29 • A volta para casa

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Joana e eu estávamos a mais de uma hora na estrada sem nos falar, então, para fazer com que o tempo passasse depressa pelo menos para mim, relembrei tudo que acontecera na viagem durante todo o momento.

Toda vez que eu olhava para ela, notava uma expressão diferente da usual — provavelmente porque viu seu filho, vulgo eu, beijando outro homem bem na sua frente —, mas eu procurava não ficar pensando neste acontecimento e nem falar sobre, pelo menos até eu notar que o silêncio estava sendo sufocante e prejudicial para nós dois.

— Está tudo bem, mãe? — perguntei de forma calma.

— Nick... — Ela respirou fundo. — Tudo bem você beijar meninos... não tenho nada a ver com isso e realmente para mim o que importa é a sua felicidade... entretanto, quando vi aquela cena diante de mim... — Joana respirou profundamente de novo e apertou ainda mais suas mãos no volante. — Bem, lembrei de uma conversa que eu deveria ter tido com você há muito tempo, mas não tive a oportunidade e confesso que também coragem...

Eu estava preparado, juro que estava. Minha vó comentara sobre eu ficar com meninos... minha própria mãe tinha me visto beijar outro garoto... Já estava com saudade de Thomas, Vinicius, Gabriela... aturava Antoine me atormentando na escola... eu certamente estava preparado para qualquer tipo de conversa sobre qualquer tipo de assunto.

— Pode dizer, mãe! Tudo bem, é sério!

— Seu pai não saiu de casa porque havia me traído ou qualquer outra coisa do tipo. — Seus olhos encheram-se de lágrimas, mas eu sabia que elas jamais cairiam para fora deles. 

— Então o que foi que aconteceu?

Ela respirou fundo, como pareceu ter feito durante toda a conversa naquele carro debaixo daquele céu escuro sem esperança. 

— Bem... desde pequeno algumas professoras suas do fundamental comentavam sobre a possibilidade de talvez por ventura você gostar de meninos, entende? E seu pai... bem, jamais quis aceitar essa possibilidade.

Palavras eram o que eu não tinha no momento, mas com os ouvidos eu podia ouvir o que ela falava, e com o cérebro, raciocinar e processar, portanto, mesmo sem palavras em minha boca eu ainda poderia continuar ouvindo, e talvez, conseguir dizer alguma coisa depois.

Durante alguns momentos, Joana desviava o olhar da estrada para mim por milésimos de segundos, com a intenção de que eu soubesse que estava dando atenção para mim e que aquela conversa não estava sendo superficial, ela se importava e queria realmente estar fazendo aquilo.

— Enfim, ano passado, como você sabe, deu a louca nele sobre este assunto e no momento que ele disse que não amaria o próprio filho se ele fosse assim... não vi outra escolha a não ser expulsa-lo de casa e pedir o divórcio. — Joana abriu um sorriso e deixou com que as lágrimas caíssem, algo que eu jamais acreditaria que fosse acontecer. — Nick... quando ele foi embora, me senti livre e motivada para fazer tudo o que o mundo pudesse me proporcionar! Certamente, aquele homem não era mais o mesmo que eu conheci numa noite dentro de uma cafeteria...

Eu não queria chorar, não mesmo, mas antes eu sentia saudades do meu pai, quer dizer... ele ajudou a me criar, então eu deveria sentir alguma coisa, certo? De qualquer forma, sempre fui mais próximo e amigo de mamãe, sempre nos entendemos melhor. Agora... sabendo de tudo isso, tudo fez sentido e a capacidade de conseguir raciocinar que meu cérebro me proporcionou, permitiu com que a saudade se transformasse em nada, literalmente, como se tal relação jamais tivesse existido. Minha vida não era perfeita, minha família não era perfeita, mas eu sabia que mamãe e eu estávamos melhor sem ele, e o mais importante, estávamos felizes como nunca antes.

O melhor ano do nosso colegialOnde histórias criam vida. Descubra agora