Capítulo 19: Gotas Milagrosas

4 0 0
                                    

Gotas caíram. Um milagre quase que impossível. Era como se fosse o próprio divino a mandar aquilo. Era como se fosse uma vida liquida, onde sua raridade era extrema nos dias mais contentes. Agora, ao sorriso do corvo, era como se cada gota simbolizasse um sonho. Cada sonho batendo na poeira do solo que se levantava a cada batida. O som era quase que metálico, onde o metal era a morte e o martelo a ferroar era a própria vida. Aquela sensação que somente os meus avós podiam transmitir contando com lágrimas caindo sobre os triste olhos, o cheio magnifico de um mormaço enjoativo, contudo era a melhor coisa a se provar a séculos inteiros. Nem mesmo batalhas inteiras poderiam chegar perto da sensação de alívio confortante que as gotas que caíam causavam na alma. Até mesmo o animal estava se sentindo melhor somente a reparar pelo ritmo de sua respiração. Chamavam aquilo de chuva.

A fumaça no telhado da casa ia aumentando e se deformando por causa do vento forte que levava a água de um lado para o outro em uma sincronia fantástica. Dessa vez, fumaça era fria e contente como a alma de qualquer um que estivesse ali. Aos estalos da madeira estremecida, dava para perceber que a temperatura estava se declinando para algo habitável, era o sinal que o feitiço de maldição, no caso elemental, havia sido quebrado. Nem sabendo da existência de calhas, o manjar dos deuses começou a cair em uma longa fileira. Aproveitando, seco animal pulou em direção a uma poça criada rapidamente pela chuva, ele bebia como se estivesse afogando todas as suas preocupações em felicidade.

Folhas negras começaram a surgir de algum lugar atrás de mim, o vento estava carregando cada uma. As nuvens se acalmaram se fecharam seus olhos para esse mundo, dava para sentir o alívio da terra em qualquer distância. Porém, algo em alguns metros logo nas minhas costas emitia uma carga tão negativa quanto a do medo. Era outro bárbaro, outro podre, esperando calmamente uma entrada triunfal para iniciar uma batalha surpresa. Novamente, usava uma máscara deformada, seriam eles de uma mesma tribo? Com certeza eram os que achavam que podiam substituir o império. Escutando novamente as palavras de Olafaris se repetir no fundo da minha mente, não agi com raiva.

-Vejo que não sou o único aqui versado em alguma coisa que envolva magia... - O clima de tentar uma comunicação saudável com aquele ser era de tensão - Uma bela escolha para ninguém perceber um ataque... Devo dizer... Ao menos... Um cavalheiro não lutaria com um rival sem saber seu... Nome?

Imóvel olhava para mim, levitando levemente para cima e logo depois para baixo. Inclinava a cabeça, voltava ela na posição anterior. Não movia sequer nenhum membro. Respondeu com uma voz demoníaca, meio misturada com outras: 

-Não me lembro... - Demonstrava calmaria em seu tom - Algo me impede de consertar os cacos. Pedaços de honra espalhados por todo seu mundo... Por todo nosso mundo... Apenas queremos relembrar quem somos... Assim como você quer saber das coisas... Devolva nossos cacos. Devolva-os!

Queria algo que não tinha nem mesmo conhecimento, até ele sabia de minha pessoa. Seria eu um tipo de ídolo para essas criaturas estranhas? Não era hora de pensar em fama já que ao repetir sua última fala demonstrou frieza e firmeza. A lógica já dizia por si só que aquilo acabaria em mais morte, sendo da minha ou ao outro. A cada vez repetida se aproximava mais e mais, era o momento de agir:

-Afaste-se e explique-me! - Saquei a espada e apontei a ponta para seu coração - Quer seus... "Cacos"? Fique calmo! 

Ele obedeceu, enquanto aos meus berros o corvo pulou novamente em meus ombros, já que tinha-se assustado. Parecia que tudo estava sob controle, porém aquele podre ser ao notar a existência do animal começou a tremer de fúria repentina. Apontou um dos seus dedos em direção para minha pessoa e se afastou com rapidez.

-Você? Aqui? - Notava-se gestos de susto - Não nos persegue o suficiente naquele lugar? Agora até aqui? Você é mesmo um desgraçado, tanto quanto aqueles que junto ao senhor destruíram nossa ambição! 

O animal não teve reação para aquelas palavras profanas. Um grande circulo ao seu redor nasceu em chamas baixas por causa do vento, aquela suposta batalha tinha acabado de se iniciar. Notava-se em seus olhos um tipo de angústia proveniente de alguma tragédia anterior. O mesmo deu um grande salto para atrás com seu pouso liberando mais daquela névoa negra, que na qual sombreou o local. O palco da luta já tinha sido construído, quando tudo se escureceu, o vulto inimigo iniciou uma rápida corrida em círculos, o objetivo era de me tontear. Não sabia mais onde poderia levar um golpe certeiro. Foi quando olhei para esquerda que notei numa velocidade absurda, ele carregava uma força brutal que vinha desde os ombros até o fechado punho pronto para me dar um enorme soco. 

Fui cegado por um instante, era óbvio que ele tinha acertado o golpe na minha face que, chicoteou o vento aumentando a dor. Não tinha-me recuperado totalmente, quando da direita o movimento se repetiu, porém dessa vez mais veloz. De novo, com o alvo sendo minha barriga. Novamente acertando em cheio minha coluna. Sentia-me em uma dança estranha que não controlava meu próprio corpo. Um passo para frente e logo em seguida outro para atrás. O corvo também estava sendo atingido já que ele ainda se encontrava nos meus ombros. Do céu o bárbaro pulou com pressa. Seu último soco do tipo foi capaz de me derrubar no chão. Foi quando percebi que as gotas milagrosas do céu estavam caindo de novo, até mesmos os trovões tinham voltado.

A fumaça negra tinha-se abaixado, quando percebi, o inimigo estava com os dois braços levantados na minha frente, enquanto nas mãos formava-se uma enorme lança de chamas. Aliado a um solto berro, ele lançou a minha sentença de morte. Piscando meus olhos por causa da claridade, vejo o animal saindo do chão e pulando na direção do meu corpo. No exato momento que eu iria ser o alvo daquela lança, o corvo abriu suas asas e recebeu todo o dano. O impacto foi tão grande que fez uma enorme onda de vento, levando o corajoso animal ser jogado para longe, assim como também o bárbaro. Vendo uma estratégia perfeita para atacar, quando de braços abertos o ser podre ficou pelo impacto, pulei-me em direção ao seu peito, cravando a espada em seu coração.



O Mundo Das Sombras - Sociedade Das Máscaras (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora