Capítulo 47: Palácio Em Ruínas

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A forja do anão ainda soltava muita fumaça demonstrando que uma grande encomenda chegou em suas mãos, afinal o mesmo estava regulamentado como sendo da Realeza, então seu trabalho não era coisa nem simples e nem fácil. Talvez isso justificasse seu humor tão escasso ou aquele modo de agir era seu natural naquela hora. Já era meio-dia, o sol estava no centro me trazendo memórias de minha terra seca durante séculos. Em toda minha vida só tinha visto poucas chuvas, coisa que provavelmente no mundo das máscaras iria mudar, afinal manter toda aquela natureza tão bela era caro para o ecossistema local. Pensei em bater de novo e insistir para ter alguém para jogar conversa fora, isto é, perder algumas horas da minha vida para me enturmar com o povo daquela casa de treinamento. Pensei melhor, imaginei Gordus furioso com minha dura insistência. Era engraçado, pois minha mente já estava entendendo o modo de como os seres de lá funcionavam.

O bem vestido estava escrevendo uma nova magia, ou até mesmo uma magia que o mesmo já tivera lido em um livro antigo e esqueceu. Seria possível acompanhar Fransi, mesmo atrapalhando-o de alguma forma? Outra vez o desespero da solidão estava me dominando. Era necessário achar uma forma de me distrair até minha próxima sessão de combate. "Mais ao fundo, um caminho de subia continuava a se fazer, subindo mais e mais, até um outro pico menor, onde uma construção antiga habitava." Era o pensamento mais curioso que na minha mente tinha vindo. Ninguém iria me ver procurando algum conhecimento sobre aquele povo lá encima, além do fato que minha pessoa voltaria em pouco minutos. Era preciso somente sentir a sensação de estar lá dentro. 

Um único problema me distanciava desse lindo desejo humano, Romildus que tinha ficado no caminho para pensar no possível sumiço de Eva, a coordenadora misteriosa que provavelmente nunca mais iria ver. Sabia que ela não tinha entendido muito bem meu jeito de agir, fora os outros escolhidos que, no caso, deram tanto desgosto a missão principal de união dos povos. Não era interessante, muito menos seguro, assegurar um clima instável dentro daquele pequeno recinto natural. Sentei na frente da cachoeira para refletir um pouco sobre todos os fatos e dúvidas que circulavam sem parar na minha pesada cabeça. Pensava comigo mesmo nas possibilidades de magia que esse povo mascarado tinha aprendido ao longo dos milênios, enquanto ao mesmo tempo surgia na ponta da língua nomes para os diversos metais que poderiam existir dentro das cavernas escondidas.

As nuvens meus pensamentos alcançaram em um piscar de olhos, porém toda vez que tentava levitar e pensar em relaxar, uma curiosidade imensa pairava sobre mim. Era a construção antiga que queria minha visita, eu sentia isso. No outro lado, uma segunda voz oriunda de um outro eu também acreditava que a melhor ideia era ficar sentado, ou até mesmo deitado sobre a pequena grama, e contemplar a beleza nunca antes vista daquele local. Era uma briga interminável entre um e outro. Alguma coisa me gritava lá de cima clamando por uma nova descoberta. Mesmo com as imagens do Homem Misterioso me perturbando para não desafiar aquela ordem rígida e aparentemente autoritária, minhas expectativas estavam nas alturas.

Me levantei e iniciei uma rápida caminhada para chegar lá sem ser percebido por uma outra criatura daquele recinto. Passei pelo bosque melancólico não dando ouvidos aos doces cantos que ecoavam entre as longas árvores. A casa de Romildus parecia vazia, um péssimo sinal que demonstrava que minhas chances de encontrar com o mesmo no caminho tinham aumentado. Aquela sensação de perigo era assustadora e emocionante para minha parada vida como andarilho no mundo humano. A vista ainda continuava a mesma, apenas mudando um pouco o angulo da iluminação. Não havia ninguém nos pequenos campos de treinamento que ficavam na casa de hóspedes e de Gordus. Subi correndo mais ainda, parecia que tinha andando da cachoeira até o começo da subida em cinco curtos minutos. 

A casa de Eva estava ainda trancava quando me aproximei com medo, o velho treinador não estava mais lá, um único bom sinal do dia. Seria desastroso uma desculpa para justificar minha corrida até lá, provavelmente algum castigo minha pessoa iria sofrer. No alto ainda escutava os gritos desesperados de uma nova aventura, elas só pediam para serem vistas. Era uma vontade absurda que surgia dentro de mim do vazio, era uma sensação estranha que falava comigo com força. Seria isso um sintoma exclusivo da natureza humana de curiosidade extrema? Uma resposta de cunho simples era difícil de se imaginar naquele momento, todavia a sensação que pulava do meu coração não era comum. Nem mesmo quando tinha descoberto o velho livro, fruto da batalha com os podres, um sentimento tinha brotado com tanta intensidade. Talvez isso seja fruto do novo mundo que me aguardava.

Foi duro subir tudo de novo em menos de poucos minutos para não chamar a atenção de ninguém, meus pés formigavam de cansaço e susto enquanto minha pressão caía frequentemente. O local onde a mera batalha entre minha pessoa e Romildus estava nos arredores, as árvores ainda faziam uma sombra que me cativava a descansar, porém faltava pouco para chegar no destino. A altura ainda era consideravelmente enorme, era mais alto do que qualquer outra montanha que tinha visto na vida. Numa de minhas paradas para respirar para não morrer por explosão dos meus pulmões, percebi que a escada estava com tons diferentes de cinza, algo simbolizando construção. Tinha matos rasteiros por todo o caminho, entretanto ali, naquele trecho final havia mais do que o normal. Ninguém passava por ali fazia anos. Voltei a subir correndo.

Finalmente os últimos passos estavam perto de serem alcançados, somente as nuvens eram visíveis quando se olhava para baixo. Na minha consciência pesava o fato que alguém poderia estar me procurando, Romildus poderia querer ensinar uma nova tática, Fransi poderia ter terminado sua escrita, Gordus poderia estar me procurando após a finalização de seu trabalho ou até mesmo Eva poderia estar fazendo uma vistoria. Era muito arriscado estar lá encima sozinho. Porém, finalmente a porta estava na vista.

O Mundo Das Sombras - Sociedade Das Máscaras (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora