Capítulo 36

128 16 7
                                    

    Preciso que alguém me ajude a conectá-lo na bateria de outro carro. Detesto ligar para um reboque para algo tão simples. Custaria uma fortuna. E meus recursos estão assustadoramente escassos agora.

    Isto é o que acontece quando se passa os dois primeiros anos de faculdade atrás de um cara e o terceiro, completamente isolada.

    Fecho os olhos e tento pensar. Como sempre, dois rostos, rostos idênticos, flutuam pela minha mente.

    Harry provavelmente tem planos. Segundo Marissa, ele está sempre muito ocupado. Eu odiaria lançar mão da estratégia de donzela em apuros e interrompê-lo, por mais que aprecie a ideia de vê-lo me salvar.

    Então, penso em Tom. Ele administra o próprio negócio e desaparece por várias horas, regularmente, toda noite. Além disso, está apenas a poucas quadras daqui. Seria a escolha lógica.

    Mas só de pensar na nossa última conversa, meu estômago tremula e eu me pergunto o que ele poderia pedir como forma de pagamento.

    Entretanto, não posso negar que a perspectiva me deixa excitada.

    Experimente os dois.

    Afastando a voz de Ginger da minha cabeça, pego o celular e procuro o número de Tom na lista de contatos. Ele atende no segundo toque.

    - Tom, oi, é S/N.

    - O que houve? - pergunta ele, abruptamente. Seu tom direto me surpreende. Não sei bem o que esperava, mas com certeza não era isso. Imaginei que ele atenderia todo sexy e sedutor, e tentaria me convencer a transar com ele. O mais triste é que me sinto um pouco desapontada por ele não ter feito isso.

    - Estou te incomodando? Porque, se quiser...

    - Não, tudo bem, pode falar. O que houve? - repete.

    - Bem, desculpe ligar por causa de algo assim, mas a bateria do meu carro arriou, eu acho, e estou meio presa aqui. Será que você poderia vir me ajudar? Estou a poucas quadras da boate.

    Há uma pausa. E parece uma pausa longa, sobretudo quando  já estou ansiosa e apreensiva. Por um segundo, chego a pensar em desligar. Será que seria uma atitude infantil? Bem, depois de fazer algo tão constrangedor, eu seria forçada a sair da Dual, largar a faculdade, voltar a morar na casa do meu pai e deixar toda a minha humilhação recente para trás, na cidade grande. E por mais drástico que isso possa parecer, às vezes parece uma ideia incrivelmente tentadora. Mas não faço nada. Apenas espero. Enquanto meu rosto queima de humilhação e vergonha.

    - Me diga onde você está.

    Dou o endereço a ele.

    - Será que você poderia esperar uns 15 minutos? Preciso fazer uma coisa antes de sair, mas depois vou direto para aí.

    - Tudo bem. O tempo que precisar.

    - Que tal voltar para o bar e beber alguma coisa enquanto espera? Eu não gosto da ideia de você ficar do lado de fora, no carro, sozinha. Você está sozinha, não está?

    -  Sim, estou sozinha. Mas vou ficar numa boa. Eu só...

    - S/N, eu realmente não gosto disso. Você não pode voltar para o bar? Considere como um favor.

    Quando ele coloca as coisas dessa forma...

    - Certo. Vou voltar para o bar - respondo. - Ligue para mim quando chegar.

    - Te vejo daqui a pouco - diz, antes de desligar.

    Eu guardo o telefone na bolsa, abaixo o retrovisor e dou uma conferida na maquiagem. Sei  que não devia me preocupar, mas fico contente de ter dado uma caprichada no visual para  encontrar Ginger. Após retocar o batom rosa, passo os dedos pelo  meu cabelo e ajeito a blusa vermelha, de ombro recortado.

    De volta ao bar, peço uma cerveja. É barata, portanto não me incomodo de ter que deixá-la quando Tom aparecer. Além do  mais, alguns goles não vão me deixar embriagada.

    Vinte minutos se passam e eu já verifiquei o meu telefone umas seis vezes. Estou começando a me perguntar se todo mundo resolveu me dar o bolo esta noite, quando a porta se abre e vejo Tom andando com passos largos, na minha direção.

    Minha boca seca completamente quando os seus olhos encontram os meus, e ele abre um sorriso convencido, erguendo um canto da boca. Queria que as suas pernas não devorassem o espaço entre nós tão rapidamente. Eu poderia somente fitá-lo, passar o dia todo apenas observando-o se movimentar. Seu físico é tão perfeito e ele fica tremendamente irresistível no seu "uniforme de trabalho", com uma calça e uma camisa preta que se ajustam perfeitamente ao seu corpo, e botas da mesma cor. A camisa realça seus ombros largos, os quadris estreitos, e a cor de mel da sua pele. E aqueles olhos. Olhos castanhos maravilhosos. Eles brilham como gotas de ébano no seu rosto lindo. Quando chega perto de mim, estou considerando a necessidade de uma troca de calcinha.

    Começo a me levantar,  mas ele interrompe meu gesto.

    - Termine a sua cerveja - diz, antes de acenar ao bartender. - Um Jack Daniel's. Puro e sem gelo.

    Quando o bartender serve a bebida, Tom toma um gole e se vira para mim, como se estivesse se acomodando.

    - Afinal, por que você está aqui, bebendo sozinha?

    Nervosa, fico esfregando o polegar no rótulo da garrafa de cerveja.

    - Eu ia encontrar uma pessoa que precisou cancelar. Depois que eu já tinha chegado, obviamente - explico, com um toque de amargura gotejando na minha voz.

    - Quer que eu dê uma surra nele? - pergunta ele. Quando levanto os olhos, ele está sorrindo e me fitando por cima do copo.

    - Não. Você poderia ficar  envergonhado quando ela levasse a melhor e desse uma surra em você.

    - Ahhhh, está falando da sua namorada lésbica e fortona?

    Seus olhos estão brilhando. Ele está me provocando. E aparentemente curtindo muito isso. Era mais ou menos uma reação assim que eu esperava quando telefonei. Bem, não tanto, realmente.

    Essa brincadeira é inesperada e muito... sedutora.

    Não caia na sedução dele.

    Mas então me lembro das palavras da Ginger. E fico um  pouco mais ousada.

    - Não, eu não curto garotas. Gosto demais de... homem.

    Fico me perguntando se a imagem de mulher fatal na minha cabeça tenha saído brega e vulgar, em vez disso.

    Tarde demais.

    - Ontem à noite eu fiquei com a impressão de que isso fosse verdade. - Ele me olha intrigado, arqueando a sombrancelha, e seus lábios formam o sorriso que está tentando conter.

    Puta merda, ele é tão sexy!

    - O que isso significa?

    - É meio difícil de explicar - responde, inclinando-se na minha direção e abaixando a voz. - Mas eu ficaria feliz de mostrar se você quiser.

****

Louca por você - Tom H.Onde histórias criam vida. Descubra agora