20 • Uma festa entre amigos

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Gabriela dormiu alguns dias na minha casa e eu alguns dias na casa dela. Vinicius? Bem, certamente não me importava saber.

Numa manhã — da qual eu tinha dormido na casa da Gabi — nós acordamos tarde, e quando eu digo tarde é depois das duas da tarde. Isto se deu porque Gabriela Monteiro — louca do jeito que é — quis apostar em quem demorava mais tempo para cair do sono, tal desafio me rendeu facilmente a vitória.

A cama de Gabi era de casal, do casal tipo mais de 150 quilos, pois o colchão era enorme, por isso dormimos juntos.

— Bom dia flor do dia! —  eu saudei quando os olhos de Gabi se abriram.

Gabriela olhou para a janela e depois checou o horário em seu celular.

— Você quis dizer flor da tarde né? — ela respondeu num tom rude, mas que eu sabia que não era rude de verdade.

— Mas que flor simpática essa, hein.

— Estou mais para planta carnívora, estou morrendo de fome — ela disse enquanto se virava para pular por cima de mim a fim de aterrissar no chão. — Sai da minha frente, senão vou te comer.

Dei espaço para que ela pudesse descer da cama e levantei logo atrás dela.

Os pais de Gabi estavam trabalhando e não haviam se preocupado nem um pouco em deixar a filha sozinha com um homem, afinal sabiam que não era da banana que a filha gostava. Como os únicos em casa, tivemos de preparar o nosso super café concentrado, elaborado, rico em vitaminas de todos os tipos... mais conhecido como: cereal. Simples, fácil e prático.

Na cozinha LGBT de Gabriela, ela abriu o leite e começou a despeja-lo nas duas vasilhas que havia pego no armário.

— Hmmm, olha Nicholas... leite! — Gabi disse com um imenso sorriso malicioso no rosto.

— Ah vai se fuder Gabriela! — eu disse rindo alto, fazendo com que ela também risse. — Você não presta.

— Nunca disse que prestava.

Sentamos, colocamos o cereal na vasilha e começamos a devora-lo. O celular de Gabi tocou e ela atendeu. 

— Meus pais vão jantar fora hoje... —  Gabi comentou enquanto bloqueava a tela do aparelho.

— O dia inteiro sozinhos! —  falei tentando parecer animado. 

Algum tempo se passou e Gabriela parou de comer de repente, olhou para mim e perguntou:

— O que acha de fazermos uma festa?

— O quê?

— Aqui, hoje!

—  Quê?

— Fazermos. Festa. Hoje. Aqui. 

— Como se alguém fosse vir para "a festa de dois fracassados".

— "Fracassados"? Agora me senti ofendida.

— Ok, então me diga: quem vamos convidar? O clube de teatro? Puxa, é mesmo... O Vinicius está lá! Mas espera, ele não está querendo ir para o clube dos esportes? Vamos convidar eles! Ah... é mesmo... eles são um bando de babacas! Um deles até costuma me atormentar sempre que pode, esqueceu?

— Opa mocinho calma aí, respira! A escola não se resume a dois clubes...

— Está pensando em convidar o clube de música? Logo os mais fracassados dos fracassados?

— Nick, não estou te reconhecendo... você até parece alguém do esporte falando agora.

Eu fiquei sem chão. Ser comparado por Gabriela com o tipo de gente da qual eu sempre critiquei foi como um espelho colocado diante de meu rosto. Eu estava me tornando uma pessoa maldosa? O que estava acontecendo?

O melhor ano do nosso colegialOnde histórias criam vida. Descubra agora