Malu

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CAPÍTULO 32
Malu
" Maria Lúcia era uma menina linda,  o coração dele para ela santo Cristo prometeu.
Ele dizia que queria se casar, carpinteiro ele voltou a ser,
Maria Lúcia pra sempre vou te amar e um filho com voce eu quero ter. " faroeste caboclo Legião Urbana

Aflição.
Desespero.
Ódio.
Raiva.
Vingança.
Esses foram os sentimentos que me dominaram ao ver as fotos e os vídeos de Pedro sendo castigado.
Com três dias internadas recebi alta.
Mel, Mari e Ruan me levaram até o apartamento de Pedro e sua presença era muito viva ali.
Podia ouvir sua risada, sentir seu olhar me comendo viva enquanto estava cozinhando.
Em silêncio passei em cada cômodo.
Era como se ele estivesse ali sem realmente estar.
Eu falava dele no passado, mas ele ainda está vivo entre nós.
A face de Pedro, era de quem não desistiu mesmo diante tantas torturas físicas e psicológicas.
"Você disse no começo que queria a mim, você pode ter, apenas liberte o Pedro."
"Agora que eu sei que posso ter mais,  vou aumentar minha listinha."
O desespero me tomou ao imaginar o que significava esse mais.
"O que seria essa listinha?”
"Quero um caminhão de coca que tá vindo da Bolívia.”
"Onde vou conseguir um caminhão de Coca-cola?”
"Aff garota burra, é coca de cocaína! Se vira, de seus pulos, apenas me mande mensagem se tiver uma resposta certeira."
Sigo cambaleando até a sala e meus sogros estão sentados no sofá.
Mari fazia cafuné em Ruan que tinha a cabeça em seu ombro.
Ao me avistar, ambos ficaram de pé.
-----Ele quer um caminhão de coca.
Melanie surge descabelada em minhas costas e me abraça.
Todas nos olhávamos para Ruan como se ele tivesse a resposta.
----Eu não tenho a resposta ok? Não tenho nem contatos mais.
------É a vida do nosso filho Ruan.

Em alguns momentos,  Mari era uma fortaleza, mas em outros parecia de porcelana.
------O que esta sugerindo Mariany?
-----Que seja o panelinha e traga nosso filho de volta.
Mel faz um sinal para Ruan e vão os dois para o escritório.
Mesmo não sendo intima de Mari, vou até ela abraçando - a à fim de acreditar que tudo irá ficar bem.
---------
Ao som de Matheus e Kauã, chorando provavelmente as minhas últimas reservas, escrevo uma carta aos meus pais.
Não sei quando vai chegar,  mas algumas coisas sempre precisam ser ditas.
"Queridos mãe e pai,
Primeiramente agradeço a vocês por terem me dado a oportunidade de vir ao mundo.
Vocês me criaram,  me deram amor e isso pra mim na época era pouco.
Vir para o Rio de Janeiro significava melhorias financeiras. Eu queria coisas materiais que o campo não poderia me proporcionar.
Eu tinha medo de uma outra queimada nos deixar absolutamente sem nada.
Depender da terra, era um risco que eu não queria correr no futuro longínquo.
Quando cheguei aqui na cidade grande e maravilhosa, eu cai na real.
Não era tao fácil quando parecia na TV e eu fugi da ideia de ir pra São Paulo por medo da decepção e cai na boca do lobo.
Consegui um apertamento caindo aos pedaços e um serviço honesto em uma padaria e assim ainda guardava um troquinho,  já que minha dieta era regrada a miojo e macarronada com salsicha.
Mamãe, não me mate.
Só que o destino me reservou algo que dinheiro algum poderia pagar.
O amor!
No começo achei que seria luxúria por um homem extremamente lindo e simpático.
E sim, era o amor que deu as caras.
Só que esse amor é policial e de quebra filho de um homem bom, mas que tem o passado podre que está cobrando seu preço com juros e correção monetária abusivos.
Seria fácil abandonar tudo e ir pra Rolândia de novo, mas sou incapaz.
E é por isso que envio a vocês essa carta.
Se ela não for um adeus, estarei indo visitá-los em breve.
Beijo
Amo vocês.
A suas bênçãos. "
Levanto após lacrar a carta e por um selo fofinho com seus devidos destinatários e remetentes.
O quarto de repente parece grande demais.
Soco o travesseiro e vou até o cesto de roupa pegando mais uma blusa de Pedro para me fazer lembrar.
Olho o relógio e já são uma da manhã.
Do lado de fora do quarto apenas o silêncio.
Volto de novo na música do Matheus e Kauã e o meu peito dilacera mais um pouco.
"Amor,
Não me odeie por não aguentar ver você sofrer.
Isso não condiz com o tamanho do meu sentimento.
Sempre me questionei porque que de tantas mulheres lindas e envolventes,  sexy pra cacete você me escolheu.
Ainda hoje, tento encontrar um defeito seu, mas não achei.
Eu queria ser capaz de cumprir minha promessa de nunca te abandonar,  mas entre sua vida e a minha eu escolho a sua.
Não perca seu precioso tempo sendo o Coringa indo atrás da Alerquina.
Eu realmente não mereço.
Quando os dias se tornarem difíceis demais, lembre-se dos nossos momentos juntos.
Lembre-se da festa a fantasia que foi de longe nosso momento mais louco.
De onde eu estiver,  meus pensamentos estarão em você, te mandando força.
Quero sua família bem e unida como presenciei e achei o máximo.
Não poderei cumprir minha promessa, mas por favor seja feliz meu amor.
Não te amo porque fui induzida a isso.
Eu te amo porque é impossível te odiar.
De sua
Sempre sua.
Maluquinha...”

Escuto uma movimentação estranha na sala e corro pra ver.
Melanie arrastava um Ruan com um ferimento de bala na barriga e suando.
------Chama a Mari corre.
Ainda desorientada,  corro pela casa até Mari.
-----Mari corre e o Ruan ele tá ferido.
Descalça e de pijama,  Mari pega sua maleta e me segue tremendo.
Estou tão assustada com a cena que só percebo meu nome sendo chamado quando Mari me grita pedindo água e pano.
Volto a correr pela casa e tento ajudar com o que dá.
Não foi grave , foi de raspão na verdade e o ferimento foi cessado habilmente.
Mel me olha e diz:
------A Carga já está na cidade. Foi arriscado, mas conseguimos.
Ninguém precisou me dizer mais nada, até porque não havia mais nada a declarar.
Vou para o quarto e pego o celular.
"A Carga está na cidade como você queria. Traga o Pedro e irei com você. Minha única exigência é vê-lo uma última vez.”
"OK.”
Na noite seguinte,  retiro minha mochila e encho de roupas.
As 23 horas saio de casa e há um carro me esperando.
As 23:30 horas estou em frente uma sala de hospital.
Às 00:00 horas. Sigo para meu martírio.

(Concluído) O Outro lado da moedaOnde histórias criam vida. Descubra agora