Capítulo 10

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S/N

    - Ai, meu Deus! Você não pode estar falando sério! - murmura Shawna, enquanto mastiga um pedaço de bolo de casamento.

    Quero rir das migalhas que voam da sua boca. Acompanhá-la a degustação de bolo foi a coisa mais divertida, perdendo apenas para a festa de despedida de solteira.

    - Bem que eu gostaria de estar brincando, mas não estou. Foi horrível - Sinto o rosto ruborizar de vergonha só de contar o que aconteceu com Harry.

    - Bem, pelo menos foi o irmão e não aquele que você praticamente violentou.

    Dou um tapinha no braço da Shawna.

    - Eu não violentei ninguém!

    - Não, mas bem que queria.

    - Foi mais como...

    - Não minta pra mim, sua piranha! Eu te conheço muito bem. Ele tinha aquela coisa de bad boy. Fiquei surpresa por você não ter enroscado as pernas, a boca e tudo mais no corpo dele, ali mesmo.

    - Meu Deus, Shawna, você fala como se eu fosse uma mulher da vida.

    - Mulher da vida? Que termo é esse? - Ela me lança um olhar cético.

    Então, nós duas damos uma risadinha. A minha se transforma em uma gargalhada escancarada, quando vejo a cobertura vermelha do bolo no dente da Shawna.

    - Não conta pra ninguém. Esse era um termo usado pela S/M - explico, referindo-me à minha mãe. Ela era a "madame perfeitinha". Palavras como puta e vadia não faziam parte do seu vocabulário. Mas, pelo visto, divórcio e abandono sim.

    - Nem comece a falar dela. Vou trucidar uma piranha!

    - Sabe, de fato é meio assustador você dizer isso agora com esses dentes. Parece que você acabou de comer o fígado de alguém. - A cobertura na sua boca, vermelha como sangue.

    - Foi o que fiz. E estava delicioso como um belo vinho Chianti e um pouquinho de feijão fava - diz Shawna, na sua melhor imitação da voz de Hannibal Lecter, fazendo um ruído esquisito com a boca em seguida, como se estivesse sugando alguma coisa.

    Gargalhamos de novo, chamando a atenção da atendente elegante da loja, que nos lança um olhar de repreensão.

    - Acho bom você se comportar. Posso apostar que dá azar ser expulsar de uma loja de bolo de casamento um mês antes da cerimônia.

    Shawna sorri com recato para a atendente, os lábios praticamente fechados enquanto fala comigo:
   
    - Se você tivesse um pedaço de carvão, nós poderíamos segurá-la, enfiá-lo na bunda dela, e voltar daqui a alguns dias para buscar um enorme diamante.

    - Tenho certeza que leva mais do que alguns dias para o carvão virar um diamante, Shawna.

    - Não naquela bunda apertada.

    Lançando um olhar discreto à mulher de rosto sisudo, mudo de opinião.

    - Você deve ter razão.

    - Bem, enquanto temos todo esse doce circulando pelo nosso sangue, vamos arquitetar um plano para você roubar o Harry da Marissa. Garanto que seria o melhor presente de casamento do mudo ver a cara daquela piranha metida.

    - O quê? Ficou louca? Não vou roubar ninguém de ninguém!

    -  E por que não? Esse cara parece ser tudo que você sempre  quis.

    Eu dou um suspiro.

    -  Eu sei. - E é verdade. Ele é incrivelmente lindo, encantador, obviamente inteligente, bem-sucedido, maduro, responsável. Tudo que minha mãe tinha enfiado na minha cabeça, desde que eu era criança. Tudo que ela achava que o meu pai não era. E Harry também não é um bad boy, o que é a sua melhor qualidade.

    Posso discordar da minha mãe em muitas coisas, mas sei que ela tem razão em relação ao tipo de homem que se deve ter em mente. Tive a oportunidade de comprovar a teoria dela repetidas vezes. Talvez alguém como Harry pudesse ajudar a mudar o meu  coração teimoso. Até agora, parece que estou destinada a me apaixonar pelo cara errado.

    -  Então, qual é o problema? Vá atrás dele.

    - Não é tão simples assim. Em primeiro lugar, não sou esse tipo de mulher.

    Shawna pousa o garfo e me olha furiosa.

    - E que tipo de mulher seria esse, exatamente? - pergunta ela. - O tipo que vai atrás daquilo que quer? O tipo que assume o controle da própria vida? O tipo que faz tudo o que puder para encontrar a felicidade? Ah, não. Você não é esse tipo, de jeito nenhum. Você é a mártir. Você é aquela que vai deixar a vida passar só para não correr mais riscos.

    - Querer um diploma que vai me dar a chance de ajudar o meu pai não faz de mim uma mártir.

    - Não, mas desistir de outras áreas da vida para poder voltar a morar no quinto dos infernos, sim.

    - Ele já teve uma mulher que o abandonou. Eu me recuso a ser a segunda - argumento, sem conseguir evitar o tom agudo na voz.

    Shawna está mexendo com as minhas emoções.

    - Viver a sua vida não significa abandonar seu pai, S/N.

    - Isto foi exatamente o que ela falou.

    Em relação a isto, Shawna não diz nada.

    Em relação a isto, Shawna não diz nada

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Louca por você - Tom H.Onde histórias criam vida. Descubra agora