Capítulo 41

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    Depois de me vestir, vou até a cozinha para fazer um café. Fico surpresa quando ouço meu telefone tocar no quarto. Corri para pegá-lo.

    O meu estômago se contorce quando vejo o nome de Harry na tela do aparelho. O que dizer uma ligação tão cedo? Que estava comigo até há pouco tempo? Ou que teve uma noite de sono tranquila, o que significa que não esteve aqui?

    Deslizo o dedo na tela para atender.

    - Alô?

    Há uma pausa.

    - Acordei você?

    - Não, eu estava fazendo café.

    - Ah, bom. Não gostaria de incomodá-la. Imaginei que tivesse desligado o telefone e eu pudesse deixar um recado na caixa postal. Só queria me certificar de que você viu as flores que deixei.

    Sinto-me desanimada. Não parece algo que o cara que acabou de explorar todo o meu corpo com a língua diria.

    - Sim, eu as vi quando cheguei ontem à noite.

    - Ótimo. Quero que fique à vontade para ligar para mim se precisar de alguma coisa, enquanto Marissa estiver viajando.

    - Ah, tudo bem. É... obrigada.

    - Vou deixar você tomar seu café, então. Tenho que trabalhar. Reuniões logo cedo.

    - Certo. Obrigada pelas flores, Harry.

    - Foi um prazer, S/N.

    Ouço um sorriso na sua voz. Será?

    Meus braços permanecem arrepiados, mesmo depois de desligar. Só de ouvi-lo pronunciar o meu nome, me lembro da noite passada, daquela voz murmurando "S/N", no momento do orgasmo.

    Só que, obviamente, não era a voz do Harry. Era a voz do seu irmão.

    Não estou inteiramente surpresa por descobrir que era o Tom. O cenário inteiro combina mais com seu perfil do que com o de Harry. Só um bad boy entraria, sem ser convidado, na casa de uma garota e a acordaria para seduzi-la no próprio quarto.

    E só um bad boy poderia imaginar que eu não me incomodaria. Tenho que sorrir diante dessa conclusão.

    Ele é corajoso, admito.

    Mas ele tinha razão. Não me incomodei. Aliás, não me incomodei duas vezes. E provavelmente não teria me incomodado na terceira ou na quarta, se eu não tivesse caído no sono, completamente vencida.

    Tinha acabado de sentar à mesa da sala de jantar para ler um pouco antes da aula, quando o meu telefone toca novamente. Desta vez, a tela mostra o nome de Tom, mas a minha reação é a mesma. Sinto o estômago tremer de excitação.

    - Alô?

    - Bom dia, gata. Já está de pé?

    - Já - respondo, sem conseguir esconder o sorriso na voz.

    - Bem, seu carro está na oficina do meu amigo. Era mesmo o alternador.

    - Merda - resmungo, e meu entusiasmo matutino sucumbe à dura realidade de possuir um carro que só me dá problemas. - Tem ideia de quanto algo assim vai custar?

    - Para você? Nada. Ele me deve um favor.

    - Não posso deixá-lo fazer isso, Tom.

    - Suponho que vá tentar me  impedir? - fala com ironia.

    - Estou falando sério. Isso é demais. Não posso aceitar um favor desses.

    - Pode e vai. Além do mais, não vejo isso como um favor. Você vai me pagar.

    Meu sorriso volta e meu ânimo canta de alegria. Estou louca para ouvir o que ele tem em mente.

    - Ah, é?

    - Sim. Começando com um turno extra na semana que vem, se puder.

    Estou desapontada novamente. Isso não é tão sexy quanto eu esperava. Depois da noite passada, seguramente Tom sabe que eu ficaria mais do que feliz em pagar-lhe de todas as formas e posições. A menos que ele não seja o meu visitante noturno, afinal de contas.

    Que tipo de mulher da vida não sabe com quem dormiu na noite anterior?

    Reviro os olhos.

    E quem fala "mulher da vida"?

    Um nome vem à mente. S/M, minha mãe. Isso é típico dela. Balanço a cabeça e volto a me concentrar em coisas importantes. Como por exemplo, quem passou parte da noite passada fazendo cócegas nos meus ovários.

    Ao pensar nisso, a coisa que mais me incomoda é que nenhum dos dois se mostrou amoroso o bastante esta manhã para que eu pudesse determinar exatamente o culpado. Que coisa mais patética!

    Ah, meu Deus! Será que perdi o jeito? Será que sou ruim de cama?

    Quando ouço Tom pigarrear, percebo que ele está esperando a minha resposta.

    - Ah, é... Bem, farei o que puder para retribuir o favor, mas depende também do dia. Não posso ficar até muito...

    - Ah, você não vai ficar até muito tarde. É apenas um projeto contábil que eu gostaria que você visse. Só vou pedir para que não venha de coque nem de sapatos ortopédicos.

    Rio das piadinhas dele sobre as contadoras.

    - Certo. Acho que posso fazer funcionar a minha magia numérica sem as ferramentas do meu oficio.

    - Tenho certeza que sim - diz Tom, distraidamente. - De qualquer maneira, enquanto seu carro não fica pronto, você vai precisar de carona para a faculdade, certo?

    - Huum, certo. - Eu nem tinha pensado nisso. Esses caras realmente mexeram com a minha cabeça. - Acho que sim.

    - Em dez minutos estou passando aí para buscar você.

    Minha cabeça finalmente começa a funcionar e a pensar de forma racional. Se Tom me levar à faculdade, não terei como voltar para casa, a menos que eu chame um táxi, o que vai sair caro, já que terei de pegar um para ir ao trabalho e outro para voltar, durante todo o final de semana, até o meu carro sair do conserto.

    - Sabe de uma coisa, posso matar a faculdade hoje. Não tenho mesmo aulas muito importantes, no momento. Assim não terei que dar trabalho a você mais do que já dei.

    - Você não está me dando trabalho. Não é problema nenhum.

    - Eu realmente prefiro não te incomodar. Sério. A gente se vê à noite.

    - Vista-se. Espere por mim. Chego aí em dez minutos.

    Com isto ele desliga, me deixando sem escolha.

    Quase exatamente dez minutos depois, ouço o forte ruído da sua moto. Posso senti-lo na barriga, como se enviasse excitação para  o meu corpo de um modo físico. Por mais que eu tente manter distância de Tom, está claro que estou entrando num terreno perigoso. E a pior parte disso é achar que não quero parar.

    Não espero que ele venha até mim. Em vez disso, saio para encontrá-lo, trancando cuidadosamente a porta antes de sair.

    Tom está sentado na sua reluzente moto preta e cromada. Sua calça, jeans para variar, é apertada nas pernas e sua camiseta, branca e simples, se ajusta ao peito. O cabelo castanho escuro está desgrenhado, como sempre, me deixando louca para passar os dedos por seus fios. Mas é o seu rosto que me faz perder o fôlego. Ele é mais bonito do que qualquer homem que já vi na vida real, e seus olhos e seu sorriso, hoje, têm algo que parece incendiar o ar entre nós.

    Embora conheça o risco, quero pular de ponta-cabeça no meio das chamas.

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Louca por você - Tom H.Onde histórias criam vida. Descubra agora