O Mundo Das Sombras - Sociedade Das Máscaras (Livro 1)

Capítulo 36: Barbas Velhas

Um senhor que apareceu era bem alto com sinais de trabalho árduo espalhados por todo o corpo, magro igual um broto de bambu, seu cabelo era curto e grisalho, aparentemente sua roupa era justa em mim, todavia nele sobrava muito espaço. A mesma era cinza e branca, manchada por tintas pretas e buracos em todos os cantos. Os dois riram por um breve tempo, até que finalmente o bem vestido foi me apresentar:

-Sempre acontece, com todo mundo que é novato! Podia ter uma placa avisando essa sua rede de caça aqui, meu senhor! - Ele riu mais um pouco - Vamos, levante-se! Esse é Britão, da Cidade dos Reis!

O velho com um dos cotovelos encostados na janela da árvore se assustou e começou a rir mais alto. Apreciando o humor encontrado pelo senhor, me levantei e me afastei para vê-lo com mais nitidez. Ao me ser se surpreendeu com a minha pessoa e logo iniciou uma resposta:

-Pensei que iria morrer antes de ver alguém caindo nessa armadilha sem ser o Gordus! Coitado, toda vez ele grita por ajuda enquanto balança aqueles braços curtos! Mais um na lista das minhas brincadeiras! Parece ser um novato, afinal essa provavelmente é a última vez que isso acontece com você!

Ao fazer uma pausa, ele notou um inseto subindo perto da janela, então rapidamente o pegou e o comeu sem demonstrar repulsa por qualquer liquido que saísse do pequeno bicho. Mastigando pegou uma vara com um gancho na ponta e puxou até seu alcance a rede que tinha sido desarmada.

-Esse, meu caro escolhido, é Romildus! Não me pergunte o nome completo dele, ninguém sabe, nem mesmo ele. As vezes aquele velho não vai te ouvir, ou não vai te ver. Talvez seja da coisa idade. Caso se perguntou, ele mora nesta árvore. No topo, quando começa os galhos mais no alto, tem uma pequena área aberta oca no tronco, lá em cima é uma vista ótima para escrever algo! Pelo menos, tem frutos roxos que caem sempre que faz frio por aqui.

Tossindo bruscamente ao ouvir Fransi falando sobre ele, Romildus engoliu em um soco bruto no peito o inseto. Respirou um pouco e respondeu:

-Escolhido? Outro? Aquele tal de Kogus.... Cotus.... Como era mesmo? Ah, lembrei! Komus! Aquele não era o último? Pensei que ele fosse mais um no time, pelo menos um de nós! Será mesmo que vamos ter que explicar tudo para ele mais uma vez?

-Dessa vez Andérium conseguiu mais uma vaga, incrível! Sim, eu digo outra vez com felicidade, Escolhido! - Mudando seu tom para algo mais explicativo, mas ainda assim, alegre - Fique tranquilo seu velho babão! Quando Komus Laguésia estava encarregado desse trabalho de ser escolhido, nossa equipe era somente composta por três membros, não se lembra? Gordus, Tabios e Eva! Nem mesmo o senhor estava na equipe! Nem mesmo o querido Fransisquídio estava na tropa! Se não me engano você morava com a....

Aquele nome, Komus Laguésia era familiar aos meus ouvidos. Era o mesmo autor do último capítulo somente escrito no velho livro! Aquele digno de se chamar de organizado! Ele tinha estado por aqui, tinha andado por estes caminhos. Tinha conhecido essas pessoas, mesmo somente três.

-Não cite o nome da criatura! Sei que passei um longo tempo com ela, sei que moramos juntos, outra tentativa falha de deixar os mais velhos mais felizes! Por que tem que sempre ser no padrão humano? Eles poderiam mudar um pouco, serem mais criativos! Qualquer coisa que eu falava, ele retrucava. Casos desses eram comuns todos os dias, todos o tempo! - Romildus respondia bravo e interrompendo meu pensamento e a fala de Fransi.

-Isso você lembra com facilidade? Agora, das coisas que acontecem no trabalho somem rapidamente! Tem certeza que não lembra que o próprio Komus caiu numa dessas armadilhas? O senhor quase o preparou como se fosse um animal pronto para ser servido em um jantar! Vai me falar que essas coisas já foram parar no lixo? - Mesmo com um pouco de raiva, o bem vestido ainda matinha uma certa simpatia.

-Aquilo eram animais! Eram dois, lembro que quando foram desamarrados correram para fora! Claro que lembro! - Falando, o velho cuspia para todos os lados.

-Ah, bem lembrado afinal! Dois, exatamente! Komus e o próprio Gordus! Por que você não caça como todo mundo faz, pare com essas redes estranhas! - Fransi falava com tons de amizade, mesmo estando com raiva, era incrível como do capítulo anterior para este, ele tinha mudado de tom rapidamente.

-Não vou nem citar aqueles fantasmas que pareceram sem aviso nenhum! - O velho retrucou.

-Foi a única maneira deles falarem, afinal vocês dois estavam surdos! - Fransi terminou a conversa.

Os dois ficaram em silêncio, parecia que aquela história que Komus tinha vivenciado ficaria para sempre no limbo das discussões entre ambos. Realmente, parecia uma história boa para saber. Mesmo assim, com velocidade voltaram a conversar sobre outros temas. Quando acabaram, era a hora de voltar a passear. A última pessoa, segundo o próprio bem vestido era a que ordenava as coisas naqueles campos de treinamento, Eva. Saindo do outro pasto, cujo em seu centro estava a casa de Romildus, iniciamos uma leve subida em um pequeno morro, onde em uma das primeiras paradas, mesmo ainda se estendendo por metros e metros de altura, o quartel de quem mandava por lá estava à vista. Batemos na porta procurando por resposta. Então, uma fala com rigidez pulou de dentro do local. Era hora de entrar e conhecer a temida Eva.