Na minha vida, sempre que houveram compromissos futuros, os dias sempre costumaram passar mais devagar que o normal, mas quando a segunda festa do teatro estava chegando, os dias nunca passaram tão depressa como estavam.
Na manhã da festa eu já estava diante o espelho da porta do meu guarda-roupa planejando a roupa que eu usaria. Uma leve vontade de ir com a camiseta de pixel que vovó me dera veio à minha cabeça, porém mamãe, ao passar pela porta do meu quarto, quase implorou para que eu desistisse da ideia.
— Nicholas, pelo amor de Deus.
Quando contestei, ela sugeriu que fôssemos ao shopping para que comprássemos alguma camiseta legal para eu usar. Desde o início do ano, quando eu tivera ido ao shopping comprar calças para o uniforme, eu nunca mais retornei. Quando aconteceu tudo com o Ethan, aí eu nunca quis mesmo voltar lá novamente, mas, eu concordava que de fato precisava de algo além da mesma camiseta de pixel de sempre. Quase um ano já era tempo para que Ethan Marquês saísse do emprego, afinal ele era rico, como todos naquela escola, por que continuaria trabalhando se nem precisava? Eu não tinha o que temer, por isso concordei com Joana e ambos nos enfiamos dentro do fusca velho rumo ao shopping.
Por alguns segundos eu tive um breve dejá-vu, pois me vi novamente, assim como no começo do ano, dentro do carro com uma música tão alta tocando que pensei que fosse ficar surdo. Quando pedi para que mamãe diminuísse o som, porque os motoristas próximos ouviriam o barulho e reclamariam, ela respondeu com um "ninguém paga nossas contas".
Chegando no shopping, fomos à mesma loja de Ethan, pois descobrimos que ela, de fato, era não a mais barata necessariamente, mas a que tinha ótimas promoções em conta do tipo: leve 2, pague 1. Um hino de loja, entretanto, com alguns funcionários não tão hino assim.
— Nick, vou no banheiro! Estou muito apertada — Joana disse ao me largar diante a entrada da loja, assim como no começo do ano.
Para fechar com chave de ouro, agora só me falta encontrar Ethan aqui.
Adentrei. Tomei cuidado por cada corredor que eu entrava, por cada vendedor que eu evitava, até que — desculpem-me, mas a vida tem lá seus clichês de vez em quando — esbarrei em nada mais, nada menos, nada quente, mas nada gelado, Ethan Marquês.
— Descul... — ele quase se desculpou, mas desistiu no instante que viu que era eu a pessoa que havia se trombado. — Ah é você. O que veio fazer aqui?
Aquele era o momento perfeito para que eu pudesse jogar todo o veneno que eu havia acumulado especialmente para ele. Meu coração estava batendo depressa, pois este já sabia quanto tempo eu estava à espera de um momento como esse.
— Bem, estou numa loja de roupas... devo estar procurando um guarda-roupas novo, certo?
— Veio atrás de outra promoção barata para pobres feito você, suponho. Sabe, fico imaginando sozinho... deve ser horrível ser pobre e gay, né?
Eu enxergava nos olhos de Ethan a escuridão que eu jamais havia visto nos olhos de outra pessoa. Eu achava de vez em quando que eu via maldade nos olhos de Antoine, mas Ethan tinha uma certa... psicopatia, talvez?
Estávamos parados um de frente do outro; ele saboreando seu momento de maldade, e eu a minha vingança acumulada desde a primeira festa do teatro, e olha só, pronta para quitar as dívidas no mesmo dia da segunda festa do teatro. Ai, essa vida...
— Bonita esta camiseta — comentei ao retirar uma de um cabide ao meu lado. — Tem como você pegar uns três tamanhos diferentes com todas as cores disponíveis para eu experimentar? Por favorzinho? — Eu nunca havia sido tão debochado como naquele momento.
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O melhor ano do nosso colegial
Teen FictionNicholas é um garoto gay que acaba de sair da sua antiga cidade para viver uma aventura em São Paulo junto com a mãe Joana, que luta para encontrar um emprego e manter uma vida estável com o filho, logo após um trágico divórcio. O jovem amante de mú...