CAPÍTULO 57
Malu
" Dificuldade, todo mundo passa
Mas não justifica entrar em parada errada
Dificuldade, todo mundo tem
Mas não é motivo pra se desviar do bem
A coisa tá complicada, também nunca foi boa
Levar a vida está difícil pra qualquer pessoa
Dificuldade, tá ligado todo mundo tem
O que não pode é se esquecer e se desviar do bem
Eu tô contigo, meu amigo, pra te dar um toque
Não tô aqui pra aparecer nem dar ibope
Eu sou do hip-hop e vim da ralação
O papo é reto, não faz curva
É de irmão pra irmão
Já desistiu quando encontrou a primeira barreira
Seria fácil se não tivesse pedra no caminho
Isso faz parte, a vida não é brincadeira
Se serve de consolo você não está sozinho
O bonde errado, quase sempre sai do trilho
Não vai te dar futuro nem vai dar futuro pro seu filho
Eu já vi muita gente assim no desespero
Deixar o sonho de lado e entrar num pesadelo
A liberdade vale mais do que qualquer matéria
Você sozinho não resolve o problema
Conscientização é arma que derruba a miséria
E a união é que transforma o sistema
Sou otimista quando falo do nosso país
Não pode ser tão difícil a gente ser feliz
Tem que ter fé em Deus e acreditar
E é só ficar ligado, cumpadi, que a tua hora vai chegar
Tem muita gente que nos olha diferente
Pensa que somos doentes, dementes
Porque não existe tempo ruim pra gente
É uma tribo que gosta de um agito
Que carrega um brinco na língua, no nariz, no umbigo
É formadora de opinião
Zoa em prol da união
Não importa a sua classe só tem que ser sangue-bom
E não deixe o desespero abalar o sistema
É com a cabeça no lugar que a gente muda o esquema"
Dificuldade, Nocaute
Às vezes parece que o mar não está pra peixe, mas tudo bem.
Eu tenho força o suficiente pra lutar todo esse período por dois.
O serviço que consegui na lanchonete, era o suficiente no começo, mas fralda e leite pra dois, além dos outros gastos, era maior que meu pequeno orçamento no momento.
A cada segundo livre para respirar que tenho, envio pensamentos positivos para Pedro e oro por sua libertação.
Passei em frente a uma construtora e estava com os seguintes dizeres:
"Contrata-se servente.
Sexo Masculino.
Idade: ate 27 anos."
Eu achei uma afronta, mas mesmo assim peguei meu currículo murcho e entrei no local.
A secretária me olha como se eu tivesse duas cabeças.
----Bom dia, gostaria de entregar um curriculum.
-----É para seu namorado?
-----Não é para mim mesmo.
----A vaga é para o sexo masculino.
-----Eu li, posso falar com a pessoa responsável por favor?
Muito contra a gosto, ela liga para um número interno e autoriza minha passagem.
Cumprimento a senhora Barros e nos sentamos.
-----Em que posso te ajudar?
-----Eu vim para preencher a vaga de servente. Eu fiz as contas e mesmo com o desconto seria um salário aproximado de mais de R$1.200,00. ___faço uma pausa e continuo.-----Desculpa, eu não me apresentei. Meu nome é Maria Luísa, mais conhecida como Malu, 27 anos, dois filhos que ficam na escola e em caso de emergência tem avós, tios, papagaios e periquitos que possa cuidar deles. Não sou do sexo masculino, mas tenho disposição e garra para ser seu melhor servente em toda galáxia de qualquer construtora. Só preciso de uma oportunidade. Talvez tenha que fazer o dobro de viagens com os materiais de construção que um homem faria. Mas estou disposta a aprender mais sobre concreto, revestimento e como cavar um buraco com precisão. Não sou apenas uma mãe desesperada para ter o que dar para seus filhos. Sou uma mulher que pode acrescentar positivamente para a sua empresa.
------Uau, é muita informação para poucos segundos Maria Luísa. Eu vou passar todas essas informações para meu chefe e se ele tiver de acordo eu entro em contato.
------Muito obrigada por me ouvir, meu número atualizado está no meu curriculum.
Saí com esperança renovada.
Na manhã seguinte, já não era mais uma garçonete e sim uma servente.
Não sei qual foi o milagre que fez acreditarem em mim, mas fiquei muito feliz, mesmo tendo que passar na farmácia e comprar um relaxante muscular da pesada para aguentar o tranco.
Eu poderia tentar serviço em qualquer área.
Poderia até me prostituir, mas eu acredito nos propósitos de Deus e uma vozinha me cutucou a entrar.
Assim como todos eu usava o uniforme.
De inicio fui totalmente excluída pelos meus colegas de trabalho.
Eles davam serviço até pros cachorrinhos, menos pra mim.
Resultado?
Reclamei pro chefe.
Mentira!
Eu escutava o chefe deles darem um serviço e ia fazer também. Às vezes, primeiro que os homens e isso começou a chamar a atenção pra mim.
Eu ainda não havia recebido.
Não sou orgulhosa nem nada, mas penso comigo que, a partir do momento que se cria uma família, você tem que arcar com as consciências dela.
Não havia nada além de arroz em minha marmita e alguns idiotas tiraram o dia para me encher o saco.
Deu onze horas e todos largaram seu serviço, menos eu.
Havia bebido bastante água para forrar o estômago e assim aguentar até o meu limite
Eu já estava com a consciência pesada por ter bebido um pouco do leite do João Pedro.
-----Não vai almoçar?
Ricardo era um dos chefes e pouco dos que me tratavam bem.
