Capítulo 34

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Harry

    Eu me afastei da Marissa de propósito, para não ter que dar de cara com a S/N. Além da possibilidade de destruir os meus planos completamente, essa garota também não merece os problemas que fazem parte da minha vida. Ela não pareceu muito chocada quando falei sobre o meu pai, mas isso é somente a ponta do iceberg. Bem, talvez não a ponta, mas é apenas uma porção do caos que compõe a minha vida.

    Porém, como de hábito, Marissa começou a ficar aborrecida e a exigir atenção; portanto, aqui estou, tentando acalmá-la durante o café da manhã. Dou uma olhada no relógio. Espero não dar de cara com a S/N, de jeito nenhum. Se não me engano, lembro de ter ouvido a Marissa dizer que ela tem aula na parte da manhã, às segundas e quartas. Então preciso ir embora antes que ela se levante. Vê-la só vai tornar mais difícil a decisão de me manter longe. Há um limite para um homem resistir à pressão antes de ceder, apesar das consequências.

    - Se não fosse importante, com certeza ele não estaria pedindo que eu fosse - diz Marissa.

    Tenho certeza de que se trata de algo que eu deveria estar prestando atenção, e não ignorando, enquanto penso em sua prima.

    -  Desculpe, ir aonde?

    Ela faz uma careta.

    - Qual é o seu problema? Eu quis que você viesse aqui para passarmos um tempo juntos antes de viajar, e não para ficar falando sozinha enquanto você fica olhando o café.

    Suspiro.

    - Desculpe, amor. É que não consigo parar de pensar naquele caso que o Carl deixou nas minhas mãos.

    Eu pouso a caneca e pego as mãos dela. Mãos frias como gelo.

    Cacete, isso tem tudo a ver com ela.

    - Fale novamente. Sou todo seu - declaro com um sorriso.

    -  Papai quer que eu vá com dois funcionários mais antigos à Grand Cayman, para dar uma olhada naquelas contas. Espero que com isso ele me deixe participar do projeto inteiro.

    Posso entender a sua empolgação. E invejo a oportunidade. Ela é três anos mais velha do que eu, portanto já é formada e exerce a advocacia, enquanto eu ainda estou empacado num estágio pelos próximos meses.

    - Isso é ótimo! Estou muito orgulhoso de você. Sentirei saudades, claro, mas quando você vai?

    - Amanhã. - Ela ainda está aberta fazendo beicinho.

    - E quanto tempo vai ficar fora?

    - Pelo menos duas semanas. Mas pode ser um pouco mais.

    - Bem, isso nos dá uma boa razão para comemorarmos quando você voltar, porque vou  matar as saudades e você terá boas notícias. Tenho certeza.

    Eu a puxo contra meu peito e ela senta no meu colo. Então passa os braços em volta do meu pescoço e me beija. Eu sei que só teria que carregá-la para o quarto e dar uma rapidinha matinal, mas não faço isso. Não sou tão cruel e insensível, porque embora ela esteja no meu colo, se contorcendo e me beijando, estou pensando naquele corpinho delicioso, de olhos c/o e cabelos c/c, que está dormindo num dos quartos. E isso não é legal.

    Marissa inclina-se para trás e me olha intrigada.

    - Você ainda parece distraído.

    - Não, está tudo bem. Sério. Só tenho que ir embora. Eu tinha que redigir uns documentos há mais de uma hora.

    Ela sorri.

    - Está dizendo que matou o trabalho para passar a manhã comigo?

    - Sim. É o que estou dizendo.

    Ela assume uma expressão sugestiva, aperta o corpo contra  o meu e se esfrega. Para não ser indelicado, e atendendo à solicitação, eu pego seus pequenos seios e acaricio seus mamilos enrijecidos com os meus polegares. Suas pálpebras se fecham um pouco e eu me dou conta de como isso vai acabar.

    Neste instante, ouvimos alguém pigarrear. Eu e Marissa levantamos os olhos e damos de cara com S/N, na porta, parecendo sonolenta, e ao mesmo tempo, aterrorizada.

    - O que foi? - pergunta Marissa de forma brusca. - Pegue o seu café e suma. Estamos um pouco ocupados.

     Então se vira para mim a fim de continuar do ponto onde paramos, mas eu a faço parar.


    - Realmente preciso ir - justifico.

    Sem dar-lhe uma chance de dizer alguma coisa, eu a tiro rapidamente do meu colo e me levanto. Pelo canto do olho, posso ver S/N me fitando. Evito seu olhar a todo custo. Entretanto, posso sentir que está fuzilando meu coração. Não tenho a menor dúvida de que ela está pronta para vomitar veneno e ódio por todo o chão da cozinha. O que ela não sabe, no entanto, é que me odeio dez vezes mais do que ela poderia me odiar pelo que fiz, pelo que quase aconteceu.

    - Mas espere - diz Marissa. - Eu queria saber se você pode buscar o meu carro na oficina, segunda-feira. Vou deixar as chaves com você.

    - Tudo bem - respondo apressadamente, agarrando a sua mão e arrastando-a para fora da cozinha.

    Se S/N quis que eu me sentisse culpado, missão cumprida!

    - Te ligo mais tarde - digo, antes de dar-lhe um beijo rápido. - Talvez possamos jantar esta noite. - Estou pensando em dizer qualquer coisa para sair dali.

    - Não posso! Vou passar a noite com a mamãe, e de manhã vou para o aeroporto com o meu papai. Espere um pouco. Vou pegar as chaves do carro. Posso pedir a limusine depois.

    Ela sai correndo, me deixando à sua espera na porta. Estou torcendo para que S/N fique imóvel. Mas ela não fica, naturalmente.

    Eu a vejo se aproximar da porta. Embora contra a minha vontade eu me viro para olhar para ela. Nos seus olhos estão estampados constrangimento, decepção e vergonha. Mas há também a faísca do que há entre nós, seja lá o que for. Não há como negar que rola uma atração mútua.

    Muito, muito forte.

    Ouço a voz de Marissa. Ela está falando no telefone com alguém, então caminho em direção à S/N. Realmente não sei o que dizer, portanto me limito a ficar diante dela. S/N é mesmo maravilhosa, até quando acorda de manhã.

    Antes de me dar conta do que estou fazendo, deslizo a ponta do dedo pelo seu rosto macio. Seus olhos se fecham, o que me faz querer beijá-los.

    - Desculpe - diz Marissa ao atravessar o corredor. Recuo e vou até a porta, parando no exato local onde ela havia me deixado. Em seguida, lanço os olhos rapidamente à S/N. Há um misto de emoções em sua expressão. Emoções que não posso identificar facilmente. A menos que seja a mesma coisa que estou sentindo.

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Louca por você - Tom H.Onde histórias criam vida. Descubra agora