"Os pássaros cantam, e a grama verdinha faz cócegas nos meus pés. O dia está há como muito tempo não ficava. Lindo, ensolarado e fresco.
—Mamãe! Mamãe, socorro! — A vozinha fina soa ao longe, e logo me viro alarmada, soltando as flores que colhia no chão.
Com o coração acelerado vejo o pequeno bolinho cor de rosa correr desajeitadamente, até se grudar nas minhas pernas. Mais do que depressa abaixo-me para acolhe-la em meus braços.
—O papai quer pegar eu! —Diz, e gargalha. —Protege eu mamãe.
Ergo o olhar, e o vejo. O sol ilumina seus cabelos claros, e ele parece ainda mais bonito do que quando o conheci.
As suas feições são leves e relaxadas, enquanto anda lentamente até nós. Do mesmo jeito que eu, ele também não consegue tirar o sorriso bobo do rosto.—Então você está aí... Sua espertinha! —A minha bebê envolve ainda mais forte os braços gordinhos no meu pescoço, e rir. Lanço um olhar travesso para o Miguel, que entende rapidamente.
—Hora das cosquinhas!!! —Gritamos juntos, e atacamos a pequena em meus braços. Ela se contorce e gargalha alto. Gritando papai e mamãe várias vezes na sua voz meiga.
Se eu já ouvi algo melhor, não me recordo. Desde o primeiro momento soube que ela era o nosso anjo. Meu e do Miguel. Ela nos fez querer ser os melhores pais do mundo. Vivemos para fazê-la feliz, e acho que estamos conseguindo cumprir bem a nossa missão.
—Já para o banho, porquinha! —Diz o meu homem, enquanto carrega a nossa filha, ainda arfante por causa dos risos. Ela reluta, mas ele lhe diz algo baixinho, e ela acaba por bater palminhas.
Os dois se afastam, e eu não consigo desviar o meu olhar, acompanhando até onde posso. Se isso não é felicidade, eu não sei o que é. "
Pisco os olhos, e sinto como se algo me impedisse de realizar esse simples ato. Instintivamente levo a mão até o local, e assusto-me. Ignoro a dor, e abro os olhos abruptamente. Toda minha cabeça lateja, e arfo. Tateando novamente o meu olho, que parece ter dobrado de tamanho.
O meu primeiro instinto é procurar qualquer coisa que reflita minha imagem, mas é óbvio que não encontro. A sala está numa penumbra, que quase impedi-me de enxergar a fortificada porta de ferro.
Tento pelo menos ir até lá, mas por pouco não caio de cara no chão.O meu tornozelo direito está envolvido por uma corrente de menos de um metro de comprimento, que torna difícil até a tarefa de levantar-me do chão gelado. Fico de joelhos, e torço internamente, antes de levar uma mão até o pescoço. Respirando aliviada ao ver que a corrente ainda está no mesmo.
O chip está apagado, o que me leva a pensar que ainda não foi ativado.Depressa Miguel, por favor!
Não sei quanto tempo fiquei desacordada, se é dia ou é noite. Aqui dentro tudo parece igual não importa o tempo que passe. Coloco a mão no rosto, assim que fortificada porta de metal é aberta, e a sala é iluminada.
Barulhos de salto ecoam, e eu não estava preparada para o que viria a seguir.
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Juntos por um Golpe
ChickLitSophia Ortiz está longe de ser uma garota inocente. É uma loba em pele de cordeiro. A sua aparente fragilidade é a sua arma. Ela engana, ilude e encanta. Afinal esse é o seu trabalho. Fingir ser quem não é. Miguel Ferraz tem duas faces, e pode ser...