Capítulo 26: O Passe de Entrada

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A visão do mundo voltou para a nitidez comum aos meus olhos mesmo com muito barro interrompendo um olhar periférico. Sem reação me levantei confuso, onde uma raiva não proposital estava nascendo no meio de um ar fantasioso. Mesmo com uma tontura atrapalhando o meu foco, notei Andério, disfarçando uma risada claramente com tom de deboche, parado na minha frente ainda segurando a máscara que tinha acabado de cair no chão. Rapidamente, o mesmo continuou seu discurso, agora um outro tom:

-O "Grande Britão da Cidade dos Reis" achou que um passe para o outro mundo seria dado de graça? Ainda sem remorso algum, nem provação de habilidades? Como posso deixar um ser tão despreparado passar pelos portões? Há toda uma seleção de regras lá, coisa que impede os fracos de serem escolhidos! - Girava o objeto mágico na ponta do seu dedo indicador demonstrando ainda mais deboche da minha pessoa.

Recebi toda a sua fala como algo que desafiava toda a minha capacidade e história. Sem muito aprofundamento nos meus próximos atos, decidi responder a altura como um verdadeiro guerreiro:

-Não era surpresa uma pessoa inferior mostrar traição! Não é atoa que vive no meu mundo tendo seu ápice bater o martelo em ferro derretido! Ainda se faz de vítima com a história da sua família sendo destruída por ratos podres que até uma criança derrotaria!

Olhando minha resposta, o Homem Misterioso não apresentou sequer desconforto com as minhas palavras, que no caso deveriam soar como meras ofensas. Sua mão se fechou e a máscara retornou para o inexistente. Ao um baixo som, escuto sair de sua boca mais frases que aumentariam as chances de um conflito acontecer:  

-Para uma pessoa prestes a seguir um cargo nobre, esse pequeno parágrafo solto sem utilidade alguma foi o máximo de sua vida. Parece que não aprendeu nada com a queda da sua terra natal.... - Graças a tensão do momento, não parei para refletir sobre seus conhecimentos.

Sem explicação alguma ele pulou em minha direção, sendo veloz e com força no punho fechado, acertando mais um golpe seguido de outro, novamente me levando ao chão. Repeti todo o processo e me levantei novamente retirando dessa vez a espada que teve grande participação nessa história. Ao preparar um novo golpe para iniciar meu ataque nessa batalha uma onda de vento me joga a alguns metros para trás, também impactando a minha arma que foi solta e levada para longe. Nunca tinha enfrentado algo do tipo, então talvez minha falta de experiência no momento era justificável.

Quando meu foco mira no meu oponente percebo que mais uma vez ele estava numa alta velocidade para me atingir, o único movimento que veio até então era aquele que tinha acabado de me acertar. Preparei-me a minha concentração para repetir o golpe, contudo era tarde. O inimigo empurrou meus braços para trás, olhou no fundo dos meus olhos e me golpeou. Nunca tinha visto o chão tantas vezes, mas não era hora de notar detalhes. Brotaram da terra uma parede em minha volta que impedia a minha passagem e minha vista. A solução foi lançar no solo um soco com uma força elevada através dos meus conhecimentos básicos em magia quebrando o pequeno murro feito de barro. Aproveitando a deixa, com raiva me apossei de um dos blocos de terra gerados com a minha última ação, atirando na direção do Homem Misterioso.  

Sua face demonstrou surpresa ao ver meu primeiro ataque, todavia não precisou de muitos esforços para, com a força do vento, retirar o bloco úmido do seu trajeto evitando assim dano. Logo me retirei da posição defensiva e pulei para um ataque mais bruto, com rapidez usei meu braço para bater no torso do inimigo empurrando o mesmo para trás. Surpreendentemente o ataque não fez diferença na sua posição, apenas entortou levemente seu corpo. Sua resposta foi me acertar com o cotovelo nas costas retirando meu ar, em seguida me pegou pelas pernas e me jogou duma altura considerável.

Não tive reação devido ao desamino que sentia no momento. Enquanto isso, o oponente foi até a minha espada esquecida e disse em voz alta me provocando:

-Sem sobreviventes.... Ou vai para o outro mundo ou vai para outro plano.... - Sua voz era terrivelmente ameaçadora.

Ao se aproximar de mim, estendeu seu braço para cima com a ponta da espada virada para baixo, um golpe fatal. Era preciso ter forças, caso contrário, dali eu não sairia ileso. Tentei responder o mais rápido possível, porém Andério já tinha iniciado o meu temor naquele instante. Quando o aço passou pela minha carne, senti algo dentro de mim renascendo. Lembrei de tudo que tinha passado até então, desde a destruição do meu lar até o podre mundo que meus semelhantes se encontravam. Não tendo o controle total sobre meu corpo, segurei a espada pela ponta e a retirei do meu novo ferimento. Me levantei rodeado de uma fraca áurea azul e da ponta do meu dedo lancei uma forte luz que acertou todo o corpo do inimigo. O mesmo foi lançado em uma rocha distante, que no impacto foi partida ao meio liberando grande poeira.

Cheguei mais perto do Homem Misterioso que, deitado no meio de uma rocha partida, estava assustado com meu ataque finalizador. Sua postura trocou de hostil para o que aparentava ser a anterior. Com calma se colocou de pé e disse:

-Um guerreiro nato. Parabéns, me derrotou para provar ser forte. Deve ser uma grande satisfação. - Ele estendeu a mão novamente e me deu a máscara.  

Coloquei dessa vez tendo a certeza que seria o momento certo, onde nada me atrapalharia na minha volta surgiu, novamente, um círculo marcado no chão foi se iluminando cada vez mais, tudo perdeu as cores. Soltavam raios de sol de meus pés, e quando tudo desapareceu, fechei os olhos. Pássaros cantavam em meus ouvidos, escutava o balançar das árvores e sentia o cheiro da terra, estava em outro lugar completamente diferente do meu mundo, da minha vila, da minha terra.


O Mundo Das Sombras - Sociedade Das Máscaras (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora