A casa de Thomas era exatamente o contrário da casa de vovó. Os moveis eram em estilo simplista e moderno. As paredes tinham cores vivas que combinavam perfeitamente com as pinturas abstratas em quadros espalhados por todo o lugar. Dona Amélia tinha dinheiro, mas os Alcantara pareciam se limpar com notas de cem reais.
— Fecha a boca, senão entra mosquito — Thomas sugeriu.
Percebi que minha boca de fato estava aberta, então fechei. Nunca me preocupei muito com dinheiro, pois mesmo mamãe e eu não podermos comprar uma camiseta nova todo mês, podíamos nos alimentar o bastante para ter energia durante o dia todo. Mamãe tinha um certo medo de não conseguir pagar o aluguel do mês da nossa casa na cidade grande, mas no fundo sabíamos que vovó nos acolheria de qualquer jeito, nem que fosse para sempre, afinal ela ama a filha — Joana — e o neto — eu — como jamais amou alguém na vida.
— Vamos lá em cima! — ele propôs.
— Onde estão seus pais?
— É sexta-feira, onde pensa que eles estão? Trabalhando óbvio. — Thomas respondeu enquanto subíamos a escada de mármore branco.
— Depois eu quem sou grosso...
Estávamos indo para o quarto de Thomas, e por mais que eu não quisesse fazer nada com ele, pensamentos sujos vinham automaticamente na minha cabeça. Confesso que às vezes é tão bom ninguém poder ter acesso aos pensamentos dos outros, pois se naquele momento Thomas tivesse acesso aos meus, ficaria pasmo e se tornaria a segunda versão do quadro "O Grito", pintado por Edvard Munch.
Eu subia a escada em L logo atrás dele, e enquanto fazia isso, observava as panturrilhas dele que se definiam toda hora que ele tirava o pé de um degrau para posiciona-lo no próximo.
— Para de olhar minhas pernas, Nicholas.
— O-o-o-o-q-q-q-q-quê?-?-?
— Sabe que sua gagueira te entrega né? — Thomas debochou. — Você gagueja até na interrogação quando fica nervoso.
— Não tenho culpa que as palavras simplesmente não saem da minha boca quando preciso que saiam.
Finalmente chegamos no segundo andar. Por onde Thomas andava eu seguia, até entrarmos no quarto dele.
Aconchegante, espaçoso e moderno. Três palavras que eu facilmente definiria como descrição oficial do quarto dele. Eu poderia facilmente fazer daquele cômodo a minha casa, afinal tinha tudo do que eu precisava para sobreviver, e talvez, até um pouco mais.
— Chegamos! — Thomas concluiu enchendo seu peito de ar, esperando o corpo absorver todo o oxigênio e por fim expirando puro gás carbônico.
— Percebi! — comentei de modo grosseiro, a fim de retribuir todos os momentos que ele havia sido rude comigo.
— Rancoroso você, Ni-cho-las.
— Por que separou meu nome por sílabas?
— Não sei, por que você é tão chato?
— Por que você é tão gato? — eu falei sem perceber a palavra que eu havia pronunciado. Quando notei, meus olhos arregalaram, e quando percebi, soube no mesmo instante que seria impossível disfarçar com qualquer desculpa possível.
— O quê?
Eu estava acabado. Thomas era hétero e eu tinha acabado de chama-lo de gato. Eu poderia pensar e delirar a respeito de muitas coisas, mas tudo que pensei foi:
"Volto para minha casa em dois dias... ninguém vai lembrar disso que aconteceu".
Mas então lembrei:
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O melhor ano do nosso colegial
Novela JuvenilNicholas é um garoto gay que acaba de sair da sua antiga cidade para viver uma aventura em São Paulo junto com a mãe Joana, que luta para encontrar um emprego e manter uma vida estável com o filho, logo após um trágico divórcio. O jovem amante de mú...