Capítulo 17: Olhe Para Direita

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Vendo a situação da sua encomenda não disse nem sequer uma palavra de ódio nem mesmo de indignação. Sua reação foi apenas continuar olhando para reparar mais algum defeito, era como se ele estivesse avaliando a condição do produto, desde o ato da entrega até o resultado final. Continuava a virar para a direita e em seguida para esquerda, ás vezes aproximando para ver com mais clareza e foco, ás vezes distanciando para perceber alguma coisa que antes não reparou. Balança para experimentar o peso, provavelmente esse era um fator que modificaria a estratégia usada na hora de um combate. Girava a mesma entre os dedos para ver se representava algum risco para aquele que possivelmente o seguraria.

Minha personalidade já tinha percebido que aquilo significava mais um desgosto para essa missão, não bastava entregar com atraso a ponto de quase receber um banimento em troca, eu tinha agora colocado tudo a perder ao ter usado uma precisa encomenda em uma batalha com um bárbaro. Aquele feitiço das chamas era a causa dos machucados e das manchas dão severas naquela arma que antes, quando nova, demonstrava tanta beleza. Agora, apenas o que podia-se fazer era aguardar mais uma bronca do mesmo tamanho do que os Morros Gelados.

Foi esperado alguns minutos, enquanto meu coração palpitava a modo violento se preparando para se defender de palavras ofensivas que seriam dirigidas a mim e ao pobre Andério, o homem que me tinha acolhido como um irmão. Estranhamente, durante esse tempo, sua cabeça ia se inclinando para os lados em tom de curiosidade, mas não de raiva. O que também despertou a mesma sensação em meu ser interior. Na minha mente suava levemente uma pergunta: Quem seria a pessoa que vai usar essa espada? Um novo herdeiro do trono real? Um novo líder? Eram respostas que o povo também queria.

Olafaris ao terminar de analisar minuciosamente cada risco desenhado sem querer colocou o objeto no pano que se estendia até mim. Mexeu os dedos e fechou a mão, levou-a até perto de onde seria a boca e fez o barulho característico para se arrumar a tonalidade da voz. Era hora de levar as broncas:

-Interessante esse caso tão... atrasado. Conte-me, nobre rapaz. Essas marcas não são do sol nem mesmo de batalhas com homens... Erro no derretimento ou na moldagem? - Sua voz agora era crítica.

Não gostaria de mentir a uma pessoa que aparentava ser tão importante para a época e para o povo local. Porém, também não podia revelar que estava lutando com seres podres, onde usei de magia para conseguir derrotá-los. Olhei para a arma e escutei novamente a mesma frase na minha cabeça tentando procurar uma resposta convincente que qualquer um na mesma situação iria falar. Demorei um pouco, mas logo respondi:

-Não sei meu senhor... apenas a carreguei até aqui... não abri a mochila... nem pensar.... Nem sequer... uma vez - Estava ansioso para ver se a minha resposta não tinha demonstrado nada de estranho.

Ele deu uma pequena risada escondida entre os lábios, tentando disfarçar alguma reação. Provavelmente ele tinha achado alguma coisa engraçado, ou até mesmo zombando do trabalho do mercante misterioso. Não perguntei para não causar constrangimento em nenhuma das partes. Só queria sair dali o quanto antes e o mais rápido possível, o consumo de energia causava pelo estar de ter arruinado tudo de novo era altíssimo. Quando suas mãos foram para pegar um saco de moedas a fim de pagar o porco serviço, notou algo que fez seus olhos saltarem. O foco de sua visão se direcionou para minha pessoa. Foi quando retirou algumas páginas amarradas em um fio grosso que percebi, mais uma missão estava a caminho. Ainda não acreditava como ele confiava a mim dar alguma tarefa, já que a primeira quase resultou em uma falha terrível.

-Essas marcas... esses ricos... essas manchas... como disse... não são do sol nem mesmo de batalhas com homens... vejo que te escolheu bem! Esse trabalho... tão antigo... vi tantos... ouvi vários... senti a bravura de cada um... Cada um. Com você não é diferente! Acho que o próprio reparou! Assim como é fácil achar desses nessa raça! É uma felicidade imensa para nós! Para cada um de nossos membros! - Sua voz agora parecia ecoar como se a conversa estivesse acontecendo em uma grande caverna - Não te pagarei em ouro, não! Vocês merecem mais! Merecem muito mais! Quanto? Não sei! Apenas... não sei! Mas talvez eu tenha algo melhor... muito melhor!

As folhas soltas estavam marcadas pelo tempo, assim como as que eu procurava. Minha suposição não estava equivocada, muito menos errada. Eram quatro folhas colocadas no chão separadamente que eu procurava para completar aquele livro cheio de letras escritas por várias pessoas. Estava óbvio que o homem gordo sabia do que estava acontecendo, do que eu estava procurando. As dúvidas eram plantadas no meu consciente como gotas quando caem de quando se retira leite de uma magra vaca.

-Vejo que isso te impressiona de alguma forma... os humanos são muito caricaturáveis... suas expressões são as melhores! Esse será o seu pagamento! Não é ouro, todavia vale como! Talvez até mais para uma pessoa como você! Pode pegar, só não mostre para aqueles que não precisam ver e seu segredo se transformará em... Realidade? Respostas? Ou até... em sonhos?

Levei pouco tempo raciocinando o que tinha por de trás daquela máscara e daqueles olhos brilhantes. Peguei as páginas e juntei ao monte que já possuía. Organizei e percebi que faziam parte do mesmo livro com a mesma ordem de escrita, cada um escrevendo um pouco de uma bizarra história antiga. Abri a mochila e as guardei novamente enquanto o cliente exigente me olhava com ar de nostalgia. Escutei uma longa e profunda respirada, o fim da conversa estava chegando.

-Agora, continue! Procure-as e tu acharás! Não procura no lugar errado e não deixe detalhes abatidos pela solidão! Isso fará uma enorme diferença na caminhada... ou melhor, na sua jornada! Algo grande te aguarda! Ou... você aguarda algo grande? Não sei ao certo... apenas faça-me um novo favor!

Foi colocado suas mãos em meus olhos para chamar a minha atenção. Suas palavras agora soaram como um sussurro:

-Olhe para direita...

Quando olhei vi um rasgona tenda escondida e percebi que algo nohorizonte pegava fogo como da última vez. Voltei o olhar no Olafaris e     

O Mundo Das Sombras - Sociedade Das Máscaras (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora