Um Coração Entre Tantos Outros.

Capítulo 36

Ashley Agnella

Desembarco no aeroporto brasileiro, minha ficha ainda não caiu, parece que tudo não passa de uma brincadeira de mau gosto. Enquanto aguardo para pegar nossas bagagens Enzo segue em busca de um policial que possa nos auxiliar na busca de notícias e de qual prisão exatamente meu irmão se encontra.
Desde o telefonema já se passaram duas semanas, demorei tempo demais para chegar até aqui devido toda a burocracia na minha faculdade e no meu trabalho, e até mesmo em decidir sob a responsabilidade de quem iria deixar meu apartamento. A partir de hoje pretendo recuperar todo o tempo perdido e resolver de uma vez por todas todo esse mal entendido que houve com meu irmão.

Somos orientados a seguir até a base da policia federal aqui do aeroporto para que possamos obter as informações que precisamos. Chegando na pequena sala encontramos vários policiais, Enzo conversa com um deles que estava sentado em frente a um computador, nos sentamos nas cadeiras como o policial solicita e ele nos informa que precisa do nome completo do meu irmão antes de fornecer qualquer informação.

-- Nathan Agnella Fagundes e Silva.-- digo ao policial que imediatamente começa a digitar em seu computador. Após dizer o nome do meu irmão completo surgem em minha mente algumas lembranças de nossa infância, momentos felizes que vivíamos e que nunca nos faziam pensar que algum dia estaríamos hoje passando por esse tipo de situação.

Surgem também lembranças de nossa mãe e junto a elas uma dúvida: será que se ela estivesse aqui tudo estaria sendo diferente? Uma mãe faz muita falta na vida de um filho principalmente quando o assunto é o futuro dele.

-- Realmente um homem com este nome foi preso esta semana.-ele vira a tela do computador que exibe uma foto do meu irmão usando o uniforme do presídio.-Seria esse o seu irmão? - aceno com a cabeça em forma de concordância, e ao mesmo tempo sentindo lágrimas solitárias e silenciosas caírem sobre meu rosto.
-- Vocês estão cientes que o crime que ele cometeu é gravíssimo né?! - diz o policial com seu olhar intimidador.
-- Não sabemos qual crime ele cometeu, aliás, nem sabíamos que ele cometia crimes.-diz Enzo falando por nos dois.
-- Tudo bem, irei pedir para que um de nossos policiais acompanhe vocês até o presídio onde seu irmão se encontra preso. Antes de irem eu gostaria de esclarecer para vocês o motivo da prisão dele, ele foi pego trazendo uma boa quantidade de drogas para o Brasil e foi autuado pelo crime de Narcotráfico.
As lágrimas que agora caem fazem meus olhos pesarem uma tonelada, me seguro para não desabar completamente. Entramos no carro da policia e seguimos em direção ao presídio onde meu irmão se encontra.
Sigo olhando a paisagem do caminho, esse país é um lugar tão lindo e que gostaria de estar visitando em uma consequência diferente. O policial estaciona o carro e sinto um aperto grande no coração só de olhar a portaria deste lugar tão ruim.
Seguimos até a entrada e fazemos nossos cadastros para conseguirmos ter acesso a parte de dentro do presídio, Graças ao Senhor hoje é dia de visita e conseguiremos ver meu irmão. Passamos por um pátio em que parece está tendo um culto, meu olhar se cruza com o da preletora, sinto uma paz tão grande vindo de sua direção e por incrível que pareça mais uma vez surgem pensamentos e lembranças da minha mãe. Desperto dos meus devaneios logo após o policial nos comunicar de que chegamos a sala de visitas mas que antes passaremos por uma revista rápida.
Antes de entrarmos olho para Enzo em busca de um abrigo, ele me abraça e me diz para ir em frente. O policial abre a porta e imediatamente meu olhar busca por meu irmão, em meio a todos aqueles presidiários e seus familiares.
O encontro mas não o reconheço de imediato, está tão diferente, mais magro, rasparam seu cabelo, até sua expressão facial não é mais a mesma. Sigo em sua direção, quando percebe a nossa presença ele levanta e me abraça, já chorando e me fazendo chorar também. Ficamos assim por alguns longos segundos até que tomo coragem para lhe encarar nos olhos.
-- Ash, como você descobriu que eu estava aqui? -- diz ele ainda com a voz embargada.
-- Recebi um telefonema daquela pessoa e ele me disse que você se encontrava preso aqui. Hesitei um pouco mas pensei que ele não diria isso atoa, foi então que decidi vir até aqui e procurar por você, até que te encontrei.-- digo a ele.
-- Filho da puta.- diz ele esmurrando a mesa.-Me desculpem.-- diz levantando e mexendo em seu cabelo. Respira fundo e senta na minha frente novamente.-- Esse lugar está me deixando louco, prometo que a primeira que irei fazer quando sair daqui vai ser socar novamente a cara desse babaca.
-- Pode ter certeza que iremos fazer o possível e o impossível para te tirar daqui.-- digo pegando em sua mão.
-- Ashley, tenho um pedido para lhe fazer.-- diz ele dando uma pausa em sua fala.
-- E eu gostaria de lhe fazer uma pergunta.-- digo o interrompendo.-- Por que? Me diz, só quero saber o porque de tudo isso.
Ele hesita em me responder e continua de onde estava antes de ser interrompido.
-- Eu gostaria de pedir para que não voltem mais aqui, já tenho um advogado e conseguirei me virar sozinho. Eu entrei nessa sozinho e não tem porque eu te arrastar comigo nisso.
Escuto cada palavra que ele diz mas parece que meu cérebro não capita a mensagem certa, ou será que ele realmente pediu para que eu me afaste?! Balanço a cabeça algumas vezes, até concluir que foi realmente isto que ele disse.

