Chegamos num ponto que já era possível ver aquela feira movimentada da noite anterior. As nuvens nos acompanhavam seguindo uma lenta velocidade, parecia que o vento seguia na batida do tempo, que no instante de nossas longas respiradas para recuperar o ânimo, era tão lento. As escadas não paravam de brotar como nos contos de fadas onde um final feliz nos espera de braços abertos, onde o fim é sabido antes do início e os monstros não nos dão medo. Romildus parecia calmo, afinal minha pessoa era somente mais um ser humano em busca de saber, coisa que o mesmo tinha lidado aos montes. Os dois acompanhantes subiram quietos apenas esperando que o treinamento começasse. O único que tinha algumas gotas de ansiedade correndo pelas veias era o mais novo Escolhido que naquele segundo, palpitava sem parar com o objetivo de mostrar que era valente.
Estávamos altos, diria que na mente dos Morros Gelados de minha terra, porém era infinitamente mais baixo do que algumas montanhas vizinhas que pairavam no horizonte para aquecer o ambiente. Finalmente o último degrau foi pisado, uma floresta particular beirava o solo e o ar, com árvores vivas e o chão marrom de folhas que nunca foram retiradas. Mesmo que minha pessoa nunca estivesse lá, havia dentro de mim um sentimento de lugar familiar, era como se pelo menos alguma vez na vida aquele canto tivesse passado diante dos meus olhos, nem se fosse por um quadro qualquer das galerias porcas da antiga nobreza. Na nossa frente um pequeno terreno circular se estendia, uma pequena arena a céu aberto, onde detalhes feitos de pedra ajudavam a contornar onde era seguro pisar. No centro havia um boneco de madeira cortado no meio, onde sua metade estava de pé e a outra caída no chão.
Com certeza aquele boneco tinha muitas histórias para contar a todos nós que o observava, onde cada um via aquilo com olhos únicos. Mais ao fundo, um caminho de subia continuava a se fazer, subindo mais e mais, até um outro pico menor, onde uma construção antiga habitava. Não era possível identificar muitos detalhes, afinal a luz do sol penetrava nossa vista de qualquer maneira. O velho se aproximou do centro e chamou Fransi que correu para atender. Os dois conversaram baixo mirando seus olhares para o boneco partido, vítima de tantos outros treinos. O bem vestido guardou seu caderno num dos bolsos de sua calça e iniciou uma dança com os braços. Com gestos e jeitos, o boneco quebrado foi se arrumado sozinho, obviamente com um toque mágico de Fransisquídio.
Meu coração parou por um instante de pulsar freneticamente, a minha mente tinha entendido que era com o velho boneco que uma batalha iria enfrentar. Porém, Fransi continuou a dançar com os braços o levando para debaixo de uma árvore próxima. Após isso, Romildus pediu para que os companheiros se sentassem onde seu desejo ordenara, era a hora de iniciar o treino.
-Ainda lembro dos treinamentos que Eva deu neste lugar, ainda não era oficialmente membro desse batalhão, todavia as memorias não me falham! - O velho falava me chamando para o centro - Como ela, antigamente, poderia simplesmente soltar um "Ataque esse boneco!" Ou "Escolhidos sempre são bons em luta, agora com magia é outra coisa!" - Fez uma breve pausa - Entretanto, as coisas precisam ser diferentes para que haja uma evolução!
Quando pisei no centro ele se afastou para uma das extremidades do círculo feito de pedra no chão, fazendo com que um forte vento balançasse as folhas das árvores ao nosso redor. Então, continuou:
-Sem magia! Os escolhidos sempre são bons em manusear armas? Nunca suspeitei que não! Mas, é sempre bom começar com o básico! - Rapidamente uma luz brotou do seu pulso formando uma grande vara afiada, com o tempo foi ganhando cor e forma. Era um longo cabo de Bambu, sua arma para me treinar - Vamos, pode ir cavalheiro!
Cravou a base do cabo no solo, dando um salto enorme pisando com o pé descalço na ponta afiada da arma, para finalizar fez uma pose de batalha.
-Como vou te enfrentar sem uma arma com poder equivalente, sobretudo minha espada terá que ser feita novamente! Desça para termos uma batalha em níveis iguais! - Queria justiça diante do meu adversário.
Romildus riu diante da minha resposta, e deu um forte argumento para me atacar:
-O inimigo, o guardião rival e o falcão faminto terão pena de você? Eles esperarão que tu tenhas uma espada ou um "poder equivalente"? Sinto lhe informar, todavia sempre estarão esperando seus momentos de fraqueza! Além do fato que, quando você melhora, seus inimigos estarão muito mais fortes! Agora, duvido você deixar esse velho babão ausente! - Romildus falava como um general lá do alto.
-Ausente? - Perguntei tentando adiar o momento da batalha.
Meu adversário hesitou em responder com rapidez, mas após alguns minutos de silêncio respondeu minha dúvida de guerra:
-Seres dessa Sociedade não morrem com qualquer coisa, precisa-se de um golpe fatal, isto é, precisa de algo que seja capaz de atacar a sua energia ou seu corpo físico, por exemplo, as famosas magias e armas. Quando um golpe fatal é dado, aquele que recebe o mesmo se ausenta, perdendo sua forma física fazendo seu corpo sumir, apenas restando nesse plano sua máscara, porém ela continua viva! Nós, membros mascarados, temos espirito dentro de nossas máscaras, onde conseguimos nos recuperar, o que chamamos de "Interior Da Máscara".
-Mas, quando eu sei que ela morreu? - Voltei a perguntar.
-Quando sua máscara é quebrada.... - Sua fala foi trocada por um silêncio.
Aquele tema foi rapidamente trocado por outro, ele se movimentou e saltou para dar o primeiro ataque!
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O Mundo Das Sombras - Sociedade Das Máscaras (Livro 1)
FantasyVejo que está procurando uma história! Algo que te deixe completamente viciado em saborear cada canto de uma fantasia! Então me encarreguei te trazer essa lenda tão rica e cheia de detalhes até ti! Esqueça esse mundo onde tudo é tão comum, repetitiv...