Capítulo 35: Lágrimas Escorridas

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Uma moça brotou na porta. Cabelo loiro e liso, olhos castanhos que se pareciam com pretos, pele que refletia a pouca luz que entrava no bosque. Sua máscara imitava uma raposa, apenas limitando a não tampar seu olhos, seu nariz e sua boca. Mesmo assim era notável que entre sua face estavam lagrimas escorridas. Sua roupa, bastante fina e delicada por sinal, era larga e aparentemente confortável, em seus braços estavam marcas verticais vermelhas, simbolizando cortes de laminas. Coisa que não era comum se ver daquela maneira, já que em guerra, apenas se corta o pulso, não apenas deixa marcas leves na pele. Ao me ver, ele se soltou um pouco da dureza de seu corpo, deixando-o mais encostado na parede. Uma de suas pernas encostou na outra fazendo uma curva que demonstrava timidez.

Estranhamente Fransisquídio se mostrava incomodado com sua presença, talvez por algo no passado. Ele logo se alarmou e rapidamente me puxou para continuar a caminhar sem interrupções. Com andar bruto e veloz, logo se disparou na minha frente pensado que eu estava fazendo o mesmo. No início tentei acompanhar seu passo apressado, mas logo fui interrompido mais uma vez. Aquela moça tinha soltado sua voz no vento:

-Mais um.... Escolhido? - Sua voz era delicada e suave, sendo grande lugar reconfortante depois de uma grande guerra - Faz.... Tanto tempo.... - Ela soltou um sorriso e algumas risadas mais tímidas ainda.

Nunca tinha visto nada assim, nenhuma pessoa tinha aquela beleza que ela tinha. Meus olhos focaram nela sem piscar. Aquele ser era uma pintura viva, feita da mão mais cuidadosa do universo. Soltando algumas risadinhas no ar, voltou a falar:

-Me chame por... Eileeni.... Você é.... - Sua voz não mudava de tom, sempre mantendo doçura e suavidade.

-Britão, da.... - Não conseguia formular uma sequer frase simples.

Ela foi se aproximando de mim com calma e leveza, era como um verdadeiro anjo caminhando nas nuvens. Sentia meu coração palpitar cada vez mais. Quando Eileeni já estava perto de mim, a mesma pegou minha mão e a segurou. O seu toque era macio e gelado. Seus olhos focaram nos meus e era possível sentir a sua respiração leve e tranquila. Sua cabeça estava se aproximando de mim com lentidão, sem pensar repeti o mesmo. Minha mente estava fragmentada, nenhum pensamento era formulado com razão. Quando finalmente meus lábios estavam quase se encostando nos seus. Senti Fransi me empurrando com força me fazendo cair.

-Falha miserável! Volte para seu covil e retorne para sua vida podre e cheia de vitimismo nojento! Seu ser empobrece nossa sociedade! Quando aprenderá que seu lugar sempre foi e sempre será com os corrompidos? Não aprendeu a lição que os Unidos pela Ordem te ensinaram? - Ele gritava enquanto empurrava Eileeni para dentro da biblioteca - Suas lágrimas são um sinal de vossa fraqueza! Volte para seu caixão, e não volte mais! - A porta foi batida com raiva.

Minha pessoa estava assustada com a resposta de Fransi para aquela linda moça. O enfurecido se aproximou de mim e estendeu sua mão, fazendo que seu membro ficasse reto na vertical. Então, começou a falar algumas frases estranhas. Letras desconhecidas brilhantes pularam da sua palma e foram indo como folhas no vento para minha cabeça. Na minha mente passou as imagens da Cidade dos Reis sendo destruída, do mundo humano em escassez, dos Bárbaros que enfrentei, das vilas pegando fogo e da minha luta com Andério. Senti os fragmentos de pensamentos sendo juntados e completados. Voltei a pensar como antes, e perguntei o que aconteceu:

-Feitiços de manipulação de mentes foi usado em vossa pessoa - Fransi fala com falta de alegria - Sei que deve ter achado ela linda, mas isso foi apenas fruto de uma alucinação. Não se preocupe, Eileeni é assim por natureza, porém seus feitiços fazem que sentimentos ganhem da razão, fazendo a parecer que é a mais bela.

Realmente o que ele tinha acabado de pronunciar era verdade, pensei nela por alguns instantes e aquela magia toda tinha evaporado na cura de Fransi. Ele me ajudou a levantar e continuar o caminho. Saindo do bosque falei sem querer:

-Ela é sempre assim e por que ela é assim? Foi algo de algum passado estranho?

-Evite essas perguntas... ela é um dos erros da Realeza. Conforme-se apenas com isso.

Sua resposta soou com tons de ordem. Em poucos minutos de um ser normal até um completo tolo enfeitiçado buscando por um toque labial. Aquilo não parecia nobre neste mundo, entretanto não seria difícil se acostumar com essa abordagem entorno de um exagero na questão sentimental. Agora estava respondida a pergunta que agora pouco ecoava, era por este motivo que Fransi não queria que fizéssemos barulho ao passar ao lado da biblioteca. Também era obvio que essa não era a primeira vez que aquele feito tinha acontecido, ainda mais por causa do ódio que brotou no bem vestido em poucos minutos. Enfim, se continuasse a reparar na tal história da moça estranha, nunca iria aprender a me socializar com o povo daquele campo de treinamento.

Outro pasto vazio se encontrava logo no final do bosque. No meio de um grande vazio estava uma imensa árvore onde vaga-lumes coloridos pulavam de galho em galho. Nos aproximamos, parecia que meu companheiro desse passei já estava em melhor estado, não passou muito tempo para que algo surpreendente acontecesse, tinha caído em uma armadilha, provavelmente feita para pegar algum animal. A rede que me segurava era grossa e bastante resistente. Dentro da árvore, brotou uma janela que bateu no galho que segurava a rede, me libertando com uma forte pancada na cabeça. Fransi riu, acompanhado de um outro riso velho.

O Mundo Das Sombras - Sociedade Das Máscaras (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora