capítulo 3

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"—Cadê você, passarinho? 

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"—Cadê você, passarinho? 

As lágrimas caem em cascatas, silenciosas e sofridas, e o meu coração bate enlouquecido no peito, enquanto tento correr o máximo que as minhas pernas diminutas permitem. Estou com tanto medo...

Sophia... Você está me deixando zangado. Apareça!

As meias escorregam, e eu caio no chão. Olho para os lados atordoada, e vejo os armários. Depressa, e sem fazer barulho entro no de mantimentos que está parcialmente vazio. Divido espaço com os pacotes de sal e açúcar.

—Passarinho!
O meu corpo treme, completamente aterrorizado, e eu mordo os lábios para evitar os soluços.

Ele vai me achar. Eu sei que vai...

Os seus passos cada vez mais próximos, me ronda... Ouço quando as outras as portas são abertas e fechadas, uma a uma, ele verifica.

Ele sabe que estou aqui. Fecho os olhos e grito, quando a porta é aberta de forma brusca.

—Te achei!"

Assustada e molhada de suor, abro os olhos. As lágrimas rolam e eu nem tento evitá-las. As lembranças são tão intensas... A dor, o medo, parecem tão reais... Sinto-me agonizar.

Todas as noites, por anos a fio.

Respiro fundo, e paro de lutar. Deixo que o meu corpo sinta todos os sintomas do desespero, e se acostume.
Um, dos três... Conto mentalmente, e logo sinto os meus batimentos cardíacos desacelerar, e o ar voltar a circular. A dor vai embora, mas as lembranças não se apagam.

Com o passar do tempo, os detalhes se esvaem, as cenas perdem a nitidez, e tudo parece melhor. Você acredita que superou, e enxerga uma luz no fim do túnel, mas não esquece. Eu não esqueci, e vez ou outra os pesadelos vem para garantir isso.

Olho ao redor, e nem o ambiente estranho, tira-me do torpor que me encontro. Sinto o meu corpo amortecido, envolvido numa áurea de angústia profunda, portanto quando a porta range somente sou capaz de virar o rosto.

Um vento adentra o quarto, e balança o meus cabelos, trazendo não só o frio, mas algo a mais. Um cheiro amadeirado, forte e marcante. Lentamente ergo os olhos, passando pelas suas pernas, tronco, e finalmente o rosto. Os olhos verdes inconfundíveis, os mesmos que vi na boate, me fitam curiosos. Atentos.

—Você está bem?

Pela primeira vez, escuto a sua voz. Ela é rouca, mas não grave. Sinto o meu coração acelerar, quando  percebo que o som é exatamente o mesmo que ouvi antes de apagar.

“—Vai ficar tudo bem... Ninguém vai te machucar mais!”

Fito o teto, e mordo os lábios. Odeio essa sensação de impotência, autopiedade... Mas nesse momento não há nada que possa fazer. Sinto-me como uma criança que acabou de se perder dos pais num lugar movimentado. Tão perdida e assustada quanto. Respiro fundo, e solto todo o ar de uma vez.

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