Capítulo 27

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"As pessoas fazem muitos planos, mas quem decide é Deus, o Senhor."
- Provérbios 19:21

Ashley Agnella

"-- Ash tudo bem? Porque você está chorando maninha? O que aconteceu? Você conhece o Luiz de algum lugar? Ele já te fez algum mal?"

Será que esse é realmente o momento ideal para contar ao meu irmão o que esse monstro foi capaz de fazer a mim? Que esse cara foi capaz de tirar a minha pureza e inocência de criança? Ou será que deixo pra lá e tento esquecer - mesmo que me pareça impossível - tudo que ele me fez?

Admito que esses não eram os meus reais planos para o futuro, meus planos eram como o de toda garota cristã, mas o destino por um equivoco fez com que eles fossem alterados, assim como Jó em meio a grandes lutas e batalhas, em meio a desafios gigantescos como este não penso em desistir ou deixar de ter fé em Deus que tudo irá se acertar.

Embalada em meus pensamentos acabo não percebendo mas, volto a chorar. Cada tentativa de me distrair é em vão pois a cena que tanto busco esquecer volta em minha mente como um filme de terror.

Tento dizer algo a meu irmão sobre o que aconteceu, mas não consigo. Tenho vergonha de mim, vergonha do meu corpo, não consigo me olhar e enxergar uma garota comum, vejo um corpo sujo, usado, ABUSADO, sem autorização ou consenso.

Eu sei que deveria ter contado antes para o meu irmão mas, só queria apagar aquele momento que pelo que me parece nunca irá sumir, e talvez assim não estivesse passando agora por isso até porque meu irmão já teria dado um jeito de resolver isso, ou até mesmo meu pai que era muito presente... É tamanha a falta que ele me faz, talvez com ele eu conseguisse desabafar e contar tudo pois, me entendia como ninguém.

-- Nathan... tire... ele... daqui por... favor... -- É a única coisa que consigo pronunciar em meio a soluços.

-- Mas, porque Ash? O que aconteceu me fala, por favor, me ajuda a entender. -- diz Nathan ajoelhando ao lado de minha cama e acariciando meus cabelos.--  O que ele fez com minha maninha linda que eu não sei?

Forças para contar a verdade? Não tenho. Imagino o rumo trágico que isso tudo pode tomar, mesmo que pela lei do homem ele mereça passar por isso tudo, eu não sou capaz de desejar mal a ninguém.

-- Por favor...-- digo entre mais soluços, mas quando termino de dizer a última palavra...

-- Tudo bem por aqui mano? A princesinha está bem? Estão precisando de alguma coisa?

-- Luiz precisamos conversar mas antes sai daqui e me espera na sala, o que estou fazendo não é necessária a sua presença, se fosse eu teria lhe chamado.-- diz meu irmão com a voz já alterada, começo a tremer de tensão e medo.

-- Que isso meu bom, eu só queria aju...

-- Se eu precisasse da sua ajuda teria te chamado, não já falei? Agora some da minha frente, e me espera na sala. Não estou pedindo e acho que você é capaz de entender isso.-- diz meu irmão já se levantando, suponho que Luiz tenha obedecido, pois ouvi passos irem se distanciando.

-- Não faça nada eu te peço, te suplico, não faz nada, só manda ele embora, por favor.-- digo chorando ainda mais, como se isso fosse possível.

Nathan levanta-se e segue em direção a sala, ignorando completamente tudo que lhe havia dito. Em fração de segundos ouço a discussão dos dois.

-- O que você fez com a minha irmã seu babaca? Fala o que você fez com ela?

-- Que isso mano, como assim? É a primeira vez que a vejo como poderia ter feito algo? Você mesmo viu que ela saiu correndo do nada.

-- Não estou brincando, vou te dar mais uma chance de me dizer a verdade, espero que diga por livre e espontânea vontade, caso contrário, eu mesmo vou tirar as palavras da sua boca uma a uma.-- ouço barulho de um corpo sendo arremessado no sofá.

-- Que isso mano, você enlouqueceu? O que eu poderia ter feito a ela sendo que nunca a vi? O que tenho haver com a loucura dela? -- ouço um estalo, talvez um possível soco que meu irmão tenha dado nele.

Sem pensar duas vezes corro até a sala na tentativa de evitar o pior que não está muito longe de acontecer. Vejo o meu irmão levantando o braço para direcionar mais um soco no rosto de Luís, quando grito.

-- Nāooo, nãooo Nathan, por favor, pare. -- meu irmão me direciona um olhar com expressões de carinho e dúvida.

-- Ash o que esta fazendo aqui? Volte para o quarto, eu e Luis estamos resolvendo algumas coisas aqui. Pode ficar tranquila, está tudo bem.-- diz Nathan vindo até mim e depositando um beijo em minha testa.

-- Seu namorado não fez o trabalho direito por isso está triste assim? Se você quiser posso te ajudar nessa área gatinha.-- diz Luiz se levantando e mostrando desconforto, sinal que o soco foi doloroso.

-- Lava sua boca para falar da minha...

-- Nathan.-- digo "freando" meu irmão para deixar que eu fale.-- Lava sua boca para falar do meu namorado, quem é você para falar algo dele depois do que você foi capaz de fazer com uma criança, uma criança de cinco anos... CINCO ANOS.-- digo voltando a chorar mas desta vez me controlo.

-- Eu tinha 5 anos quando você destruiu minha vida, levando minha pureza da forma mais cruel possível.-- grito, mas não um simples "grito", mas sim um desabafo de anos, um choro abafado, uma dor imensa sem medidas ou expressões.

-- Você não me deu escolha, você abusou de mim da forma mais suja e dolorosa possível... Você acabou com a minha vida para satisfazer um prazer ou fetiche não sei.  Só sei que pra mim não foi nem um pouco satisfatório.-- sou tomada por lágrimas tão velozes que sinto meu corpo pesar e tudo girar...

❤️

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Amo vocês.

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