Pedro

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Capitulo 56
Pedro
A minha liberdade no momento está na capacidade do coração de um bandido continuar batendo.
Olhando meu lado da moeda, é claro como água que eu tentei apenas me defender e defender a minha esposa, já que mesmo estando sofrendo uma tentativa de assalto,  ainda estavam sendo lançados diversos disparos em nossa direção.
Já por outro lado, encontra-se um homem "desarmado", entre a vida e a morte que foi atingido por um policial de folga.
O sensacionalismo caiu matando pra cima de mim, onde inventaram que eu fugi, que meu carro foi encontrado num matagal qualquer e eu vivendo no meio da mata.
Chegaram a dizer que eu estava brigando com Malu no momento que sai do carro e sai disparando , ou seja,  um imenso perigo para a sociedade.
Eu fiquei muito puto da vida no começo.
Dediquei anos da minha vida para a corporação militar,  não foi numa ilusão de ganhar dinheiro a qualquer custo,  foi para que os inocentes não tivessem medo de sair de suas casas.
Por mais que, até alguns anos atrás eu acreditasse, que bandido bom é bandido morto, eu jamais sairia matando por diversão,  para mostrar autoridade.
Em momento algum,  eu parei qualquer pessoa na rua e revistei,  por causa de sua cor ou classe social.
Dentro de um mundo injusto, eu tentei ser o mais justo possível que minha consciência poderia controlar.
No quartel,  fazem três meses que estou preso.
Não é apenas uma regalia,  mas eu já prendi muita gente, logo na penitenciária comum eu sou um alvo fácil.
Repito mais uma série de exercícios para não ficar louco, mas sinto o cheiro dela.
Maria Luísa que rouba minha sanidade e a que a mantém ao mesmo tempo.
Seu semblante carregava preocupação e fúria provavelmente por ter sido privada de me ver.
Esse local não é para ela,  nem mesmo e pra mim,  a parte boa é que ela veio sozinha,  ou eu seria capaz de arrebentar a parede caso visse meus filhos em um local assim.
Alana tem 6 meses e minha mente viajou ao imaginar minha filha balbuciando palavras ininteligíveis a língua portuguesa.
Já João Pedro, está com 3 anos,  meu campeão.
Me lembro das mais de mil vezes que me peguei cantando.
"Eu tirei o ré da minha viola, da minha viola eu tirei o ré.
Rezar é muito bom e muito bom. Rezar é muito bom
É bom camarada é bom camarada é bom é bom é bom."
E todo um repertório de Patati Patata, galinha pitadinha e infinitos grupos infantis.
Eu sinto falta de acordar sufocado com o cabelo da Malu no meu rosto.
Sinto falta de chegar em casa e todos fazer uma festa por isso.
E assim, passou 6 meses e o cara enfim acordou do coma.
Parece que tentaram desligar seus aparelhos, afim de me prejudicar,  mas eu realmente não quero vingança.
Eu quero paz.
Eu quero minha família de volta.
Eu quero meu direto de ir e vir.
Servi de chacota para os policiais que me transportavam até o fórum municipal.
Em momento algum me senti humilhado.
Eu sei que sou inocente.
Caminho tranquilamente até meu posto e antes de sentar vejo Malu com terço em mãos, amparada por meus tios e minha irmã que também está sendo amparada pelos meus pais.
Minha mãe está com um brilho nos olhos de quem tem certeza que vai sair com o filho do lado.
Eu cheguei a pedir para ser uma audiência privativa, mas negaram por ser um caso de ibope.
O advogado do bandido, é conhecido com um dos mais impiedosos de Minas,  ele joga sujo e não perde uma causa sequer.
Eu ajudei meu advogado na causa, já que me formei em direito, mesmo sem  advogar.
Não estou com medo, mesmo sabendo que a justiça tende a ser falha.
Patrício,  que esteve em coma, foi chamado a depor.
Ele estava magro e ao meu ver, não tinha condições de estar ali. Um vento mais forte um pouco o derrubaria.
-----Patrício da Silva, jura falar a verdade apenas a verdade?
Ele balançou a cabeça afirmativamente e o juiz pediu que ele respondesse em voz alta.
----Sim.
O advogado dele começou a perguntar.
-----O senhor se lembra de quando foi baleado?
Diga sim , diga sim.
----Mais ou menos.
-----Você lembra de quem acertou?
Ele aponta para mim, suando de nervoso.
-----E como foi?
-----Meu carro morreu e fui descer para tentar empurrar quando fui atingido.
-----Mentiroso do caralho.
Sussurro baixinho para não tomar advertência.
-----É verdade que o acusado, estava transtornado?
-----Protesto excelência. Ele está induzindo a testemunha afirmar suas suposições.
-----Reformule a pergunta.
-----Qual o estado do acusado quando atingiu o senhor?
Patrício olha pra baixo três vezes e esfrega uma mão na outra.
Ele foi induzido a mentir.
-----Ele estava gritando e acertou alguém dentro do carro. E então saiu disparando.
Patrício tinha dificuldades de falar as palavras corretamente.
Não conseguia sequer passar por inocente.
E então fui chamado a depor.
Maria Luísa não estava presente e por isso, foi necessário repetir a pergunta.
----- Sim.
Digo com a mão direita levantada.
------Onde o senhor estava no dia do disparo?
-----Minha esposa e eu completavamos um ano de casados e deixamos nossos filhos com os meus pais. Fomos ao restaurante e conversamos amenidades como dois apaixonados. Chegando em frente ao meu portão, foram disparados várias vezes contra meu carro. Algo que pode ser comprovado facilmente por uma perícia. Minha esposa tinha tirado o cinto e por isso pedi para ela se abaixar.
E sai afim de assustar quem estava atirando, eu não mirei, apenas queria terminar de chegar em casa.
-----Então confessa que gritou com sua mulher?
----Essa pergunta é como pedir para escolher a vida dela ou a minha.  Eu pedi para ela abaixar e evitar assim que o carro blindado falhasse sua proteção.
Foi-me feita várias perguntas.
Chamaram vizinhos para depor e algumas pessoas que nunca vi para deporem contra mim.
-----Chamo ao tribunal, a última testemunha de defesa do acusado. Maria Luísa CALLEGARI.
-----Protesto excelência.
O advogado de Patrício de repente ficou nervoso.
E eu matei sua charada.
Ele queria me incriminar a qualquer custo e Maria Luísa se senta, assim que o Juiz negou a tentativa de protesto.
-----Tipo assim,  excelência,  eu posso te mostrar uma imagem antes das perguntas?
Mas que CARALHO de imagem e essa que não tô sabendo? 

(Concluído) O Outro lado da moedaOnde histórias criam vida. Descubra agora