Capítulo 12: Tensão Entre Alegria

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Os pássaros cantaram, eram no máximo dois. O vento da noite anterior continuou em uma versão mais calma e lenta. O chão não refletia os raios de luz infernais do sol de todos os dias. O mato não demonstrava tanta secura. Eu ainda estava com os olhos fechados pensando no que tinha acontecido enquanto a escuridão ainda reinava perante uma tempestade de caos. Aqueles seres de alguma forma falaram comigo. De alguma forma, eu ainda conseguia ver as estrelas com os olhos fechados. Tudo que se formava na minha cabeça tinha forma de resposta com tom de pergunta. Mas, apesar de haver uma magia nesse evento, eu precisava cumprir a minha palavra.

Me levantei rapidamente e notei o vendedor simpático, sentado ao lado da fogueira, admirando as cinzas das madeiras que serviram de combustível para o fogo. A paisagem estava em tons de laranja, parecia que o sol tinha se enfraquecido. Um fato que chamaria a atenção de qualquer um, contudo, estranhamente ele não se importava muito. O mesmo também notou que eu já estava acordado. Apenas virou um pouco a cabeça, olhou por alguns instantes para mim, e voltou a contemplar aquela poeira que, normalmente significava morte.

Do chão peguei a minha mochila que, havia-se sujado extremamente. Foi preciso minutos para retirar tanta poeira e terra. Quanto terminei, virei levemente e perguntei algo para finalmente quebrar aquele estranho silêncio:

-Sabe que horas são? Não sou muito bom em saber o horário apenas olhando para o céu... Muito menos, sei construir um relógio de sol! 

Ele demorou para responder. Parecia que sua mente nem estava ali, talvez isso fosse comum para uma pessoa que pensasse em coisas muitos distantes, como o que aconteceu na última noite. Por longos três minutos, apenas escutava-se o vento, e cada vez mais parecia que seus olhos penetravam nas cinzas. Provavelmente seria ódio, já que sua família tinha virado a mesma coisa por causa dos Bárbaros. Um triste fim que acabaria com a mente de qualquer um.

-Estamos na primeira parte de dia. O sol está a leste e o calor não é bruto - Respondeu-me sem sequer mover a cabeça para achar a resposta no céu.

-Então ainda é cedo! Vamos, Olafaris ainda está a procura dessa... "Belezura"! - Tentei tratá-lo assim como da primeira vez que o vi, o intuito era alegrar o clima.

Andério se levantou, amarrou seu berrante nas costas, e me indicou o caminho para o Vilarejo Do Ponto Frio. A caminhada estava mais suave, contudo, o silêncio ainda incomodava. Pensei por vários momentos, se era a mesma pessoa que me mandou levar a encomenda. Os traços de personalidade eram estranhamente opostos. Antes ele era como a alegria e não parava de falar, agora o mesmo parece frio e mudo. Esses pensamentos não duraram muito, pois eu não o conhecia com todos os detalhes.

Nos encontrávamos no meio do caminho, já era hora de ousar perguntar alguma coisa. Nem mesmo se fosse para se obter uma resposta inútil:

-O que você me disse ontem, foi incrível! Tantas visões se abriram para mim, tantas ideias! Como um simples homem... Conseguiu ter acesso a essa imaginação?

-Vocês sempre me falam isso! Parece que não sabem nada além dos conhecimentos básicos para satisfazer desejos animais! - Seu tom foi um pouco rude, porém, logo mudou para algo mais feliz - Na minha época se cultivava esses pensamentos! Até o mais simples humano pensava mais alto que as estrelas! 

-Na sua época? Por exemplo... Duas décadas atrás? Você não parece ser tão velho! Ainda tem cabelos, e a pele não caiu! Rugas não cresceram, nem marcas apareceram! Você não tem nenhuma marca do tempo! Parece ter no máximo trinta anos! 

A conversa finalmente quebrou o tom amargo do vácuo. Andério com algumas gargalhadas continuou a falar:

-Eu tenho idade para ser seu ancestral! Com você falando assim, me sinto jovem novamente! - Parou a caminhada e revelou uma pintura de um de seus bolsos - Aqui, esse sou eu! Olha que essa imagem foi pintada a muitos anos! 

A pequena pintura apresentava danos que dificultavam a análise dos detalhes. Ele estava na frente de um fundo cinza claro, sorrindo e segurando algo. Parecia uma pequena estátua com cores douradas, em cima de uma base havia um símbolo de algo semelhante a um raio que cai do céu em noites turbulentas. Na mesma base, havia uma escrita diferente que não consegui decifrar.

-Isso aqui é um troféu por ajudar a nossa raça! - Andério guardou a imagem - Sei de coisas que você nunca poderá imaginar em duzentos anos! 

Antes que eu perguntasse mais alguma coisa, já tínhamos chegado ao destino. Ainda era cedo, e Olafaris só chegaria na segunda parte do dia. Então, talvez esse tempo poderia ser aproveitado para terminar a conversa e descobrir mais detalhes que mudariam a minha vida! 


O Mundo Das Sombras - Sociedade Das Máscaras (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora