Capítulo 20

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Tom

    Raramente odeio ter que trabalhar, mas de modo geral também não anseio tanto assim por isso.

    Dou um tempo até o salão encher e vou verificar como S/N está se saindo. Fiz questão de dar um tempinho para que ela se sentisse mais à vontade antes de aparecer, para que não ficasse nervosa.

    Sei que ela me quer. Pelo menos acho que sim. Mas tenho a impressão de que ela não quer me querer. Isso por si só já desperta o meu interesse.

    Não me importo com esse nosso jogo de gato e rato. Estou disposto a disputá-lo com tudo e levá-la para a cama. Na maioria das vezes, tenho boa intuição em relação às mulheres, e algo me diz que a espera vai valer a pena.

    Quando entro no salão, olho através do mar de cabeças em movimento e meus olhos vão diretamente ao bar. Na direção de S/N.

    Dá para ter uma visão bem clara, em parte porque estou um pouco acima da pessoa mais baixa entre nós, e em parte porque há uma pequena roda de homens em volta dela.

    Ela está sorrindo para um cliente, enquanto mistura rum com Coca-Cola. Fico observando enquanto ela pega o cartão do cara e o passa pela máquina, como se fizesse aquilo todos os dias, há vários anos.

    Ela é boa. Estou satisfeito. Teria dado o emprego a ela de qualquer maneira, mas é bom saber que ela faz por merecer.

    Ah, e como!

    Minha mente quer fantasiar a imagem de agarrá-la no bar quando a boate ficar vazia, de tirar sua roupa e lamber sua pele macia. De forma implacável, rebato os pensamentos e me concentro novamente no assunto em questão: o teste. Ela nunca precisará saber que ele é desnecessário. Ela seria contratada de qualquer maneira. Mas estou fazendo isso, mesmo assim, mais para o meu prazer do que qualquer outra coisa.

    Abro caminho pela multidão e me dirijo até onde ela está, no final do longo e reto balcão. Então paro na borda do semicírculo de homens que a rodeiam e espero até ela levantar os olhos.

    Ao me ver, percebo que ela para. É um gesto quase imperceptível, tanto que duvido que alguém tenha notado. Mas eu noto. E isso é tudo que importa.

    Ela passa a língua nos lábios, nervosa, e sorri. Retribuo o gesto com uma piscadela, só para ver o que ela fará. S/N faz outra pausa. Fica vermelha e desvia o olhar. Então, ela franze o cenho por alguns segundos. Acho que nem se dá conta do que está fazendo. Caramba, eu adoro isso! Ela reage a mim, mesmo quando não quer.


    Não sei por que ela se esforça tanto para resistir. Não sou um cara tão ruim. Sou saudável e em forma, dono de um negócio bem-sucedido, não tenho dívidas e sou muito bonito. Pelo menos é o que eu ouço.

    Eu me aproximo do bar, apoiando um cotovelo sobre o balcão e me viro para o grupo de rapazes.

    - Então, o que vão beber? Temos uma nova bartender que precisa ser testada.

    A empolgação é grande à minha volta. S/N já tem um fã-clube. Ela vai transformar a minha boate num sucesso. Ouço coisas como: dançar, cantar e se jogar nos braços do público, pipocando aqui e ali. Então duas palavras se destacam em meio às outras, e logo todos formam um grupo e começam a gritar:

Louca por você - Tom H.Onde histórias criam vida. Descubra agora