Inimigos

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Maluquinha
"O medo é um inimigo muito feio"
Meu patrão pediu para eu dobrar o turno hoje, já que uma das meninas faltou por cólica menstrual.
As 13:30,  fui jogar o lixo como de costume,  quando sou surpreendida por uma mão com uma tatuagem de palhacinho com uma faca ultrapassando seu crânio de baixo para cima.
Meu corpo se arrepia de uma forma ruim.
Não estou julgando o livro pela capa, mas foi impossível disfarçar o medo do que a áurea negativa dele acarreta naturalmente.
Consigo me virar para o desconhecimento e em sua bochecha esquerda tem uma cicatriz tipo de um ferro queimado em formato de uma letra R.
O desconhecido continuou me encarando e eu que estava quase fazendo xixi na calça, perdi a voz.
Ele usava um boné de aba reta, olhos verdes escuros  e queixo quadrado. De forma alguma ele era feio,  apenas parecia mau.
Seu toque em meu braço parecia me queimar,  mas não consegui me mexer.
------Maria Luísa certo?
Balanço a cabeça afirmando parecendo um robô.
------Certo, certo. É uma pena você ser assim gostosinha.
Tento gaguejar um o que você quer, mas apenas sai um...
-----É. .. É. .. É.
-----Você é afrontosa por me olhar nos olhos e não virar o rosto em repulsa. Acho que não te matarei. Seria muito interessante manter você como a minha rainha.
Queria xingar e chutar, mas meus pés estão presos ao chão e minha língua?
O gato comeu.
E então ele continua.
-----Agora preciso que me responda algo sinceramente. Até onde voce iria por amor?
------Até o fim do mundo e meteria um tiro bem dado na sua cabeça caso meu namorado me ensine a atirar.
A coragem que eu não tinha,  saiu das profundezas do meu ser o desconhecido sorriu.
Uma gargalhada na verdade,  totalmente desprovida de humor.
-----Você tem coragem Maria Luísa. Como CALLEGARI te chama mesmo? Ae, MALUQUINHA. ____ele estala a língua pelo céu da boca e tenho medo de suas próximas palavras. -----Já pensou cada dia da semana receber um pedacinho do seu amado no apartamento dele?
------Não.
Diante meu grito, tenho absoluta certeza que ele já tem sua resposta.
-----Então ótimo Maluzinha,  a vida do coxinha está em suas mãos. É bem óbvio que ele não pode saber de nada, é nosso segredinho.
Ele se aproxima de mim, lambendo do meu queixo a minha boca.
------Sai de perto de mim, seu ogro nojento.
Como um feitiço que chegou ao final, me solto de seu aperto e cambaleio para um pouco mais distante de sua proximidade.
-----Tem certeza boneca?  Eu posso dar coisas que você jamais teria, inclusive manter vivo aquele mauricinho metido a besta.
-----Apenas não faça nada com Pedro.
O desconhecido se afasta e não consigo investigar a direção.
Meu dia passa nublado e cheio de serás.
Ele não estava para brincadeira.
Isso eu pude sentir a quilômetros de distância.
Saio da padaria e encontro o sorriso caloroso de CALLEGARI a me receber e um abraço que mesmo sem saber dos problemas,  me diz que em algum momento tudo vai ficar bem.
Pedro havia saído do serviço mais cedo e ao chegarmos em casa a janta já estava pronta.
Devo confessar que acostumo fácil a esses mimos...
Pois é,  eu já me acostumei!
------Já pro banho mocinha,  hoje seu dia foi cansativo ao quadrado.
Dou mais um abraço em Pedro, sentindo uma saudade antecipada.
Tenho medo das exigências do desconhecido para que Pedro fique em segurança.
Sigo obedientemente ao banho quente e relaxa tirando um pouco do sufocamento que o medo me causa.
A panqueca de pizza que Pedro preparou estava simplesmente divina.
Seu olhar é mais do que observador e sim avaliativo.
-----Você está tão quietinha hoje. Aconteceu algo?
------É só o cansaço.
-----Então vamos por minha bebê cansadinha para dormir.
Sorrio verdadeiramente a primeira vez no dia, pós desconhecido.
------Você falando fofo assim e bem extremista em relação ao Callegari alfa.
------Sou mil utilidades baby.
Pedro me pega em seu colo nos levando para o quarto e nos amamos lenta e intensamente.
Ficamos em um silêncio confortável que me trazia paz.
------Me ensina a atirar?
Os músculos de Pedro se retesaram embaixo do meu corpo.
-----Por que isso agora Maria Luísa?
São raros os momentos que Pedro me chama pelo nome completo.
Tento fingir ser um pensamento aleatório dando de ombros.
------A gente nunca sabe quando podemos precisar aqui no Rio. Você é policial.
-----Sua justificativa não me convenceu.
-----Não precisa ser tratamento de FBI, apenas o básico. Você me deixa correndo perigo sem saber o básico.
------Isso está fora de cogitação.
------Então tentarei descobrir a identidade do Justiceiro,  quem sabe ele não pode me ajudar.
Digo em tom de brincadeira,  mas Pedro se levanta bravo, saindo do quarto.
NÃO é possível que ele tenha ficado com ciúmes de uma lenda que passa na tv.
Fico com raiva de sua atitude desnecessária  e minha mente divaga.
"Estou em uma balada,  com músicas agitadas tocando.
De olhos fechados com a pulseirinha do camarote open bar.
Danço como se tivesse apenas eu ali e é extremamente prazeroso.
Aquele homem assustador de mais cedo aparece e tenta me puxar com força tentando fazer de mim uma de suas vitimas e assim,  aparece um homem de calça moletom preta, sem camisa e com uma máscara encobrindo seus olhos, fazendo minha calcinha molhar, mesmo em meio ao caos.
------Justiceiro,  que bom que apareceu.
-----CALLEGARI pediu para cuidar de você.
Sigo o justiceiro voluntariamente e antes de se despedir ele me rouba um beijo que parecia com o de Pedro. "
-----Acorda Malu.
Desorientada, não sei se dormi ou se estava apenas imaginando.
Pedro estava gelado como se tivesse saído de casa.
------Que horas são?
Três e meia da manhã.
------Onde você estava?  Com quem você estava? E por que só me acordou agora?
------Estava checando algumas câmeras de segurança. E é engraçado que as da rua do seu serviço não esteja funcionando.
------E o que eu tenho a ver com isso Pedro?
-----Oras Malu,  do nada você quer aprender a atirar e estava silenciosa essa noite.
Medo percorre minhas veias e eu só queria poder contar tudo a ele.
------Ah Pedro, é que vi naquele filme Missão Impossível ou Adrenalina que o homem entrega a arma para sua parceira atirar. Ai pensei que se fosse uma situação assim com a gente, eu só saberia gritar e te dar trabalho.
Não sei da onde tirei essa história,  mas pelo menos Pedro não saiu foragido como mais cedo.
Pedro vai tirando a roupa em que saiu de casa e admiro seu corpo gostoso e juntamente com a espécie de sonho que tive,  fiquei de pé na cama retirando meu pijama.
-----Você já é meu justiceiro Pedro, eu não preciso de uma lenda de TV.
Pedro parece não concordar, mas se aproxima sugando com vontade um dos seios que estava arrepiado devido a temperatura um pouquinho mais fria do que a debaixo do cobertor.

(Concluído) O Outro lado da moedaOnde histórias criam vida. Descubra agora