Dou uma conferida no marcador de gasolina. Pela metade. Não é esse o problema. Dou uma olhada nas luzes do painel. Tudo aceso e nos conformes. Não é bateria fraca. Fora isso, não faço a menor ideia do que verificar.
Sinto-me completamente perdida, olhando para o volante, me perguntando o que vou fazer, quando vejo Harry atravessar em frente ao meu carro e se aproximar da janela. Eu abaixo o vidro.
Tento sorrir, quando minha vontade é de chorar.
- O carro não quer pegar? - pergunta ele.
- Não
- O que acha que deve ser?
- Não faço ideia. Eu tenho ovários; portanto, tenho aversão a tudo o que é mecânico.
Ele dá uma gargalhada.
- Você é do tipo que só sabe colocar gasolina e trocar o óleo, não é?
- Mais ou menos isso.
- Vou dar uma olhada. Dá para levantar o capô? - pergunta Harry, enquanto arregaça as mangas da camisa.
Nossa, até o antebraço do cara é sexy!
Então, olho para a minha esquerda. Vejo o pequeno símbolo do capô. Ainda bem que pelo menos isso eu sei onde fica.
Puxo a alavanca.
Não sei se devo sair do carro ou ficar quietinha. Com objetivo de autopreservação, opto por ficar quietinha. Permanecer no carro, distante de Harry, reduz drasticamente a probabilidade de fazer ou dizer algo idiota. Isto sempre é bom.
Pela fenda da dobradiça do capô, posso ver Harry mexendo em um monte de coisas, puxando mangueiras e fios e forçando algo para baixo. Então vejo-o sacudir as mãos e fechar o capô.
Ele volta à janela.
- Não consegui descobrir nada de errado a princípio, mas não sou mecânico. Parece que este carro que não vai andar durante um bom tempo. Quer que eu chame o reboque?
Não consigo evitar um profundo suspiro de frustração.
- Não, tudo bem. Faço isso depois de ligar para o trabalho.
- Tem certeza?
Abro o sorriso mais confiante que consigo, o que não é lá essas coisas, tenho certeza.
- Sim, absoluta. Mas obrigada de qualquer jeito.
- Quer que eu espere com você?
O meu riso é amargo.
- Não precisa. Eu prefiro levar bronca sem a presença de outras pessoas, se você não se importa.
Ele me olha intrigado e fala:
- Vai ter problemas no trabalho?
Eu faço um gesto com a mão, demonstrando que está tudo bem.
- Nada que não seja habitual.
Ele acena com a cabeça e começa a se afastar, mas para de repente.
Eu o vejo conferir a hora no relógio e, em seguida, levantar os olhos, como se estivesse pensando. Fica óbvio que sua mente está acelerada.
- Você não quer uma carona?
- De jeito nenhum! Você já tem planos com a Marissa. Além disso, meu trabalho fica totalmente fora do seu caminho. Salt Springs é totalmente fora do caminho de qualquer pessoa.
- Nós íamos apenas sair com alguns colegas. Posso chegar um pouco atrasado. Não é nada importante.
- Bem, pra mim é. Vou ficar bem. Agradeço a gentileza, mas vou ser obrigada a recusar.
- Recusar? - diz Harry, piscando os olhos de um jeito malicioso. - E se eu insistir?
- Pode insistir o quanto quiser. A minha resposta não vai mudar.
Harry olha para mim, cerrando os olhos, e dá um meio sorriso com o canto dos lábios. Em seguida, caminha lentamente até a janela do meu carro e se debruça, colocando os braços no espaço aberto. Seu rosto está a poucos centímetros do meu.
- Eu poderia forçá-la.
A maneira como ele diz isso passa a impressão de algo misterioso e indecente, e totalmente irresistível. Fico imaginando o que eu gostaria que ele me forçasse a fazer.
Há um termo repugnante para isso, quando um cara força uma mulher a prestar favores sexuais. Mas como é mesmo que se diz por aí? Se for consentido, não é estrupo. E, no meu caso, seria consentido. E como!
Minha boca está tão seca que a língua fica presa no céu da boca. E o máximo que consigo fazer é balançar a cabeça, negativamente.
Num gesto rápido, Harry enfia a cabeça pela janela do carro e puxa a chave da ignição. Então, exibe um sorriso convencido ao retirar a cabeça de dentro do carro e dar a volta até o lado do passageiro. Depois, abre a porta e pega as minhas duas bolsas do banco. Antes de fechá-la, ele diz:
- É vir comigo ou dormir num carro que não quer pegar. Você é quem sabe.
Com isto, ele bate a porta e se afasta casualmente, levando as minhas coisas para o seu carro e colocando tudo no banco de trás. Então, recosta na porta do motorista, cruza os braços sobre o peito e fica olhando para mim. O desafio fica evidente.
Eu seria teimosa o suficiente para conseguir achar uma solução para aquilo, se realmente não quisesse a carona. Mas aí é que está o problema: eu quero. Só de passar mais um tempo com ele, sem Marissa por perto, é como um presente dos deuses. Bem, isso não quer dizer que eu tenha algum plano para tentar roubá-lo da minha prima. Ou sequer que isso estaria ao meu alcance. Marissa reúne todas as qualidades desejáveis numa mulher. Ela é uma vaca irritante, mas é uma gata, rica, bem-sucedida, e tem um monte de contatos no mundo da advocacia em Atlanta.
Agora, vamos a mim: sou uma estudante-de-contabilidade-barra-atendente-de-bar-barra-filha-de-fazendeiro. Pois é. Roubar o Harry não é uma opção, mesmo se eu fosse do tipo que tentaria fazer uma coisa dessas. Por sorte, isto torna uma carona com ele algo ainda menos perigoso.
Depois de levantar o vidro, salto do carro e tranco a porta, antes de me dirigir ao interior sofisticado do BMW dele. Não faço nenhum comentário sobre o sorriso satisfeito que ele está exibindo quando senta-se ao meu lado. É melhor ele achar que ganhou a disputa.
- Afinal, foi tão difícil assim?
Tento manter um sorriso ligeiramente tolerante, contendo o meu entusiasmo.
- É, acho que não. Você não dá mole mesmo.
- Já me disseram isso.
- Não tenho a menor dúvida - murmuro. Quando ele vira a cabeça na minha direção, eu sorrio inocentemente. - O que foi?
Ele parece desconfiado.
- Pensei ter ouvido você dizer alguma coisa.
- Não. Eu não falei nada.
Sufoco um sorriso, enquanto ele dá a ré para sair do estacionamento.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Louca por você - Tom H.
RomanceQuando você conhece o charmoso e irresponsável Tom Holland, não imagina que resistir às suas investidas pode ser bem mais difícil do que você pensa. Harry, seu irmão gêmeo, também desperta o seu interesse. Responsável e bem-sucedido, ele é o oposto...