossa filha! - voltou a chorar com muito mais força e ódio que até amassou a bela foto de sua ex-esposa. - Engraçado - esfregou as mãos nos olhos e desceu limpando o rosto, quase rasgando a pele. - NOSSA FILHA! - jogou a mão contra a caixa com extrema brutalidade e raiva.
As coisas que antes estavam dentro da caixa, agora estão espalhadas pelo chão depois de fazer um barulho alto.
Aurora's POV
Dei uma última volta na faixa, terminando de cobrir meu pulso.
Quase pulei da cama com o coração acelerado. Levantei assustada. Prendi a faixa com esparadrapo e saí. O barulho vinha do quarto do meu pai. Não imaginei que ele estivesse em casa.
Parei em frente à sua porta. Fiquei em silêncio por alguns segundos. Pude ouvir um som de choro. Bati na porta.- Will?- insisti.
Ele não respondeu.
- Pai? - virei a maçaneta.A porta estava aberta. Entrei rápido e me deparando com a imagem de meu pai jogado aos pés da cama. Parecia devastado. Corri até ele e me abaixei.
- O que houve?
- Desculpa! - enxugou as lágrimas com pressa . - Não sabia que estava em casa. - começou a catar as coisas do chão.
- Ei, Will - segurei seu braço. - Will, calma! - aumentei o tom.
Ele parou o que estava fazendo.Olhei ao redor e só agora reparei nas coisas que estavam no chão. Juntei as sobrancelhas.
- Essas são as coisas da minha mãe que você vai jogar fora?
Ele assentiu.Um papel, suponho eu que seja uma foto, me chamou atenção. Me ergui para apanhá-la. Meu pai me impediu.
- Por que não me deixa ver?
- Não é nada interessante!
- Imagino que seja a minha mãe! - inclinei a cabeça para o lado.
- Por que imagina isso?! - balançou a cabeça.
- Porque tem uma caixa de coisas espalhadas pelo chão, e todas elas são da minha mãe! - falei o óbvio.
Ele me estendeu a foto exitando. A peguei e tentei desamassar.Engoli seco. Faz tempo que eu não via o rosto de minha mãe. Me emocionei.
- Ela se parece com você. - meu pai disse algo e quebrou o silêncio.
Olhei para ele. Ele se emocionou mais que eu com toda certeza.- Iria jogar todas essas coisas no lixo?
- Eu vou jogar! - disse enquanto limpava o rosto.
- Não está regenerado o suficiente para jogá-las fora - comecei a catar as coisas do chão. - Pode ser um delegado forte, mas não é um homem forte! - peguei uma xuxa do chão.
Meus olhos marejaram. Lembro-me de ela estar usando a mesma na última vez que à vi, antes de ir para a escola e não à encontrar em casa na volta.
- Aurora, deixe essas coisas aí! - ele tocou minhas mãos. - Elas não te fazem bem.
Suspirei.
- O que foi isso? - disse apontando para meu pulso enfaixado.- Acho que ele abriu, dei um mal jeito!
Ele não engoliu essa história.
- Está tudo bem, alguns dias e isso sara! - não segurei o choro.- Venha cá!- meu pai me puxou e me acolheu em seus braços. - Está tudo bem. - beijou minha testa.
Abracei ele e derramei todas as lágrimas do mundo, aproveitei e deixei rolar as que Paulo causou.- Por que ela nos deixou? - tirei alguns fios de cabelo dos olhos.
- Não sei, meu anjo. - suspirou. - Não sei!
Paulo Dybala's POV
Douglas e Alex tinham voltado, e me enchiam o saco.
- Dybala, andou...- fez gestos com os dois dedos os levando até a boca, insinuando que eu teria fumado.
- Está parecendo a minha mãe! - balancei a cabeça.
- Parece que alguém andou fumando! - Alex saiu do banheiro com um cigarro nas mãos.
Douglas me encarou.- Chega! - rendi as mãos. - Já disse que não fumei!
- E o que este cigarro fazia em cima da pia?
- Caralho, vão à merda. - me levantei.
- Ei, ei - Douglas segurou meu braço. - Só estamos preocupados com você!
- A gente vende, não fuma!
Fuzilei Alex com os olhos.- Logo você que detona uma pedra em três minutos?
- Cara, se queria relaxar, por que não bebeu!?
- Chega de se passarem pela dona Alicia! Não fumei... eu ia! - admiti. - Mas não fumei,ok? - rendi as mãos mais uma vez.
- O que te deixou tão fudido à ponto de você apelar para as drogas? - Alex disse e jogou o cigarro na lixeira.
- Aposto que brigou com a patricinha!
- Vão se fuder! - balancei a cabeça e me joguei na cama.
- Ih...foi isso! - Alex completou.
- Vai - Douglas me deu um tapa na perna e se sentou no criado, ao lado na cama. - Conta logo!
Bufei.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝙻𝙰 𝙹𝙾𝚈𝙰 💎 𝙿𝙰𝚄𝙻𝙾 𝙳𝚈𝙱𝙰𝙻𝙰
FanfictionPaulo Dybala é um gangster com espírito de vingança que encontra sua obsessão em uma garota que vai contra tudo o que ele já viu. Uma história com muitas mentiras onde a verdade tende a ser decepcionante.