Capítulo 16: Olhos Exuberantes Apontam Perigo

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A pequena discussão anterior tinha me, sorrateiramente, abalado. Não era nem de longe uma boa estratégia conseguir transformar um amigo em um inimigo logo no primeiro dia de convivência total. Talvez a melhor coisa a fazer era acalmar os ânimos se distraindo com a primeira tarefa que se tinha possibilidade de cumprir, no caso meu foco agora não estava mais em escudos velhos e com mensagens esquecidas, mas sim em itens de luxo do maior mercado já visto! O cliente, que agora tinha se tornado o vendedor, gostava de cores roxas radiantes com bordas douradas que confeitavam com esplendor o único local destacado na paisagem.

Parecia um dos poucos espetáculos que assisti, as cortinas que tampavam o interior da tenda causavam uma ansiedade nos olhos brilhantes das crianças que já não brincavam mais. Dois rapazes que tocaram as trombetas estavam em escadas e prontos para abrir um pano enrolado no telhado. Pisos foram colocados em volta para dar confortabilidade a aqueles que estavam prestes a serem atendidos, seus detalhes imitavam peles feitas por artesãos, cujo seu custo era comparado aos das roupas dos mais ricos.

O corvo que pulava no alto das moradias dos arredores planou suavemente em direção aos meus ombros. Não recuei, afinal não era comum esse contato direto entre humanos e animais, além do fato que parecia que o escuro pássaro tinha alguma afinidade com minha pessoa. Ele me lembrou novamente da discussão que tinha grandes chances de acabar em um clássico duelo. No meio da multidão agitada com a abertura da tenda de Olafaris, meu desejo era apenas tentar-me compactuar com as ideias de Andério para fortalecer nosso recém vínculo de amizade.

Meu pensamento foi quebrado quando as trombetas tocaram o mesmo som de antes, todavia dessa vez uma mulher estava no centro de uma grande roda de pessoas. Ela usava roupas roxas demonstrando que era um dos funcionários do esperado Olafaris. Iniciou um alegre canto que propagava em rápida velocidade a abertura do pequeno mercado:

"Vindo do Horizonte,

de uma Ilha Rica!

Quando ele chega,

de alegre o céu de pinta!


Este povo foi escolhido,

sem precisar temer!

Chegaram as mercadorias!

O preço é de tremer!


Abram alas para a nossa riqueza!

Para tudo que nos faz bem!

Estique nossa bandeira,

Tu conseguirá o que não tem!"


Ilha Rica era um belo adjetivo que caracterizava perfeitamente a concentração de bens que o império adquiriu em seu tempo de vida. Depois que a pequena canção foi finalizada, o pano que os rapazes seguravam foi solto revelando uma bandeira de Divesiss Insulates. Não era vantajoso analisar outra imagem já que a mensagem por de trás dessa era resumida em algo relacionado ao luxo do lugar. A cortina se abriu e luzes douradas pularam para fora com toda a velocidade. Finalmente meus olhos encontraram o cliente exigente!

-A clientela está mais alta do que nunca! Venham, aproveitam meus produtos raríssimos e caros! Vamos, aproveitam os melhores itens que são apenas dos melhores! - Sua voz era grossa, mas soava em tons de veludo, que combinava com ele.

Em resumo era um homem de estatura média e de enorme carisma, ao contrário da maioria, era um indivíduo gordo, suas roupas, esticadas para acompanhar o tamanho do corpo, combinavam com o resto de sua turma. Contudo, um único detalhe intrigava minha reflexão de tal modo profundo, um detalhe grande e notável a qualquer distância. Ao mesmo tempo cobria seus olhos de olhos exuberantes. Uma máscara. Parecia ser feito de madeira nutrida de solos raros, cujo até mesmo suas folhas foram aproveitadas dando um brilho adicional aquela obra.

Na extremidade do queixo sua ponta era como um fino espinho, único e pontudo, na testa junto ao cabelo a máscara imitava o sol com raios desenhados delicadamente, enquanto nas bochechas triângulos se finalizavam perto do ouvido. Estranhamente, não havia abertura para respiração e nem mesmo para a boca, ou seja, de algum modo, a máscara fazia uma inclinação possibilitando o uso desses sentidos, ou somente era uma magia capaz de tornar isso algo normal.

O corvo começou a cantar notas exóticas, únicas dos animais, parecia estar chamando algo ou alguém que na qual, só ele sabia. Os animais, assim como aquele pássaro, nunca são burros como aparentam ser, pois são detentores de um exclusivo conhecimento da vida, onde apenas os mesmos enxergam o mundo de outra forma. Nenhum ser humano entenderia aquilo como um chamado ou algo parecido, porém como um barulho irritante que fere os ouvidos de quem ouve. De algum modo misterioso, Olafaris tinha conhecimento desses fatos.

O tempo parecia estar a cada segundo mais lento quando sua face virou repentinamente para contemplar e entender o animal em meus ombros. Seus olhos passaram tão rápidos que nem o povo ao seu redor tinha notado que o foco de sua atenção tinha mudado. Quando foi estabelecido um tipo de contato, o homem gordo fechou seus olhos e lentamente balançou verticalmente a cabeça em sinal de um "sim". O corvo repetiu o processo e parou de cantar, se arrumou e pois se a lançar seu voo no ar. Seu destino, era desconhecido.

Assim que o contato foi rompido o tempo tinha voltado ao normal como antes, com certeza, algo do jeito místico estava, também, envolvido. Rapidamente, não retirando o foco de mim, a estrela do momento alertou um dos seus rapazes para ficar no seu lugar. Ele fez um sinal para me chamar sem usar uma sequer palavra. O lugar que o mesmo estava-me chamando era uma pequena tenda atrás de sua loja contendo o mesmo visual que antes, escondido de todos os outros. Naquele pequeno palácio era guardado itens de magia que não eu conhecia. Foi esticado no chão um tapete luxuoso que levantou tanta poeira que minha vista novamente foi ofuscada. Porém, após toda a poeira voltar ao chão, os objetos dentro do local não estavam sujos como previsto pela logica.

Ele já tinha se sentado e estava esperando impaciente pela encomenda que havia esperado desde o dia anterior. Da minha mochila foi retirado a espada feita pelo simpático vendedor, o item que tinha deixado o Alpha a ponto de nos banir.

-Guerreiros não poder lutar sem espadas, assim como magos não lutam sem magia! Não sou diferente, preciso de mercadorias para vender! - Parecia animado.

Virando a espada de todos os modos para contemplar sua beleza, me senti com o prazer de missão cumprida. Minha felicidade foi silenciada. A espada estava suja e queimada.

O Mundo Das Sombras - Sociedade Das Máscaras (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora