38 • O teste de Gabriela

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Mais uma semana se passou e eu não tinha comentado, e muito menos cogitado, em comentar para meus amigos sobre a conversa que eu tivera com Antoine na biblioteca.

Observei que Antoine voltou a conversar mais com os amigos da sala, e aos poucos com os do Clube de Esportes. Isso foi uma evolução, portanto, algo bom. Talvez ele só precisasse da certeza de que havia alguém que se importava com ele e, por mais que voltasse a mexer comigo, pelo menos eu saberia de que ele estava de volta.

— Vocês notaram que o Antoine agora parece estar mais... Antoine, de novo? — perguntei na mesa durante o café da manhã. Ninguém nunca falava sobre o Antoine, e quando falava, era sempre porque eu comentava alguma coisa a respeito.

— É... — Vinicius disse, — percebi que agora ele parece que reaprendeu a falar.

— Nossa Vinicius, como você conseguiu ser amigo dele de novo? — Gabi perguntou, agora variando de garrafa de água para suco de laranja.

— Olha... ele pode ser bem idiota, ter algumas opiniões bem retrógradas sobre certos assuntos... — ele olhou para mim, nitidamente receoso de eu julga-lo por estar prestes a falar bem de Antoine, — mas eu não posso negar que ele sabe ser legal quando quer.

— Assim como irritante, idiota e preconceituoso quando quer — Gabi concluiu.

Eu queria poder acrescentar que ele também parecia ter sentimentos, tais como medo, ter inseguranças... mas isso abriria uma porta para o tipo de discussão sobre o assunto que eu não queria falar sobre.

Amalie não chegou a ver muito Antoine sendo Antoine, então sempre ficava quieta apenas ouvindo tudo que falávamos sobre ele.

— Me fala mais sobre ele, Vinicius — eu pedi.

Ele se engasgou com sua maçã e Gabi com seu suco.

— Oi?

— Isso mesmo. Achei interessante a história que você me contou no começo do ano sobre já ter sido amigo dele no Fundamental e ter se afastado depois, mas agora, como foi ser amigo dele no Ensino Médio?

— É... hum... bem, ele fazia a gente rir com as coisas mais idiotas possíveis que falava. É estranho dizer isso, mas havia um ser humano por debaixo daquela máscara, sabe?

Sei Vini, e como eu sei...

— Acho difícil — Gabriela admitiu, — para mim ele não tem sentimentos... só sabe ser o idiota que sempre é.

Gabriela estava errada, mas eu jamais poderia julga-la por isso, afinal, há muito pouco tempo atrás eu tive este mesmo tipo de pensamento, mas bastou ter tido aquela conversa na biblioteca, para comprovar a teoria do contrário.

Olhei para trás e vi que Antoine sentava-se novamente com os amigos do quais sempre sentou junto, e estava usando finalmente sua jaqueta vermelha do Clube de Esportes, assim como de vez em quando Vinicius usava.

Antoine olhou para mim e eu para ele e, pela primeira vez, ele não disse nada com seu olhar.

— Hoje finalmente é o dia da minha audição! — Gabi disse animada.

— Muitas pessoas se inscreveram? — perguntei sem duvidar da capacidade dela de competir com qualquer que fosse a quantidade de inscritos.

— Sim! Ouvi dizer que metade da escola se inscreveu.

— Aposto que esta informação é falsa! — Amalie finalmente falou algo.

— Se for mentira ou não, não me interessa, pois sei que vou conseguir ser uma das classificadas!

O melhor ano do nosso colegialOnde histórias criam vida. Descubra agora