Um Coração Entre Tantos Outros.

Capítulo 38

Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito. - Romanos 8:28.

Ashley Agnella

Como estou amando este país, ainda estou em fase de adaptação mas tudo aqui tem me feito muito bem, principalmente o espírito hospitaleiro do povo brasileiro. A cada segundo que passa vou me dando ainda mais conta que estou no país de minha mãe, país em que nasceu e para onde retornou quando abandonou a mim e meu irmão.

Meu irmão... Só de lembrar dele meu coração já se entristece e se enche de saudades, saudades tão dolorosa essa que escorre pelos meus olhos. Cada lágrima dessa representa minha dor e indignação pelo fato disso tudo ter acontecido.

Sinto falta do seu jeito alegre, comunicativo, e de suas panquecas maravilhosas. Sinto falta até mesmo dos puxões de orelha que ele me dava por não atender suas várias ligações quando atrasava ao voltar do trabalho.

Levanto da cama para mais um dia, arrumo meu quarto e faço meu devocional como sempre colocando meu irmão em todas as minhas orações, não somente ele mas toda minha família, família de Enzo e até mesmo minha mãe, na qual não me recordo como era ou é ainda.

Tomo meu café solitária já que Enzo retornou a nossa cidade natal para dar continuidade a sua vida, - faculdade, emprego, família, filhas e etc. - sinto muito sua falta, mas entendo que é necessário já que ninguém pode adiar sua vida para me ajudar a viver a minha e resolver meus "problemas".
O que me deixa mais feliz e confortada é o fato dele me ligar sempre pela manhã e ao anoitecer, e ficarmos horas conversando. Com isso parece até que a distância entre nós diminui pois a cada palavra sinto ele tão perto de mim que nem sei ao menos descrever.

Tranquei minha faculdade e pedi demissão do trabalho já que não sei por quanto tempo irei viver aqui no Brasil. Mas como Deus é muito justo e bondoso com seus filhos consegui um trabalho em uma lanchonete em frente ao prédio que estou morando, tem sido muito bom adquirir experiência em um novo ramo e ótimo para conhecer novas pessoas, até mesmo do meu prédio.

Não tenho frequentado nenhuma igreja ainda já que aqui é um lugar desconhecido por mim, mas estou cultuando a Deus em meu lar e com todo meu coração, fazendo todos os dias meu devocional em busca de ter e sentir cada mais sua presença comigo. Estou participando ainda da minha célula, mesmo de longe meus amigos deram um jeito de me conectar online com eles, isso é muito edificante, especialmente nesse momento em que venho passando.

Tranco meu apartamento, antes de seguir confiro minha bolsa para ver se não está faltando algo já que sou mestre em esquecer as coisas. Pego o elevador como de costume, e meu telefone começa a tocar, reconheço o número e imediatamente atendo.

-- Alô. -- digo já sentindo meu coração acelerar de forma bruta.

-- Alô, falo com Ashley? -- diz o policial do outro lado.

-- Sim, aconteceu alguma coisa com o meu irmão? -- as batidas agora já estão ainda mais aceleradas, não consigo mover um músculo se quer, como sempre o medo me paralisa.

-- Infelizmente não tenho boas notícias.

Neste momento meu coração parece congelar assim como o resto de meu corpo, sigo ali parada na frente daquele elevador, em silêncio e sem saber o que fazer. De forma instintiva penso logo no pior mas logo começo uma oração em silêncio, e é quando consigo ter forças para falar.

-- O que aconteceu? -- digo.

-- Seu irmão se envolveu em uma briga, para que conseguíssemos conte-lo tivemos que fazer o uso da força. Mas era tarde, já haviam o agredido bastante.

Parece que nesse momento consigo sentir toda dor que meu irmão sentiu no momento que estava sendo agredido. Meu corpo parece pesar, não sei se é por causa das dolorosas lágrimas que escorrem pelo meu rosto neste momento, ou se ele piora a cada palavra dita pelo policial.

-- Neste momento ele se encontra em coma. Ele teve que ser levado para o hospital principalmente da cidade. -- finaliza ele.

Tento andar mas meu corpo pesa tanto que sou amparada por uma moça que nem ao menos consigo reparar o rosto direito neste momento. Ela me leva até um banco próximo da saída do prédio, me assento e tento finalizar o diálogo com aquele policial.

-- Você poderia me passar o endereço desse hospital? -- digo alternando entre soluços e milhares de lágrimas.

Ele me diz e anoto atentamente, confirmo o endereço já que não conseguiria falar tão cedo no presídio. Me levanto e menciono a sair, é quando a moça que havia me ajudado e que estava em pé ao meu lado durante todo este tempo me impede.

-- Me desculpe Srta, não a conheço mas você não está em condições de sair andando por aí sozinha, não tem alguém que possa lhe acompanhar? -- diz ela com um semblante que demonstra preocupação.

-- Não. -- digo cabisbaixa e lembrando do estado em que meu irmão se encontra.

-- Eu te acompanho se me permitir, só preciso avisar meu marido que estou saindo, só um momento. -- diz ela pegando seu telefone e ligando para o seu marido.

Aproveito para avisar meu gerente que não irei trabalhar hoje, pois não tenho psicológico e preciso ver meu irmão. Ver ele é a minha prioridade no momento.

-- Já avisei a ele, podemos ir caso você queira.-- diz ela.

Ainda a olho com um olhar desconfiado já que ainda não a conheço, já a vi várias vezes pelo condomínio mas nunca conversamos. Opto por acreditar na bondade do ser humano e aceita a sua companhia, o que nesse momento é o que mais preciso.

Chamamos um táxi e passo para ele o endereço do hospital, ele acelera o carro e eu olho para janela contando os minutos para que essa viagem dure o menor tempo possível. Acabo me esquecendo até mesmo da minha companhia, até que ela resolve puxar assunto.

-- Desculpe, acabou que não me apresentei de verdade, sei que já nos vimos antes mas não chegamos a conversar. Meu nome é Fernanda, prazer.-- diz ela me olhando.

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