Pedro

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Capitulo 33
Pedro
"Chegando em casa ele chorou e pro inferno ele foi pela segunda vez, com Maria Lúcia Jeremias se casou, e um filho nela ele fez." Faroeste Caboclo, Legião Urbana.
-----A Malu foi embora.
-----Como assim mãe?
Minha  mãe demora um pouco para responder, passando a mão em meu rosto.
-----Essa era a condição para você ser solto, vocês se separarem.
-----Não mãe,  ela me prometeu. Cadê meu pai?
Tento me levantar, mas uma tontura me invade e sou obrigado a me deitar de novo.
-----Está sendo medicado devidamente contra sua vontade.
------Mãe eu não sou mais criança,  tem muita coisa errada e a senhora não quer me contar.
-----O importante é que você está de volta filho.
-----Pra senhora mãe.  Apenas da casca estar aqui. Assim que eu melhorar eu vou atrás da Malu mesmo que seja no inferno mãe. Ela me prometeu.
Estou chorando como um menino carente de colo porque roubaram sua bola.
Minha mãe me abraça como dá, tomando cuidado para não me machucar, mas me sinto anestesiado nesse momento,  sem a minha maluquinha.
Eu sabia que aqueles sonhos eram um alerta.
Meus tios vem me ver, mas não consigo falar com ninguém.
Eu preciso da minha maluquinha, meu antídoto,  meu vicio, minha cura, meu lado do avesso.
Não precisei de muito para ficar dependente dela.
15 dias e foi angustia o suficiente.
Tudo que suportei foi pensando nela, porque assim como ela me prometeu não ir embora, ei não podia simplesmente abandoná-la assim.
Três dias no hospital e eu já me sentia forte o suficiente.
A noite,  eu percebi que me davam um remédio pra dormir, e assim eu tramei minha fuga.
Finjo tomar o remédio e aguardo o toque de recolher.
Entre onze e meia noite, não há barulho algum no hospital.
Troco minha roupa, por uma totalmente desconhecida que há no armário e fica um pouco larga em mim, provavelmente perdi muito peso nesse tempo.
Não há calçados e eu sequer sei onde estou.
Saio do quarto e sigo as plaquinhas que me levaram a saída.
Quando estava passando pela porta, aparece um segurança tentando me impedir.
Dou uma cotovelada em seu nariz com meu braço bom e saio correndo.
Percebo que o hospital é próximo a favela e sigo caminhando para o lado contrário, em busca de algum lugar próximo que pudesse ao menos me esconder até que pudesse ligar para meus pais.
Lembro da casa da minha Avó e mesmo que era arriscado pedi carona a um caminhão que passava solitário por ali.
Narro rapidamente o drama que estava passando e ele com dó me deu 100 reais.
Pego agradecido e invado a casa da minha avó que já estava com sinais de abandono.
Tinha até alguns vidros quebrados.
Meu machucado lateja, mas não me importo.
Não conheço quase nada por aqui.
Deito na cama cheia de poeira e adormeço rapidamente.
Na manhã seguinte,  ligo para o celular do meu pai que sei de cor.
----Pronto.
-----Oi pai.
Antes que pudesse dizer qualquer coisa veio uma enxurrada de perguntas.
---Calma pai, eu peguei uma carona e estou na casa da vó. Eu não podia simplesmente arriscar e ligar pra vocês de madrugada.
-----Não sai dai caralho. Eu vou te buscar. Merda nem eu sei o endereço,  como chegou ai?
-----Eu escutei tantas histórias dela falando o jeito da casa, o bairro, a pracinha e o endereço que foi o único lugar que pensei fora de suspeita.
----Certo. Jajá tô ai.
A ligação era a cobrar. Dei sorte do meu pai atender.
Vou até um mercadinho e compro um chinelo e salgado com os 100 reais que o caminheiro me deu.
No caixa, vi uma caixinha de dipirona e compro também pra aliviar a dor.
Olho minha imagem no espelho trincado e não reconheço o homem que me encara.
Barbudo.
Sujo.
Semblante triste.
Não me surpreenderia se a policia me desse geral.
Bem, eu teria dizer que também sou policia e nem mesmo estou foragido,  mas que voltar pra casa agora e uma missão que não estou afim de enfrentar.
Uso a sacolinha do mercado como cinto para minha calça não cair e volto a deitar esperando meu pai chegar.
Um carro estaciona e meu pai é o primeiro a entrar na casa.
Continuo deitado só grito que estou no quarto.
Tia Mel tapa a boca ao me ver, claramente segurando as próprias lágrimas.
Meu pai me abraça e diz ao menos dez vezes que tudo vai ficar bem.
Até ele não acredita que Malu foi apenas embora.
Porque a Maria Luísa não é dessas.
Ela foge achando que não a amo, que tenho outra.
Maria Luísa não foge por achar que sua vida corre perigo ao meu lado.
Stenio vivia falando que ela queria trocar de lugar comigo, então é certeza que foi isso que aconteceu.
-----Pai eu preciso da sua ajuda.
-----Pra que Pedro?
-----Nós precisamos salvar Malu.
-----Ela foi embora.
-----Isso é o que vocês querem acreditar e que eu acredite. Ela deu sua liberdade por nossa família pai. Eu sei que você é melhor do que isso e não desistiria se fosse mamãe. Você poderia lutar, mas não ia querer viver e morrer sabendo que o sorriso doce dela jamais será ao seu lado. Você foi incapaz mesmo quando você era o próprio causador da dor de minha mãe. Se não me ajudar estarei indo fazer isso sozinho.
-----Podepa filho. Conta comigo. Só me diga qual o lance, a hora e o local.
-----Ainda não sei, não consegui pensar em algo ainda que mantivesse a nós três vivos.
-----Só no sonho de Marte de vocês que acham que não vou estar junto nessa né?
Minha tia Mel, se manifesta assustando a nós dois.
------Não não tia, você não tem nada a ver com essa treta.
-----Eu incentivei Malu a descobrir mais, eu a levei para treinar, então nem a pau que não estarei na missão resgaste.
-----Só tem um problema filho.
Viro para meu pai já imaginando o que ele vai falar.
----Sim?!?
Digo já pronto para discordar.
-----Estamos fracos e sem munição. Acho que Mel sozinha está valendo por dois de nós. Vamos nos aprontar,  vamos nos armar, vamos tramar e só assim atacar, com a mente de dois policiais e de um ex bandido .
-----Não pai, com a mente de pessoas que lutam pelo certo.

Finalmente me levanto com animo renovado.
Eu não sei quanto tempo demoraria para atacarmos, mas de uma coisa eu sei....
Maria Luísa é forte e jamais estará desamparada.

(Concluído) O Outro lado da moedaOnde histórias criam vida. Descubra agora