"Não há nenhum náufrago perdido no mais profundo mar de iniquidade que o profundo amor de Deus não possa alcançar e remir." - J. H. Jowett
Nathan Agnella
Os dias aqui na prisão têm sido muito produtivos, consegui até retomar a prática de exercícios físicos, que estava parada por causa da rotina corrida, negócios faculdade... Mas aqui não, aqui temos tempo de sobra.Entretanto a nossa rotina é um pouco pesada, acordamos todos os dias às 5 da manhã, tomamos um banho gelado e limpamos nossas celas, fazemos também atividades extras que nos são ordenadas, como levar os marmitex e entregar cada um na sua devida cela.
Toda quarta e sexta-feira acontecem os cultos, porém só frequento nas quartas já que é o único dia em que somente o Pastor prega e não aquela...
Com o tempo consegui enxergar o quão distante eu estava de Deus, e o quanto a sua presença fazia falta na minha vida. Hoje, aos poucos venho me reaproximando e experimentando um pouco de sua Glória e compaixão por mim.
Tenho tido também a oportunidade de conhecer várias pessoas, com suas variadas personalidades e com diversos crimes cometidos, um pior do que outro. Por incrível que pareça não me identifico com nenhum destes homens pois não fiz isso por achar bonito, um exemplo a ser seguido, ou algo assim. Pelo contrário, entrei nessa por necessidade, para sustentar minha irmã, pela nossa sobrevivência.
Já fazem dois meses desde a sua visita, sua ausência tem sido tão dolorosa que meu peito chega a queimar só de pensar na falta que ela me faz. Infelizmente está sendo melhor assim, já que as revistas são muito humilhantes e não a imagino se submetendo a isso por mim, por um erro que foi meu, cometido por mim. Conversamos somente através de cartas, toda semana ela me envia uma e na semana seguinte lhe envio outra, essa é a única forma de tentar suprir a sua falta.
Mas nem tudo são flores, o advogado que iria me representar desistiu do caso já que ninguém se dispôs mais a pagar pelos seus serviços, quando soube disto até hesitei por um momento em pedir a ajuda do meu cunhado, mas acho que já estou dando trabalho o suficiente para ele e Ashley. Todos aqueles que estavam ao meu lado nas horas boas e de curtição hoje já não se importam comigo, não devem nem ao menos se lembrarem que existo.
Tudo isso tem passado horas e horas na minha cabeça de uma vez só e eu não paro de pensar nas chances de fuga que tenho e na possibilidade disso dar certo.
-- E aí playboy, e aquela sua irmãzinha gata? Quando ela vai vir para a visita? -- diz um dos novos companheiros de cela.
Todo mês aqui nesse presídio os presos são remanejados de celas, alguns porque não combinam com seus ex companheiros, ele é um deles e já está explicado o porquê.
-- Nunca. -- digo já com raiva e seguindo em direção as grades para tentar me distrair e não prestar atenção nas bobagens que ele diz.
-- Qual foi? Nós precisamos ter uma distração, e ela é uma verdadeira miragem... Aquela bundinha... Não é mesmo meus companheiros? -- diz em meio a gargalhadas e todos vibram em concordância.
-- Cala a sua boca, e para de falar sobre minha irmã seu babaca.-- Viro-me para ele apontando o dedo em sua direção.
- Para de estresse, Nathan! Estamos aqui nessa merda e precisamos ver uma mulher gostosa passando por aqui, e vou te confessar, parceiro, que sua irmã faz surgir pensamentos prazerosos em minha mente.-- passa a língua sobre seus lábios como uma afronta.
Sem pensar duas vezes sigo em sua direção lhe dando um soco certeiro e cheio de ódio. Os homens ao lado gritam eufóricos, enquanto o babaca passa as mãos no maxilar e sorri debochado.
-- Essa é a força que você diz ter? Coitado, bate pior que minha ex, aquela vadia. -- A fúria toma conta de cada célula do meu corpo, parto para cima dele mais uma vez.
Dou um soco no seu olho, ele não satisfeito retribui. Vou em sua direção sem medo e soco sua barriga, seu corpo se curva e ele solta um palavrão me respondendo com um forte soco no rosto. Meu corpo cambaleia para trás e ele se aproveita para me empurrar e subir em cima de mim socando-me enquanto os presidiários gritam adorando a cena. Me esquivo-me sentindo dor e o empurrando para que saia de cima de mim, mas ele não sai, então lhe dou uma cabeçada que nos deixa zonzos, ele se afasta e balança o rosto. Enquanto isso me ergo do chão e lembro do sorriso pervertido que ele tinha no rosto enquanto falava da minha irmã.
-- MALDITO! -- Grito e avanço em cima do seu corpo distribuindo uma sequência de socos sobre ele.
Os gritos fazem um alto zumbido em meu ouvido, quando noto o sangue em minhas mãos, recebo em minhas costas uma cassetada. Urro caindo no chão enquanto sinto meu corpo pesar de tanta dor.
-- Vai para enfermaria e depois segue direto para a solitária seu cão de briga! -- Ouço a voz do agente e minha vontade é socar seu rosto também, mas me sinto sem força alguma para tal.
Ele ergue meu corpo me puxando pela roupa larga e quando estou de pé percebo que mais dois homens fazem o mesmo com o desgraçado que apanhou de mim.
-- Já que vocês gostam de bater, devem gostar de apanhar também. -- Arregalo meus olhos quando vejo-os vindo em minha direção.
Mal tenho tempo de raciocinar. Eles nos espancam enquanto os presidiários gritam com raiva. Sinto o cassetete em minhas pernas e caio novamente ao chão, isso da a deixa para que eles tenham livre acesso ao meu corpo sem que eu possa me defender.
Minha cabeça dói pelas pancadas e o sangue sai pelo nariz, ouvido e boca. Pisco meus olhos sentindo a dor se alastrar e quando penso que é o meu fim, escuto a voz de alguém mandando parar.
Seguem conosco para a enfermeira, sinto tanta dor em todo meu corpo que não aguento mais me manter acordado, é quando eu sinto minha visão turva.
❤️
PS: Me perdoem a demora, ela é decorrente de um bloqueio mental gigantesco, mas agora aos poucos vamos chegando lá. Espero que gostem.
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Amo vocês.
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Um Coração Entre Tantos Outros.
Spiritual"Procurem a ajuda de Deus enquanto podem achá-lo; orem ao Senhor enquanto ele está perto." - Isaías 55:6 Ashley é uma menina sonhadora, acima de tudo guerreira ao ser abandonada pela mãe e colocada para fora de casa após a morte do seu pai, ela e s...