Gabriela dormiu alguns dias na minha casa e eu alguns dias na casa dela. Vinicius? Bem, certamente não me importava saber.
Numa manhã — da qual eu tinha dormido na casa da Gabi — nós acordamos tarde, e quando eu digo tarde é depois das duas da tarde. Isto se deu porque Gabriela Monteiro — louca do jeito que é — quis apostar em quem demorava mais tempo para cair do sono, tal desafio me rendeu facilmente a vitória.
A cama de Gabi era de casal, do casal tipo mais de 150 quilos, pois o colchão era enorme, por isso dormimos juntos.
— Bom dia flor do dia! — eu saudei quando os olhos de Gabi se abriram.
Gabriela olhou para a janela e depois checou o horário em seu celular.
— Você quis dizer flor da tarde né? — ela respondeu num tom rude, mas que eu sabia que não era rude de verdade.
— Mas que flor simpática essa, hein.
— Estou mais para planta carnívora, estou morrendo de fome — ela disse enquanto se virava para pular por cima de mim a fim de aterrissar no chão. — Sai da minha frente, senão vou te comer.
Dei espaço para que ela pudesse descer da cama e levantei logo atrás dela.
Os pais de Gabi estavam trabalhando e não haviam se preocupado nem um pouco em deixar a filha sozinha com um homem, afinal sabiam que não era da banana que a filha gostava. Como os únicos em casa, tivemos de preparar o nosso super café concentrado, elaborado, rico em vitaminas de todos os tipos... mais conhecido como: cereal. Simples, fácil e prático.
Na cozinha LGBT de Gabriela, ela abriu o leite e começou a despeja-lo nas duas vasilhas que havia pego no armário.
— Hmmm, olha Nicholas... leite! — Gabi disse com um imenso sorriso malicioso no rosto.
— Ah vai se fuder Gabriela! — eu disse rindo alto, fazendo com que ela também risse. — Você não presta.
— Nunca disse que prestava.
Sentamos, colocamos o cereal na vasilha e começamos a devora-lo. O celular de Gabi tocou e ela atendeu.
— Meus pais vão jantar fora hoje... — Gabi comentou enquanto bloqueava a tela do aparelho.
— O dia inteiro sozinhos! — falei tentando parecer animado.
Algum tempo se passou e Gabriela parou de comer de repente, olhou para mim e perguntou:
— O que acha de fazermos uma festa?
— O quê?
— Aqui, hoje!
— Quê?
— Fazermos. Festa. Hoje. Aqui.
— Como se alguém fosse vir para "a festa de dois fracassados".
— "Fracassados"? Agora me senti ofendida.
— Ok, então me diga: quem vamos convidar? O clube de teatro? Puxa, é mesmo... O Vinicius está lá! Mas espera, ele não está querendo ir para o clube dos esportes? Vamos convidar eles! Ah... é mesmo... eles são um bando de babacas! Um deles até costuma me atormentar sempre que pode, esqueceu?
— Opa mocinho calma aí, respira! A escola não se resume a dois clubes...
— Está pensando em convidar o clube de música? Logo os mais fracassados dos fracassados?
— Nick, não estou te reconhecendo... você até parece alguém do esporte falando agora.
Eu fiquei sem chão. Ser comparado por Gabriela com o tipo de gente da qual eu sempre critiquei foi como um espelho colocado diante de meu rosto. Eu estava me tornando uma pessoa maldosa? O que estava acontecendo?
VOCÊ ESTÁ LENDO
O melhor ano do nosso colegial
Teen FictionNicholas é um garoto gay que acaba de sair da sua antiga cidade para viver uma aventura em São Paulo junto com a mãe Joana, que luta para encontrar um emprego e manter uma vida estável com o filho, logo após um trágico divórcio. O jovem amante de mú...