Capítulo 13

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    Dou uma conferida no marcador de gasolina. Pela metade. Não é esse o problema. Dou uma olhada nas luzes do painel. Tudo aceso e nos conformes. Não é bateria fraca. Fora isso, não faço a menor ideia do que verificar.

    Sinto-me completamente perdida, olhando para o volante, me perguntando o que vou fazer, quando vejo Harry atravessar em frente ao meu carro e se aproximar da janela. Eu abaixo o vidro.

    Tento sorrir, quando minha vontade é de chorar.

    - O carro não quer pegar? - pergunta ele.

    - Não

    - O que acha que deve ser?

    - Não faço ideia. Eu tenho ovários; portanto, tenho aversão a tudo o que é mecânico.

    Ele dá uma gargalhada.

    - Você é do tipo que só sabe colocar gasolina e trocar o óleo, não é?

    - Mais ou menos isso.

    - Vou dar uma olhada. Dá para levantar o capô? - pergunta Harry, enquanto arregaça as mangas da camisa.

    Nossa, até o antebraço do cara é sexy!

    Então, olho para a minha esquerda. Vejo o pequeno símbolo do capô. Ainda bem que pelo menos isso eu sei onde fica.

    Puxo a alavanca.

    Não sei se devo sair do carro ou ficar quietinha. Com objetivo de autopreservação, opto por ficar quietinha. Permanecer no carro, distante de Harry, reduz drasticamente a probabilidade de fazer ou dizer algo idiota. Isto sempre é bom.

    Pela fenda da dobradiça do capô, posso ver Harry mexendo em um monte de coisas, puxando mangueiras e fios e forçando algo para baixo. Então vejo-o sacudir as mãos e fechar o capô.

    Ele volta à janela.

    - Não consegui descobrir nada de errado a princípio, mas não sou mecânico. Parece que este carro que não vai andar durante um bom tempo. Quer que eu chame o reboque?

    Não consigo evitar um profundo suspiro de frustração.

    - Não, tudo bem. Faço isso depois de ligar para o trabalho.

    - Tem certeza?

    Abro o sorriso mais confiante que consigo, o que não é lá essas coisas, tenho certeza.

    - Sim, absoluta. Mas obrigada de qualquer jeito.

    - Quer que eu espere com você?

    O meu riso é amargo.

    - Não precisa. Eu prefiro levar bronca sem a presença de outras pessoas, se você não se importa.

    Ele me olha intrigado e fala:

    - Vai ter problemas no trabalho?

    Eu faço um gesto com a mão, demonstrando que está tudo bem.

    - Nada que não seja habitual.

    Ele acena com a cabeça e começa a se afastar, mas para de repente.

    Eu o vejo conferir a hora no relógio e, em seguida, levantar os olhos, como se estivesse pensando. Fica óbvio que sua mente está acelerada.

    - Você não quer uma carona?

    - De jeito nenhum! Você já tem planos com a Marissa. Além disso, meu trabalho fica totalmente fora do seu caminho. Salt Springs é totalmente fora do caminho de qualquer pessoa.

    - Nós íamos apenas sair com alguns colegas. Posso chegar um pouco atrasado. Não é nada importante.

    - Bem, pra mim é. Vou ficar bem. Agradeço a gentileza, mas vou ser obrigada a recusar.

    - Recusar? - diz Harry, piscando os olhos de um jeito malicioso. - E se eu insistir?

    - Pode insistir o quanto quiser. A minha resposta não vai mudar.

    Harry olha para mim, cerrando os olhos, e dá um meio sorriso com o canto dos lábios. Em seguida, caminha lentamente até a janela do meu carro e se debruça, colocando os braços no espaço aberto. Seu rosto está a poucos centímetros do meu.

    - Eu poderia forçá-la.

    A maneira como ele diz isso passa a impressão de algo misterioso e indecente, e totalmente irresistível. Fico imaginando o que eu gostaria que ele me forçasse a fazer.

    Há um termo repugnante para isso, quando um cara força uma mulher a prestar favores sexuais. Mas como é mesmo que se diz por aí? Se for consentido, não é estrupo. E, no meu caso, seria consentido. E como!

    Minha boca está tão seca que a língua fica presa no céu da boca. E o máximo que consigo fazer é balançar a cabeça, negativamente.

    Num gesto rápido, Harry enfia a cabeça pela janela do carro e puxa a chave da ignição. Então, exibe um sorriso convencido ao retirar a cabeça de dentro do carro e dar a volta até o lado do passageiro. Depois, abre a porta e pega as minhas duas bolsas do banco. Antes de fechá-la, ele diz:

    - É vir comigo ou dormir num carro que não quer pegar. Você é quem sabe.

    Com isto, ele bate a porta e se afasta casualmente, levando as minhas coisas para o seu carro e colocando tudo no banco de trás. Então, recosta na porta do motorista, cruza os braços sobre o peito e fica olhando para mim. O desafio fica evidente.

    Eu seria teimosa o suficiente para conseguir achar uma solução para aquilo, se realmente não quisesse a carona. Mas aí é que está o problema: eu quero. Só de passar mais um tempo com ele, sem Marissa por perto, é como um presente dos deuses. Bem, isso não quer dizer que eu tenha algum plano para tentar roubá-lo da minha prima. Ou sequer que isso estaria ao meu alcance. Marissa reúne todas as qualidades desejáveis numa mulher. Ela é uma vaca irritante, mas é uma gata, rica, bem-sucedida, e tem um monte de contatos no mundo da advocacia em Atlanta.

    Agora, vamos a mim: sou uma estudante-de-contabilidade-barra-atendente-de-bar-barra-filha-de-fazendeiro. Pois é. Roubar o Harry não é uma opção, mesmo se eu fosse do tipo que tentaria fazer uma coisa dessas. Por sorte, isto torna uma carona com ele algo ainda menos perigoso.

    Depois de levantar o vidro, salto do carro e tranco a porta, antes de me dirigir ao interior sofisticado do BMW dele. Não faço nenhum comentário sobre o sorriso satisfeito que ele está exibindo quando senta-se ao meu lado. É melhor ele achar que ganhou a disputa.

    - Afinal, foi tão difícil assim?

    Tento manter um sorriso ligeiramente tolerante, contendo o meu entusiasmo.

    - É, acho que não. Você não dá mole mesmo.

    - Já me disseram isso.

    - Não tenho a menor dúvida - murmuro. Quando ele vira a cabeça na minha direção, eu sorrio inocentemente. - O que foi?

    Ele parece desconfiado.

    - Pensei ter ouvido você dizer alguma coisa.

    - Não. Eu não falei nada.

    Sufoco um sorriso, enquanto ele dá a ré para sair do estacionamento.

    Sufoco um sorriso, enquanto ele dá a ré para sair do estacionamento

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Louca por você - Tom H.Onde histórias criam vida. Descubra agora