Capítulo 37

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    Há um brilho de desafio em seus olhos. Mas não sei se estou pronta para tudo que ele está oferecendo. Será que posso me aventurar sem deixar meu coração se envolver?

    Eu pigarreio e olho para a garrafa de cerveja, desistindo de beber simplesmente por instinto de autopreservação.

    Inteligente como ele é, percebe a mudança no meu humor.

    - Então - diz Tom da forma mais tranquila possível -, me fale tudo a respeito de você.

    Eu dou de ombros.

    - Não há muita coisa a dizer. Sou de Salt Springs. Cresci na fazenda do meu pai e estou no último ano da faculdade.

    - Nossa, uma vida reduzida a duas frases. Não sei se fico impressionado ou deprimido. Houve alguns namorados e algumas festas no meio dessa história? Ou...

    Sorrio.

    - Sim. Houve um pouco de cada. Não fui uma criança rebelde, mas também não era introvertida. Apenas comum, eu acho.

    - Não há nada de comum em relação a você - diz Tom, baixinho.

    Meus olhos voam de encontro aos dele. Ele não está sorrindo e não parece estar me provocando, o que me faz ruborizar.

    - Obrigada.

    Fitamos um ao outro por alguns segundos, diretamente, até o clima começar a crepitar com a energia que há entre nós. Neste instante, eu desvio o olhar.

    - O que você está estudando?

    - Contabilidade.

    - Contabilidade? Contabilidade é para solteironas que usam coque e têm um armário cheio de sapatos ortopédicos. Por que escolheu essa carreira?

    Rio da sua visão a respeito da profissão.

    - Sou boa com números. Além disso, com um diploma de contadora, vou poder ajudar meu pai com os negócios na fazenda. Faz todo o sentido.

    - Quer dizer que está fazendo isso pelo seu pai?

    - Em parte, sim.

    Ele acena com a cabeça, lentamente. A expressão no seu rosto indica desconfiança, mas ele não diz nada. Apenas muda  de assunto.

    - E a sua mãe?

    - Ela foi embora. Há muito  tempo.

    Ele me olha meio confuso, mas novamente não diz nada. É um cara muito perceptivo.

    - E o namorado bad boy?

    - Bad boy?

    - Sim. O tipo que você evita a todo custo, pelo que parece.

    - Ah, sim. - Eu rio. É um único riso amargurado. - Huum, caiu num triturador de madeira? - pergunto, esperando que perceba a indireta de que realmente não quero falar sobre isso, também.

    Então faz uma pausa, com o copo a caminho da boca, como se avaliasse se estou falando sério, e logo sorri e toma um gole da bebida.

    - Coitado. E o anterior?

    - Foi engolido por um  tubarão?

    - E o anterior?

    - Raptado por um circo itinerante?

    Tom dá uma risada.

    - Nossa! Sua vida parece lenda urbana.

    - Atenção futuros pretendentes, fiquem alertas.

    - Estou disposto a correr o risco - diz com uma piscadela.

    Meu estômago reage e o meu coração dá uma acelerada que é, por si só, uma enorme bandeira vermelha.

    Muda de assunto! Muda de assunto!

    - E a sua família? - Minha pergunta esfria o seu tom de gozação, consideravelmente.

    - Uma longa história, horrível, terrível demais para seus ouvidos delicados.

    - Caramba, vai ser assim mesmo? Quer dizer que você pode fazer todos os tipos de perguntas, mas eu só recebo isso em troca?

    Estou brincando, mas não totalmente. Quero mesmo que ele responda a algumas perguntas, principalmente enquanto estou de posse do meu bom senso. De alguma forma, pelo menos.

    - A forma problemática como fui criado e meus contatos suspeitos poderiam fazê-la tremer na base. Você sairia correndo, com bota e tudo - diz Tom com um sorriso não exatamente discreto.

    Eu me viro no banco e abaixo os olhos.

    - Não estou usando botas.

    - Isso eu posso ver - diz Tom, abaixando-se para passar a mão na minha perna. - Nem meia-calça.

    Uma bolha de ar se forma na minha garganta, me impossibilitando de respirar. Um arrepio sobe pela minha perna diretamente para minha calcinha.

    Ele levanta a cabeça, com um brilho no olhar. Sei o que quer. E sei que ele sabe que eu também quero. Está nos seus olhos. Não tenho motivo para tentar negá-lo. Mas o que fazer a respeito?

    Na minha indecisão, viro as pernas em direção ao bar, longe da sua mão. Ele sorri. Demonstrando ter entendido meu gesto. Mas vai em frente.

    Por enquanto.

    Então termina a sua bebida em um só gole, e se vira para mim.

    Afasto minha cerveja.

    - Está pronta?

    Isso é o que chamo de chegar junto!

    Aceno com a cabeça. Não sei muito bem com o que acabei de concordar, mas cada célula no meu corpo está cheia de expectativa.

    - Vamos - diz Tom com um gesto de cabeça e um sorriso diabólico. - Vamos tirar você dessa agonia.

    Não consigo deixar de sorrir.

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Louca por você - Tom H.Onde histórias criam vida. Descubra agora