-- Não quero você aqui, não quero ver você se submetendo a esta humilhação por mim, você não merece isto.-- diz ele emocionado me abraçando. Somos separados e informados que o horário de visita se encerrou, ele me dá um último beijo na testa.-- Ash seja muito feliz e saiba que eu nunca irei deixar de te amar, independentemente dos meus erros.

Não sei exatamente o que levou ele a entrar nessa vida e cometer esse erro mas não irei julga-lo, creio que nossa expulsão de casa e nosso abandono materno foi um grande contribuinte para isto tudo. Mas, Deus sabe de todas as coisas e ele tem um plano para todos nós, existe um velho ditado que diz: "Deus escreve certo por linhas tortas", já eu penso que ele escreve certo nas linhas retas nós que ainda não estamos prontos o suficiente para decifrar o seus planos.

Saiu com o coração na mão e pedindo a Deus a todo momento que guarde meu irmão com o seu manto, eu e Enzo pegamos um taxi que nos deixa na porta do prédio onde alugamos um Ap por tempo indeterminado pois não conseguimos saber quanto tempo ficaremos aqui. A certeza que tenho é que não volto para casa antes do julgamento do meu irmão.
Entramos no prédio e seguimos ate o elevador, aperto nosso andar, olho para o lado e vejo um rosto por mim conhecido porém, como sou muito ruim de lembrar de onde eu conheço as pessoas acabo não recordando de onde a conheço.
Ao entrar no apartamento fico encantada, um lugar tão charmoso, simples e fofo ao mesmo tempo, além de estar muito cheiroso e limpo, o que é essencial.
-- Nossa amor, estou morto.-- diz Enzo se jogando sobre o sofá todo largado.
-- Eu também estou, confesso. - digo largando minhas malas e me jogando no outro sofá..
Ficamos nos admirando por um tempo, até que decidimos arrumamos nossas coisas em nossos quartos. Fazemos o jantar e decidimos assistir algo na TV, mas como Enzo estava muito cansado acaba apagando antes mesmo do nosso programa predileto começar.
Fico o admirando e agradecendo a Deus pela milésima vez por ter me presenteado com um namorado tão maravilho, tenho certeza que ele é o homem da minha vida, minha alma gêmea pro que acreditam nisto.

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Amo vocês.