O Mundo Das Sombras - Sociedade Das Máscaras (Livro 1)

Capítulo 11: Uma Mensagem

Dormimos após essa breve conversa, o sono veio pesado e cheio de sensações estranhas. O cansaço gerado por pensar em coisas que nunca ninguém havia pensado era enorme, então dormir foi mais prazeroso do que pensei. Mesmo com os olhos fechados, os pontos brilhantes do céu ainda eram claramente visíveis, e aquele ponto amarelo não parava de piscar cada vez mais forte. A sensação de leveza foi se aproximando e minha consciência foi calmamente se ausentando. De alguma forma, lá no fundo de algum lugar, escutava-se vozes que estavam abafadas por causa da distância. 

Apenas certas palavras eram audíveis e soavam com preocupação e desespero. A maioria tinha tom de perguntas e poucas de respostas, as vezes se escutava mais de uma e em outros momentos elas se juntavam em uma única. Já pensei já estar acordando no novo dia, o que me levava o desânimo de ter que andar toda aquela caminhada de novo e aguentar novamente o mesmo sol árduo de todos os dias, além do fato de levar uma das maiores reclamações quando finalmente encontrar o cliente exigente. Rapidamente, então, com essa afirmação na cabeça, decidi muitas vezes abrir os olhos e iniciar de uma vez aquela tortura.

Porém, todas as vezes que ousava fazer isso, me encontrava no total escuro da noite, com ventos ainda mais gelados e que, cada vez mais produziam mais barulho ao bater no mato seco. A fogueira já se encontrava apagada, significando o aumento do frio. As estrelas já estavam escondidas no meio das nuvens pretas, nem mesmo a lua tinha coragem de se revelar. O horizonte estava coberto por uma neblina tenebrosa escura como a carne podre dos Bárbaros. 

Andério, parecia ser imune a esse clima estranho, com seus braços abertos e com suas mãos no lugar de um travesseiro, dormia tranquilamente sem sequer tremer um músculo. O vendedor não estava coberto, e suas roupas mostravam alguns furos, demonstrando sua força perante esse caos noturno. Seu berrante era uma grande passagem para o vento, produzindo grandes sons de uivos grossos sendo o mais semelhante possível de um monstro que gritava por ajuda.

Sempre me virava para algum canto, e me cobria desajeitadamente com a mochila. Tentando fugir, fechava os olhos novamente. Por motivos desconhecidos, as estrelas voltavam a brilhar em minhas pálpebras e as vozes voltavam a fazer ecos em meus ouvidos. Sendo a última coisa que pensei antes de dormir, foi parar de acordar repentinamente, e conseguir coragem para entender as pessoas que, de longe, falavam. 

Conforme minha consciência ia subindo aos céus, as frases ficavam mais altas e mais fáceis de entender. Isso se repetiu por grandes longas horas, onde meu espírito queria descansar, mas um resquício de mim ficava no mundo para desvendar esse mistério. Os tons foram se diferenciando, os volumes aumentando e minha energia se esgotando. Até que, em algum momento no meio da madrugada, a visão que se repetia do céu estrelado foi trocada por outra. Mesmo tentando criar forçar para compreender os detalhes daquela paisagem branca, tudo se mantinha muito desfocado. Não podia mexer sequer um dedo, pois alguma poder me bloqueava de fazer qualquer coisa.

Três seres estavam na minha frente, gerando grandes sombras e diferenciando-os do branco que os acompanhava no fundo, suas vozes agora eram totalmente entendíveis, dando até para notar que um eco celestial os acompanhava.

-Tantas promessas de tantos tempos. Povos inteiros prometendo mundos que nem conhecem. Duvido que nossa honra voltará assim como nos tempos de glória! Nosso controle foi perdido já faz muito tempo! - O ser da esquerda falava com uma voz grossa e sábia. 

A cada frase falada, uma pausa era feita fazendo sua voz ser repetida várias e várias vezes até diminuir o volume para o nulo, era o tal do eco celestial. Eles demonstravam calma e nervosismo ao mesmo tempo, e outros sentimentos e emoções eram encontrados em suas falas, entretanto, apenas algumas eram notadas pelo raciocínio humano.

-Uma legião inteira já foi roubada de suas vidas miseráveis! Precisamos mesmo sacrificar mais um para, então, conseguir sucesso em nossas reputações falidas? Faz milênios que "ela" não volta para o nosso plano! Você ainda tem esperanças, mesmo vendo todas as falhas de seus filhos? - O ser da direita falava com uma voz justa e firme. 

Talvez fosse um sonho, talvez fosse uma mensagem. Tudo o que eu podia fazer era apenas escutar o que estava sendo discutido naquela visão estranha e cheia de mistérios. Talvez fosse uma história contada nos livros que li, sendo repassada mais uma vez pelo meu cérebro para tentar me afastar um pouco da realidade. No entanto, continuei prestando atenção. 

-Nossos esforços podem significar nada, podem até mesmo trazer mais ruína do que fartura! Mas, o passado está iniciando um novo plano que envolve mais magnitude do que já existiu em nossas mãos... "Você quer mesmo sacrificar...", Se não fizermos isso agora, no futuro serão milhões... Onde "ele" dominará... - O ser do meio falava com uma voz de líder e de afirmação.

Depois da última palavra do ser do meio, com muita lentidão, eles voltaram a falar junto fazendo um grande barulho por causa dos ecos de cada voz. Tudo calmamente foi se escurecendo, até um ponto que só escuridão sobrava. Nos meus ouvidos novamente foi tocado os sons dos ventos gelados da noite. Eu ainda não tinha dormido. Escutei um barulho estranho, algo com alguém fazendo um feitiço. Levantei com pressa, ainda não com a totalidade da consciência.

O mercante simpático que tinha me mostrado um lado melhor do mundo, estava em pé ao lado de uma grande mochila. Ele olhou para mim com uma face inexplicável, e da sua boca surgiu uma palavra em outra língua, que me fez cair no chão em uma velocidade imensa e me levar direto para um sono profundo.

Tudo aquilo talvez fosse uma versão bizarra da minha mente de tudo que me rodeava, talvez os seres fossem o Magistrado da Cidade Dos Reis e, Andério usando um feitiço, fosse só uma forma do meu subconsciente de mostrar que ainda havia perigo. Ou talvez, fosse tudo, apenas uma mensagem.