----Ainda não, eu preciso adiantar minha parte do serviço.
-----Você sabe que trabalha mais que alguns, ne? Suas mãos tem bolhas.
-----Sei, mas não me importo.
Vejo um dos caras correndo com minha marmita.
-----A patricinha não vai almoçar.
-----Ricardo por favor, pede pra ele devolver.
Antes que Ricardo pudesse abrir a boca um deles abriu a marmita e eu voei nele, porém Ricardo me segurou.
-----Respeite os outros seu idiota. Eu não estou aqui pra fazer média. Se você não sabe o que é trabalho honesto. Procure pesquisar.
No mesmo momento, que falei, eu percebi que ninguém estava rindo.
Um a um me pediram desculpas.
Não me importava de trabalhar com fome.
Eu só queria respeito.
O mesmo cara que me humilhou pediu uma marmitex para mim como pedido de desculpas.
Apenas comi porque estava com fome.
Às dez da noite, alguém bate na minha porta.
Era meus colegas de serviço com leite e cesta básica pra mim e as crianças.
Sem saber o que fazer, abraço um a um.
Era mais, muito mais do que eu esperava.
Aproveitando que estava no centro passei no advogado do Pedro e fui atualizada do caso.
Eles tinham medo de qual artimanha o advogado iria usar.
-----Patrício ainda está no hospital?
Pergunto com minha mente a mil.
------Sim, vai ter alta apenas no dia da audiência.
-----Hum, nossa é complicado ne?
------O pior é que não temos uma imagem, um vídeo nada que possa inocentar Pedro já que as armas sumiram de repente.
Bato com a mão na cabeça.
-----Velho sou muito burra.
-----O que Malu?
-----Apenas me coloque como testemunha.
-----Eles vão protestar.
----Assim como vão mentir.
Puxo do meu bolso uma carta pro Pedro.
Depois da primeira visita, apenas consegui ir visita-ló duas vezes.
E foi antes de trabalhar na construtora.
Chego ao hospital e vou direto para a área de serviço.
Uma mulher morena como eu, entra no vestiário e vou atrás.
-----Você não pode entrar aqui.
-----Você tem duas opções, me ajudar ou eu quebrar a sua cara.
-----Você é louca. Vou chamar os seguranças.
Meu plano não deu certo e faço a última coisa que queria no momento.
Sento na cadeira próxima e choro.
Solicita a enfermeira me pergunta se estou bem e conto toda minha historia pra ela.
-----Bem, talvez eu possa ir em casa por uma horinha. Patrício está no quarto 215 mesmo.
Levanto num impulso abraçando Inês.
------Obrigada, obrigada mil vezes obrigada.
Visto seu uniforme que caiu como uma luva e ela veste minha roupa.
Me da uma aulinha super básica do que devo fazer e se vai.
Se eu fosse uma assassina em série matava geral hoje.
Sorrio com minha idiotice e sigo para o quarto do ordinário.
Assim que entro para dar a comida a ele, ligo o gravador.
----Boa tarde, Patrício.
-----Falsa.
----Que isso? Está cansado de ficar aqui?
----Me diga quanto te pagaram para me matar?
----Oxi, Deus me livre. Não mato nem barata. Vai me conta sua história.
Digo com voz sedutora.
-----Não.
------Você gosta de sobremesa?
---Gosto de pudim.
-----Se conversar comigo de boa, trago pudim pra você antes de dormir.
-----Só porque está sendo legal comigo.
----Ai que amorzinho você.
Faço um carinho em seu rosto incentivando ele a falar.
-----Uns gambe do Rio, se viraram com uma comunidade de São Paulo tá ligada?
-----Meu Deus. O que queriam?
-----Executar uma família que mudou pra cá. Você não conhece.
-----É o que passou na TV? Um tal Cal Cal alguma coisa?
-----Callegari. Pedro Callegari. O cara é uma máquina e não conseguia pegar ele de jeito nenhum. Era uma rixa antiga acho e ofereceram 200 mil pra matar a família dele.
------Você aceitou?
------Sim, meus parsa e eu tava precisando de grana. Só que tipo o soldado Borges e o Souza, ia liberar uma carga pra gente se fosse um serviço bem completo memo. Só que eu não sabia que o cara tava armado. Foi ai que deu ruim pra nós.
------Nossa. Mas você foi burro de ir sozinho.
-----Fui não. Eu e meus parsa se armamo até o dente, e fomo pra cima. Parece que quando me atingiram os gambe sumiram com tudo. Ai a nossa única chance de receber é incriminando ele.
-----Mas se falar a verdade, Deus te perdoa.
-----Ai tô morto. É muito nego da pesada querendo minha cabeça.
---Tadinho de você.
-----Pois é.
-----Patrício você tem que comer tudo pra ficar forte.
-----E o pudim? Eu não esqueci. Vou trazer pra você. Enquanto come vou fazer o curativo tá bom?
Dou stop no gravador e faço o curativo rangendo de raiva.
A hora era agora.!(!((!(!(!(!_!?!?!_!_!_!_!_!_!_
Eita que Malu e porreta.
Lembre do dia?
Lugar de mulher é onde ela quiser.
E o respeito tem que vir independentemente se estamos de acordo ou NÃO.
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(Concluído) O Outro lado da moeda
ChickLitPedro é filho do ex maior traficante de Sao Paulo que teve sua vida mudada ao ir atras de namorada que era irmã de sua ex pior inimiga Policial . Pedro segue os caminhos da Tia , se tornando o melhor policial que o batalhão JA viu, porem por descord...