Abri meus olhos e a primeira coisa que fiz após olhar para o teto branco da enfermaria, foi sentir um incômodo em meu olho esquerdo, e dor ao tocá-lo.
— Onde estou? — perguntei comigo mesmo, obviamente sabendo exatamente o local onde eu estava.
A mesma mulher que um dia já havia visto Vinicius e eu nos beijando naquela mesma enfermaria, entrou séria, mas quando me viu acordado, abriu um sorriso simpático no rosto.
— Olá! — ela saudou.
— Olá!
— Bom, você bateu a cabeça no chão com força o suficiente para que você perdesse a consciência. — Ela caminhou até o lado da maca em que eu estava, agora sentado. — Você ficou inconsciente por uma hora... enquanto isso eu e sua amiga...
— A Gabriela — interrompi.
— Isso... nós duas limpamos o sangue do corte no seu lábio — Quando ela disse isso, passei a língua em meu lábio e comecei a sentir pontadas de dor nele — E também colocamos gelo no seu olho...
— Ele dói — admiti.
A enfermeira caminhou até uma prateleira branca de ferro e retirou um espelho redondo bem do alto dela. Quando me entregou e olhei meu reflexo, notei que eu parecia uma vítima de algum acidente num cenário apocalíptico de um filme de ação qualquer.
— Uau.
— Não está tão ruim assim, já vi casos piores... O roxo desaparece por completo em algumas semanas, e o corte na boca também. Antes que eu diga que não há nada com o que se preocupar, precisamos antes fazer alguns testes.
Engoli seco no mesmo instante.
A enfermeira pegou uma placa com palavras diferentes escritas em sequência de cima para baixo em tamanho decrescente. Ela então caminhou para longe da maca e me pediu para deixar apenas o olho roxo inchado aberto.
— Agora leia cada palavra para mim, por favor, da maior até a menor possível.
Li tudo e fiquei feliz em ouvir que tudo estava bem com a minha visão. Depois disso ela pegou uma prancheta e me fez algumas perguntas técnicas.
Quando tudo acabou, ela avisou que eu seria bastante encarado em todos os lugares que eu fosse, não apenas na escola, mas também fora dela. Ela me deu dicas de como ignorar e não deixar todos os olhares me afetarem de alguma forma. Prometi tentar.
— Agora você tem que passar na diretoria, Nicholas.
— Vai me acontecer alguma coisa ruim?
— Para você não, mas certamente alguém será expulso. Disseram que a briga foi bem feia, o olho de um garoto saltou para fora das órbitas.
Arregalei os olhos ao pensar em Vinicius.
— Brincadeirinha! — ela confessou.
Soltei o ar que segurava em meus pulmões, sorri e virei às costas, sem ir para a sala de aula, mas agora à sala da direção. Durante todo o percurso pensei sobre o que a enfermeira havia falado a respeito de alguém ser expulso. Eu estava torcendo para que se isto acontecesse, não fosse Vinicius... se bem que do jeito que Antoine é persuasivo com as pessoas, seria muito fácil ele passar toda a culpa para Vini... mas, eu estarei junto, irei defender Vinicius até onde eu conseguir.
A cada novo passo eu sentia uma nova sensação diferente se manifestando em meu organismo.
Eu me sentia com sorte por não estar indo à diretoria em horário de troca de aula, eu não veria ninguém durante todo o trajeto, pois neste momento, todas as dicas que a enfermeira havia me dado sobre lidar com olhares já haviam pulado para fora da minha cabeça.
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O melhor ano do nosso colegial
Teen FictionNicholas é um garoto gay que acaba de sair da sua antiga cidade para viver uma aventura em São Paulo junto com a mãe Joana, que luta para encontrar um emprego e manter uma vida estável com o filho, logo após um trágico divórcio. O jovem amante de mú...