Capítulo 10: Entregando Uma Notícia Ruim

11 0 0
                                    

Do lado de uma pequena fogueira havia um homem deitado com sua cabeça em um tronco, ele tinha roupas comuns e notava-se em seus movimentos um cansaço enorme. O mesmo observava um grande item que estava em pé, tendo uma das suas pontas bem alargadas e a outra bem mais fina e pontuda. Sua textura não chamava atenção no meio daquele breu escuro que se formava pelas nuvens que escondiam a lua. Como sempre não pretendia chover, e o ar continuaria seco. Me levantei calmamente e fui me aproximando. Poderia ser o vendedor simpático que eu teria que entregar uma péssima notícia. Ele mesmo tinha relatado que as coisas andavam difíceis e, perder um cliente com aquele seria trágico.

Minha suposição era verdade, e pelo menos não era mais uma chamada para uma batalha. Conforme fui chegando perto, consegui entender que o objeto ao seu lado era um simples tipo berrante. Também era lindo de se notar as cores vermelhas que brotavam das chamas, o que antes simbolizava dor e sofrimento, agora em contraste com o natural azul bruto parecia algo que transpunha calma e neutralização. Era nessas horas que se entendia que também existia beleza no veneno. Também existia beleza naquilo que poderia matar.

Com os olhos fechados ele notou a minha presença, contudo, não se moveu. Talvez reconhecesse perigo no momento, já que não sabia quem estava lá. Não sabia nem se era um humano ou um possível predador. Fiquei alguns instantes em silêncio compreendendo que poderia ser atacado a qualquer momento, mas eu precisava recuperar o fôlego para finalmente dizer o que havia acontecido.

-Missão.... Falhada... Não cheguei a tempo... Ele já tinha ido embora para bem longe... Olafaris, não? Ele já tinha... Já tinha ido... Mas... - Ele me empregou com tanta felicidade que era difícil para mim dar a notícia com tanta velocidade.

Ele abriu os olhos com uma expressão séria. Não parecia o mesmo olhar de quanto o vi pela primeira vez. Logo disse me interrompendo:

-Ah! É você, Britão... Achei que iria demorar mais um pouco... - O tom de voz não era o mesmo, era estranho, pois se estivesse escutando isso com uma venda, diria que era outra pessoa falando - Enfim... Não se preocupe, ele talvez não era tão importante para mim.

Notei decepção na sua fala, realmente não era agradável escutar as suas palavras naquele tom de voz. Como ele sabia o meu nome, sendo que em nenhum momento eu revelei essa informação? Por acaso ele já me conhecia? A todo momento uma nova dúvida nascia, enquanto isso, reparei que ele não deu tanta importância para o fato de ter perdido um cliente como Olafaris. Estava iniciando a minha retirada, me levantei devagar, olhei para o horizonte e para o céu, dei alguns passos e uma voz surgiu:  

-Não se sinta chateado! Deite-se aqui, comigo! - Perto do seu ombro esquerdo havia outro tronco semelhante ao dele. Ele o pegou e atirou em minha direção - Pelo menos estando já neste ponto, ficará mais fácil de voltar amanhã no mesmo horário!

Também sabia que eu ganhei uma nova chance de voltar lá, apenas se ele tivesse me acompanhado teria acesso a essa informação. Deitei suavemente e decidi perguntar a origem da sabedoria do que tinha acontecido. Antes de qualquer palavra sair da minha boca, o mesmo me interrompeu trocando o assunto:

-Veja a natureza tão peculiar desse mundo... Desse lugar! Olhe para as estrelas! - As nuvens já tinham se guardado - Para cada ponto brilhando, são mundos rodeando, com histórias se contando e detalhes se formando!

Havia uma magia em suas rimas, era como se ele também notasse nas coisas tanto quanto eu, era estranho, nenhum humano nunca me disse isso com tanta ênfase. Concordei e apenas continuei escutando:

-Aqui na Terra não há tantos animais como quando eu era criança, sabia? O mato também nos levava felicidade as vezes, os bichos andavam enquanto colocavam em prática o papel de cada um. Será que em outro mundo, ainda existe isso? Ainda há chuvas que acalmam nosso espírito em outros planetas?  

Estava recebendo uma aula de um simples vendedor, que por minha surpresa sabia mais que todos os reis que um dia mandaram nesse solo. Ele citava nomes que nas quais nunca tinha ouvido, como "Terra" ou o termo "planeta". O mesmo falava como se fosse um ser de outra época. 

-Apenas sonhar é o que podemos fazer... Os outros mundos ainda precisariam de asas para alcançar... Mas eles devem ser magníficos. - Disse para ele entendendo toda a sua capacidade de notar esses detalhes tão profundos.

-Você gostaria de visitá-los? - Em seus olhos, uma fraca luz azul-claro piscava devagar - Ariscaria tudo para um dia pisar em suas terras e finalmente compreender seus lagos e oceanos?

Mesmo não sabendo o que era a palavra "oceano", respondi com felicidade:

-Lógico! Sempre e para sempre!

-Apenas os justos um dia poderão satisfazer esse desejo tão intenso! Tão delicado e tão odiado pelos outros! Faz tempo que não encontro alguém desse jeito! - Voltou a olhar para o céu.  

Um ponto amarelo no meio dos brancos começou a piscar fortemente para minha direção, era como se aquela estrela soubesse da minha existência e quisesse apenas falar comigo. As frases do vendedor me fizeram abrir portas e janelas da minha mente, finalmente me retirando da realidade que no momento era tão sofrida e tão árdua. "Outro Mundo" é o lugar que eu queria alcançar dentro de mim. Ele parecia alguém pobre de bens, todavia era rico nos mais surpreendentes conhecimentos. 

Esse era o lugar do humano, nas nuvens junto á fantasia do ato de conhecer, junto com os anjos da imaginação. Poder alcançar essas nuvens era o real papel do ser humano. Mas por que todos nós ainda não temos essa oportunidade? Por que somente alguns sabiam disso? O sono já estava me alcançando, o ato de pensar em tudo isso consumia muita energia tanto física quanto psicológica. Um agradecimento não era de mau gosto.

-Queria te agradecer por tudo, desde o emprego a essa conversa incrível! Afinal... Qual é o seu nome? 

Ele hesitou um pouco e disse baixo: 

-Me chame por... Andério.


O Mundo Das Sombras - Sociedade Das Máscaras (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora